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    FNLA: Cortar o ciclo da crise

    (Foto: D.R.)
    (Foto: D.R.)

    O diálogo de surdos volta a ensombrar a recta final da preparação do anunciado congresso da FNLA que os seus mentores pretendem que seja de “unidade e reconciliação interna”

    Partidários de Ngola Kabangu advertiram esta Quarta-feira, em Luanda, que o congresso que a direcção da FNLA marcou para este mês pode não vir a ser reconhecido, se não for antecedido de um diálogo directo entre as lideranças das duas facções partidárias.

    O militante André Kudizemba, membro da comissão negocial criada pelo antigo presidente Ngola Kabangu, disse a este jornal que este grupo decidiu ensaiar um “exercício de última hora”, visando convencer Lucas Ngonda e seus partidários a encontrarem-se antes de o conclave ter lugar.

    Na sequência de tal “exercício”, André Kudizemba revelou que está em curso a preparação de um encontro alargado de militantes a que se seguirá uma reunião do “Conselho Nacional antes do aludido congresso”.

    O político acusa o presidente Lucas Ngonda de ser o principal factor de desunião do partido por, supostamente, se negar a qualquer diálogo interno.

    O membro da comissão dirigida por Nimi a Simbi, sustentou que Lucas Ngonda não respondeu ao convite que lhe havia sido endereçado em Novembro de 2014 que visava definir o local onde deviam decorrer contactos directos entre as duas facções partidárias desavindas.

    “Queremos saber primeiro o que é que nos separa e só depois é que vamos participar num congresso abrangente para salvarmos o partido”, sublinhou a fonte, subscrevendo o repto lançado recentemente pelo nacionalista Ngola Kabangu em declarações a “OPAÍS”.

    Na conferência de imprensa desta Quarta-feira foi, de resto, reafirmada a “disponibilidade e abertura” para o diálogo interno, condição que , aparentemente, impediu Ngola Kabangu de se candidatar à liderança do histórico partido angolano. Os partidários de Ngola Kabangu, que reivindicam o apoio da maioria dos militantes da FNLA, garantem que sem este diálogo o congresso não terá “qualquer efeito”.

    Os partidários de Lucas Ngonda também têm acusado a outra parte de ser o principal entrave para o diálogo interno, por se furtar a participar em eventos convocados para a aproximação e unidade interna da FNLA.

    O político é ainda incriminado de violar os estatutos do partido quando na passada semana dirigiu uma reunião do Comité Central num momento em que, segundo afirmam, ele devia cessar as suas funções de forma automática por se ter candidatado ao mais alto cargo partidário.

    Em resposta, o porta-voz do congresso, Laiz Eduardo, minimizou as advertências do grupo de Kabangu ao qual desafiou a levar avante a sua intenção de impugnar o evento.

    Laiz Eduardo devolveu as acusações e apontou os contestatários de fazerem “exigências absurdas”, designadamente, a recusa de encontros bilaterais nas instalações do partido. Depois de rejeitar que o partido continuasse dividido em alas, Laiz Eduardo acusou os partidários de Ngola Kabangu de não terem um “interlocutor com capacidade política e intelectual” para negociar.

    Enquanto isso, os preparativos do IV Congresso ordinário da FNLA continuam em marcha com as já conhecidas candidaturas de Lucas Benghy Ngonda, Fernando Pedro Gomes e David Martins. Os três aspirantes à disputa do cargo de líder da FNLA foram os únicos que a comissão preparatória nacional confirmou.

    O evento está marcado para 25 deste mês, devendo durar três dias. Na semana passada, o seu presidente, Lucas Benghy Ngonda, confirmou que tudo estava preparado para a realização do evento que afirmou vir juntar em Luanda delegados de todas as províncias do país político.

    Ngonda é citado pela Angop como tendo dito que a FNLA deve sobreviver “às intempéries do tempo”, daí a necessidade de servir o partido de forma justa e consistente para as gerações futuras, assim como adaptar o partido aos novos tempos e sobreviver contra as “armadilhas dos seus adversários políticos”.

    A crise interna na FNLA remonta ao ano de 2004 aquando da realização do chamado “congresso de reconciliação”, realizado sob a liderança do falecido presidente-fundador, Holden Roberto.

    Este conclave esteve na origem das actuais clivagens entre Lucas Ngonda e Ngola Kabangu, indicados, respectivamente para os cargos de primeiro e segundo vice-presidentes.

    Os congressos que se seguiram não foram capazes de embater as diferenças entre os dois políticos e, desde então, o partido nunca mais se reencontrou até à intervenção do Tribunal Constitucional que reconheceu Lucas Ngonda como sendo o presidente legítimo do partido, anulando uma decisão anterior que dava a mesma distinção a Ngola Kabangu.

    Esta decisão judicial, como era de esperar, nunca foi reconhecida por esta figura da FNLA, que continua “barricado” na rua Samuel Bernardo e a reivindicar a liderança do partido.

    Ngola Kabangu diz-se injustiçado pelo Tribunal Constitucional e que está sem moral para concorrer, em pé de igualdade com Lucas Ngonda num conclave por este convocado.

    Historial

    A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) é o mais antigo movimento político, fundado em 1954 inicialmente com o nome de União das Populações do Norte de Angola (UPNA) e mais tarde ( em 1958) o nome de União das Populações de Angola (UPA). Em 1961, a UPA e um outro grupo anti-colonial, o Partido Democrático de Angola (PDA), constituíram conjuntamente a FNLA .

    A FNLA foi um dos movimentos nacionalistas angolanos e a quem, durante a guerra anticolonial de 1961 a 1974, é atribuída a insurreição armada do dia 15 de Mar de 1961 contra os fazendeiros portugueses na província do Uíge, tida, por si, como a primeira acção militar directa contra a ocupação colonial..

    Em resultado da profunda crise a que está mergulhada , a FNLA é um partido político cuja importância tem vindo a diminuir drasticamente desde os seus fracos resultados nas eleições legislativas de 1992, 2008 e 2012.

    Contrariamente à UNITA, a FNLA na Guerra Civil foi o primeiro movimento , co-signatário dos Acordos de Alvor, a abandonar a guerra pela tomada do poder das mãos do MPLA.

    A sua liderança passou a residir no estrangeiro, muitos dos seus quadros e dirigentes acabaram por se render ao Governo instituído em Angola, no quadro da chamada “política de Clemência e Reconciliação Nacional”. Foi o caso de Johnny Eduardo Pinock Eduardo, já falecido, e Henrique Vaal Neto, e muitos oficiais superiores, muitos quais chegaram a ser coptados para cargos no Governo e nas Forças Armadas.

    A direcção da FNLA, com Holden Roberto à cabeça, regressou a Angola depois que o governo do MPLA anunciou a implantação do sistema de democracia multipartidária de resultaram as primeiras eleições para 1992. (opais.ao)

    Por: Venâncio Rodrigues

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