A primeira testemunha de acusação, uma mulher, suposta sobrevivente de um ataque de fogo posto contra uma igreja, depôs hoje no julgamento do Vice-Presidente queniano William Ruto, em Haia, no Tribunal Penal Internacional (TPI).
William Ruto foi acusado de crimes contra a humanidade, com alegações de que ele orquestrou a violência após as eleições disputadas em 2007.
O Tribunal decidiu que a identidade da testemunha não deve ser revelada, para sua própria segurança, sendo apenas designada por número 536, pois a Procuradora-Chefe Fatou Bensouda revelou anteriormente que as testemunhas foram intimidadas na tentativa de impedi-las de prestar declarações.
“Ataque à igreja”
O Procurador Anton Steynberg disse ao tribunal que “22 vítimas e testemunhas serão chamadas a depor no julgamento de William Ruto e irão descrever os ataques”, informou o jornal Daily Nation, do Quénia.
O ataque de fogo posto terá acontecido em Janeiro de 2008, contra a Igreja de Kiambaa no vale do Rift, uma das áreas afectadas pela violência.
Uma multidão incendiou a igreja onde pessoas se haviam refugiado, queimando 36 delas, tendo os corpos ficado irreconhecíveis.
William Ruto foi especialmente acusado de formar um exército de jovens Kalenjins para tomar o poder.
William Ruto nega as acusações, bem assim como outro acusado, o jornalista Joshua arap Sang, chefe de uma estação de rádio em idioma Kalenjin.
O advogado de defesa de William Ruto, Karim Khan, alegou que a acusação construiu o seu caso “numa conspiração de mentiras”.
Na sequência das referidas eleições, registaram-se confrontos entre aliados do então presidente, Mwai Kibaki (que teria sido reeleito, segundo resultados que foram dados como manipulados por observadores internacionais no país), e os grupos de oposição, principalmente do Movimento Democrático Laranja.
Em seguida, o conflito tomou conotações étnicas, com os principais grupos do Quénia – especialmente Kikuyus, Kalenjins – envolvidos em atentados e ataques de represália.
O presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, também acusado no âmbito deste processo. O TPI queria julga-lo em Novembro. Ele também nega as acusações de violência após a eleição de 2007. E, tudo indica, não comparecerá em Haia no TPI, uma vez que o Parlamento queniano retirou o país da instituição penal internacional, e que, ele mesmo, declarou que não seria possível que ele próprio e Ruto estivessem em Haia ao mesmo tempo, criando um “vácuo de poder”.
Uhuru Kenyatta e Ruto William Ruto estavam em lados opostos durante as eleições de 2007, mas formaram uma aliança para ganhar as eleições em Março desse ano.
Nos confrontos, mais de 1.000 pessoas morreram e cerca de 200.000 foram deslocadas forçadamente. (Portal de Angola/BBC)