A Ilha do Cabo, tida como um dos melhores cartões de visita da cidade de Luanda, continua a ser uma atracção para muitas pessoas que, ao fim-de-semana, não resistem ao forte calor e ao cansaço de uma longa semana laboral e escolhem aquela que é a praia mais próxima para mergulhar, almoçar e descontrair com familiares ou amigos.
Com uma deslumbrante obra de requalificação, que a tem tornado cada vez mais atractiva e aconchegante para quem a visita, as praias da Ilha também têm representado um perigo para a vida daqueles que, por desconhecimento ou teimosia, insistem em mergulhar em zonas onde foram colocadas placas de proibição de nadar ou mergulhar.
Júlio Costa, de 40 anos, aproveita o domingo para passear com o filho na Ilha. Não resiste à água salgada e decide ensinar o filho a nadar, exactamente numa zona onde está afixado o sinal de proibição, pondo em perigo a sua vida e a do filho.
Júlio diz-nos que não tinha visto o sinal de proibição, até porque “há mais pessoas a frequentarem a zona. Talvez por isso, não tenha prestado atenção aos sinais à minha volta. Mas agora que me avisaram, vou-me retirar e não volto a mergulhar nesta zona”.
António Jacinto, que vê e tem sólidos conhecimentos dos sinais de proibição, mergulha teimosamente em zona proibida e diz que prefere fazê-lo ali, porque é mais próximo da sua casa e porque no lado oposto da costa não há tanta atracção.
“Hoje é domingo, dia de descanso, e vim só mesmo para dar uns mergulhos rápidos e recuperar as energias para aguentar a semana de trabalho. Como as praias da ilha estão mais próximas da cidade e deste lado da costa há mais gente, decidi ficar aqui com a minha família, e estou a controlar as crianças para não mergulharem mais fundo”, esclareceu.
De 35 anos, António Jacinto conta à nossa reportagem que a dificuldade em alcançar outros locais de lazer, particularmente devido à sua distância, faz com que muita gente prefira recorrer a estas áreas. “Sei do perigo que enfrento ao vir para esta zona proibida, porque aqui é fundo e tem lama. Mas é o local mais próximo e ir mais longe cansa. Então, prefiro ficar aqui e redobrar os cuidados.”
Augusta Maria, de 47 anos, vive na ilha e vende bebidas na praia há 10 anos. De quando em vez, decide dar um mergulho, mas desde que foram postos os sinais de proibição nunca mais o fez naquela área.
Muitas pessoas, por não escutarem as orientações dos bombeiros e dos próprios moradores da Ilha, entram vivos e só de lá saem mortos depois de dois ou três dias e com ajuda dos bombeiros.
Segundo Augusta Maria, as pessoas que mais ignoram os sinais de proibição são as provenientes de outros bairros. Os moradores da ilha, que já conhecem bem a área, não se atrevem, “porque aqui morre mesmo muita gente e eu acompanho isso”.
A título de exemplo, Augusta Maria disse que na semana passada morreu afogado um jovem de 28 anos que vivia no município do Cazenga. Ele e os amigos negligenciaram as placas de proibição e os avisos de alguns moradores. Um deles acabou por morrer e só apareceu no dia seguinte, no outro lado da costa.
Lixo ainda faz parte da praia
Apesar dos constantes apelos feitos com o objectivo de tornarem as praias limpas e de a administração municipal da Ingombota colocar nas praias baldes de lixo, muitos banhistas, insistentemente, depois de comerem ou beberem, deitam o lixo para o chão.
Marina António, moradora da ilha que vai à praia muitas vezes para apanhar sol, diz que muitos banhistas deitam lixo para o chão de propósito. “Nós, enquanto moradores, chamamos à atenção, mas eles dizem que é trabalho do governo manter a cidade limpa e se isso nos incomoda, então que limpemos nós as praias”.
Para ela, é necessário que a polícia esteja mais presente para punir severamente todos aqueles que teimosamente insistem em deitar o lixo para o chão, porque põem em perigo a vida até daqueles que primam pela higiene. “E com as chuvas que já vão começar a cair, todos nós corremos o risco de ficar doentes”, acrescentou.
O porta-voz do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, Faustino Sebastião, confirma que as pessoas que morrem por afogamento naquela zona, muitas vezes é mesmo por negligência, por ignorância das placas de proibição, havendo mesmo aqueles que as arrancam para deitar fora e aproveitarem os ferros.
Faustino Sebastião salienta que, no último fim-de-semana, os bombeiros procederam ao salvamento de duas jovens que estavam prestes a afogarem-se, uma na praia da Chicala e outra perto do ponto final. Tudo porque ignoraram os sinais de proibição. Por isso, volta a pedir aos banhistas para respeitarem as placas de sinalização colocadas pelos bombeiros e autoridades em algumas zonas da Ilha de Luanda, Morro dos Vedados e Museu da Escravatura (Samba), entre outras, para protegerem as suas próprias vidas.
“Ainda assim, o Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros mantém nestas praias os seus efectivos de forma regular, para impedir que mais pessoas morram por afogamento. E, em parceria com a administração municipal da Ingombota, realizamos regularmente campanhas de sensibilização para que as pessoas estejam cada vez mais informadas”, disse.
Alexa Sonhi
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: Jornal de Angola