Li, recentemente, um post do escritor e jornalista José Luís Mendonça, segundo o qual “o português angolano não existe”. Para este grande escriba, nós, defensores da variante angolana do português, somos incapazes de escrever um texto totalmente à moda angolana, ou seja, sem incorporar marcas do português de Portugal na nossa comunicação escrita e, até mesmo, em contextos (in)formais.
O jornalista em questão é daqueles que sublinham que se a Linguística é, de facto, bué importante, bué significante e de imprescindível conhecimento científico, por que então nós – os defensores da Variante Angolana do Português (VAP) – não redigimos os nossos posts ou textos nesta variante – português angolano – que tanto defendemos como culta?
Isso, para ele, seria uma incoerência, um contrassenso, ou seja, ensinar numa língua – português angolano (PA) – e escrever noutra – vernácula.
Devido ao facto de a VAP não estar ainda oficializada ou reconhecida, o escritor nega a sua existência, apesar de termos, há anos, um português adaptado ao nosso estilo, fruto, sobretudo, digo, das marcas das nossas línguas Bantu, aspectos que fazem o PA distinguir-se da língua do colonizador.
Negar a existência da VAP, porque não está, por enquanto, oficializada ou institucionalizada, é, na nossa humilde forma de pensar, o mesmo que negar a existência de uma palavra, sob pretexto de que não está dicionarizada. Dito de outro modo, defender que o PA não existe, porque não está institucionalizado, é o mesmo que defender que uma palavra só existe se constar dalgum dicionário e, caso não, é inexistente..
Nas duas primeiras, deveríamos convencer José Luís Mendonça, por exemplo, de que já temos um PA como língua, a ver-se pelos instrumentos descritivos, e até normativos, que o reapresentam da maneira mais honesta e real possível.
“NÃO SERIA MAIS INTERESSANTE REFERIRMO-NOS À NOSSA LÍNGUA COMO «ANGOLANO», EM VEZ DE «PORTUGUÊS ANGOLANO»”?
Seria, sim, mais interessante referirmo-nos à nossa língua como «angolano», em vez de «português angolano», mas espanta-me, ainda, que não exista nada que se faça em sociedade que não seja de forma política.
Dito de outro modo, caso desejemos apagar o «português» e ficar só o «angolano», a decisão da questão será (pasmem!) eminentemente política. Teríamos, para tal, de enviar uma proposta de lei para a Assembleia Nacional, a solicitar que a nossa língua passe a chamar-se «angolano», referindo-se à mesma ideia: o português falado no nosso território .
Em todo o caso, o importante é, por enquanto, a distinção entre o português europeu (PE) e o PA, bem como as autonomias da língua e a nossa diferenciação do PE, com o PA, não será como a diferença entre o inglês americano e o inglês britânico . Sim, porque, para alguns estudiosos, e chamo aqui Bagno, cada país tem a sua história da formação económica, social e linguística.
O contacto linguístico entre o português e as nossas línguas Bantu é o que configura o PA, que é o conjunto de todas as variantes do português, faladas nas 18 províncias.