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    A Selecção e o Principio de Peter

    REGINALDO SILVA (DR)
    REGINALDO SILVA (DR)

    Angola sénior foi a Abidjan buscar o que sempre foi seu, doze afrobasketes depois de ter começado a ganhar a competição continental, com a excepção do desastre de Antanarivo, que, justiça seja feita, não chegou bem a sê-lo, pois sempre fomos vices, o que não humilha ninguém. Sinceramente, sempre pensei que o ciclo vitorioso de Angola tinha chegado ao fim e que só mesmo, a muito custo, a selecção de todos nós conseguiria trazer de volta o troféu, perdido numa atabalhoada campanha dirigida por um francês, que de castigo foi abandonado no local, sem direito a bilhete de regresso. Foi pelo menos o que constou.

    Como não sou bem um atento observador/especialista das lides desportivas, onde o basquetebol ocupa o lugar central nas minhas preferências, não tinha uma ideia mais objectiva do actual estado do basquetebol continental. Nas minhas contas e tendo apenas como referência o facto de Angola não ter conseguido revalidar o título no Madagáscar, estava a sonhar com uma outra África mais competitiva, mais evoluída, mais poderosa.

    Pelo nível dos adversários que Angola foi engolindo um após o outro, até chegar àquela “desgraça” chamada Egipto, em termos competitivos o basquetebol africano, com Angola incluída, evoluiu muito pouco para não dizer que a modalidade estagnou, tendo naturalmente como referência o que se passa nos outros continentes. Pelo que me apercebi, a crítica da especialidade parece ter sido unânime em considerar que o basquetebol nacional em termos técnicos já viveu melhores tempos, já foi mais brilhante, já nos convenceu mais.

    Pelo que pude ver, de facto esta selecção não brilhou, não atingiu o chamado ponto de rebuçado/ excelência, mas ganhou e bem, sem qualquer dúvida, tendo trucidado todos quantos se lhe atravessaram no caminho. Com a honrosa excepção dos marfinenses, os seus adversários também não ajudaram muito a selecção rubro-negra a brilhar, ao ponto deste “Afrobaskete” ter tido uma falsa final que devia ter sido anulada, pois a outra equipa não teve nível e muito menos mérito para chegar onde chegou.

    Do ameaçador Egipto dos velho/ bons tempos, sobrou uma equipa que é uma sombra triste do seu passado e que hoje parece estar igualmente a ser influenciada/condicionada pela prolongada crise política em que o país dos faraós vive mergulhado, sem um fim à vista. Se o último jogo tivesse sido com a Costa do Marfim e apesar de ter sido derrotada por Angola naquela final antecipada, teríamos, certamente, vivido outras emoções.

    A nossa vitória seria celebrada de forma mais entusiástica e o basquetebol continental teria ganho muito mais. O Egipto está mesmo mal e ao que parece, em tudo. Com a Taça em casa, de onde pelos vistos nunca deveria ter saído, o que significa dizer que o ciclo vitorioso de Angola não terminou, tendo sido apenas interrompido por um “Afrobaskete” de triste memória, há agora que encarar os próximos desafios além continente com outras ambições.

    Onze “Afrobasketes” depois, Angola não pode continuar a marcar passo a nível internacional, onde o nosso lugar no ranking FIBA não nos pode orgulhar, por mais explicações que encontremos para este pálido e contumaz desempenho. A manter-se esta situação “terminal”, que já leva muitos anos, temos de chegar a algumas conclusões mais definitivas quanto ao nível (ou à sua falta) do basquetebol africano, onde somos os maiores e os melhores. Não se pode continuar a ser nota 10 num lado e a apanhar zero noutro.

    Ou pode-se? Claro que sim, pois é exactamente isto que tem estado a acontecer ao basquetebol africano em todos estes anos de competição mundial e olímpica, com a bandeira angolana a representar as cores de todo um continente. Uma das conclusões mais óbvias, é que o continente, como acontece noutras esferas, no basquete também está condenado a ser o lanterna vermelha da competição planetária, sendo a responsabilidade desta colocação uma marca feita em Angola. No basquete, o campeonato de Angola já não é mais africano, pelo que e sem pretender de forma alguma esbater/ diminuir o entusiasmo que nos voltou a atacar de forma positiva a autoestima, há a partir de agora que traçar novas metas. Não falo em ganhar.

    Nada disso. Nem pouco mais ou menos. Nos campeonatos nem todos os que não ganham perdem. É isto que o nosso basquete agora tem de conseguir fora das fronteiras continentais. É, sobretudo, não perder a face, demonstrando outras capacidades, outras ambições no contexto internacional. De outra forma e apesar desta vitória não será possível a rigor dizer que o basquetebol angolano tem estado a evoluir e podemos estar diante de uma situação em que no limite pode ser aplicado à selecção nacional o conhecido “Principio de Peter”.

    De acordo com esta teoria, somos promovidos até a um certo nível em que nos tornamos incompetentes para desempenhar as novas funções. Mesmo assim recusamo-nos a deixar o lugar. No caso em apreço, Angola como em África já não tem ninguém para a substituir vai manter-se no cargo. Ponto final. (opais.net)

    Por Reginaldo Silva

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