Os escritores Cristóvão Neto e John Belas (Jorge Marques Belas) acreditam que a relação entre a antiga e a nova geração de escritores é nos nossos dias homogénea. Os homens de letras fizeram esta afirmação à margem das Noites de Poesia, um projecto da Fundação Arte e Cultura, realizado na quarta-feira, na sede da Fundação, Mutamba.
“O conflito de gerações existe de facto porque resulta da época em que vivemos, mas isto não deve funcionar como entrave no relacionamento, na cooperação, na vivência diária”, disse Cristóvão Neto.
O autor entende que a relação entre as duas gerações constitui “um conjunto de forças, de vectores que se cruzam ao mesmo tempo que se distanciam como é a vida”.
“A vida é feita de encontros e desencontros e não há mal nisso. É preciso olhar com uma certa tranquilidade nestes tipos de fenómenos. Eu sou daqueles que tem muita esperança. Por isso é que estou a vontade com os jovens, com as crianças e com as pessoas de 70 anos”, disse.
Para John Belas, a relação entre as duas gerações é homogénea na medida em que, justifica “estamos a ver muita nova geração a seguir as pegadas da velha geração”.
“Tem que a ver referências porque uma geração é feita de forma cronológica e não de forma dispersa. Começamos a ver agora a nova geração a declamar os poemas de quem é já consagrado. Quer dizer que já estão a ver uma pessoa consagrada como referência sua e, se assim continuarem, é provavelmente que estejamos no bom caminho e que estes exemplos destes jovens sigam-se por outras associações juvenis a nível de todo país”, debitou.
A reclamação do factor qualidade dos livros produzidos nos nossos tempos, constitui, Segundo Cristóvão Neto, um fenómeno complexo cuja discussão, análise não deve ser feito de ânimo leve.
“As culpas estão distribuídas, quer a geração precedente, quer a nova geração, culpa das próprias escolas etc. Mas eu também olho com alguma tranquilidade. Acompanho jovens a escrever muito bem, muito melhor do que muitos escritores do passado. Mas também há muitos jovens a escreverem muito mal. O tempo depois se encarrega de separar o trigo do joio.
Alguns se empenharão com força, aprenderão. Deixai os jovens caminhar, o farol é sempre a esperança. A esperança de que amanhã vai escrever melhor, a esperança de que amanhã terás mais lucidez para escrever o melhor poema”, vaticina Cristóvão Neto.
Fundação Arte e Cultura segue com homenagens
A exemplo de outras edições das Noites de Poesia, projecto literário da Fundação Arte e Cultura, o escritor Cristóvão Neto foi homenageado com música, declamação de poesia e teatro.
“Estou satisfeito pela homenagem de Cristóvão Neto. Espero que a Fundação continue a fazer mais homenagens para valorizar os homens das artes-letras angolanas, ultimamente poucos valorizados. Mas acredito que não é porque não têm valor. São apenas poucos atendidos neste mosaico cultural presente da nação”, disse John Belas.
Para John Belas, as homenagens fazem com que a juventude sinta-se cada vez mais ávida.
“Então penso que acções como estas da Fundação Arte e Cultura devem ser apoiadas para que a nação perceba que nenhuma sociedade conseguiu desenvolver sem a educação e nunca se faz educação, em parte nenhuma, sem livros; e não podem existir livros se não existirem escritores. Daí a importância do escritor senão a peça fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Cristóvão Neto encarou a homenagem com muita satisfação. “Estar com a juventude é sempre muito agradável. Rejuvenesce as forças, aprendemos a viver coisas de que nos tínhamos esquecidos, recuperamos algumas energias e, portanto, é sempre reconfortável estar com a juventude”, disse.
(Nota enviada ao Portal de Angola com pedido de publicação)
