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    Embaixador na ONU aponta valências do Corredor do Lobito para a RDC e a Zâmbia

    O Representante Permanente da República de Angola junto das Nações Unidas em Nova Iorque, Francisco José da Cruz, considerou, esta terça-feira, o Corredor do Lobito crucial para desbloquear e melhorar o potencial económico da Zâmbia e da República Democrática do Congo (RDC), particularmente do Cinturão de Cobre.

    Em entrevista à revista Africa Renewal, na qual aborda as prioridades angolanas da ONU, o comércio, o empoderamento das mulheres, entre outros assuntos, o diplomata adiantou que a RDC e a Zâmbia possuem minerais estratégicos como o cobre, o cobalto e o lítio, todos com grande procura nos mercados internacionais.

    “Actualmente, as empresas mineiras que operam nestes dois países utilizam portos alternativos para as exportações, enquanto a rota do Corredor do Lobito oferece uma distância mais curta, especialmente para os mercados ocidentais. Angola assinou um contrato com o Lobito Atlantic Railway, consórcio que irá explorar o Corredor Ferroviário durante os próximos 30 anos. Esperamos que o consórcio faça investimentos significativos em Angola e na RDC, totalizando cerca de meio bilhão de dólares, para melhorar o sistema ferroviário e fornecer serviços que atendam aos padrões internacionais”, afirmou.

    O diplomata faz ainda menção a necessidade de uma abordagem pragmática e incremental, no âmbito da implementação da Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA), baseada nas experiências actuais para se produzir resultados práticos.

    “Estamos a trabalhar na diversificação da economia, na promoção da produção e do consumo nacionais e na exportação dos nossos produtos para criar empregos e aumentar os rendimentos. A nossa economia ainda depende fortemente das indústrias extractivas, principalmente do petróleo e dos diamantes. No entanto, estamos a diversificar activamente e a agricultura desempenha um papel significativo. Começamos a exportar banana e café, especialmente para a Europa. Também produzimos e exportamos sal para países como a RDC e a Zâmbia. Iniciamos programas que incentivam o sector privado a envolver-se mais nos mercados internacionais, produzindo a qualidade necessária para a exportação”, disse.

    No capítulo energético, o embaixador destacou os investimentos nas fontes de energia não poluentes, realçando o acordo de quase um bilhão de dólares com uma empresa americana para projectos de energia solar no país.

    “Estamos a tentar investir mais em energias renováveis e educar as pessoas nesse sentido como parte do nosso compromisso”, frisou.

    Paz e segurança nos Grandes Lagos

    Nesta vertente, Francisco José da Cruz reafirmou o empenho de Angola na resolução pacífica de conflitos em África, com particular realce na pacificação da região dos Grandes Lagos.

    Na sua óptica, o empenho do Presidente da República, João Lourenço, faz acreditar que a paz e a segurança devem ser uma das prioridades dos angolanos.

    “Temos tentado ajudar países como a República Democrática do Congo (RDC) e a República Centro-Africana a alcançar a paz e a estabilidade. Trabalhamos, no âmbito do Presidente João Lourenço como presidente da CIRGL e do seu mandato sob a União Africana, para mediar a tensão entre a RDC e o Rwanda. O facto de os pares do Presidente Lourenço o terem designado para ser o Campeão da paz e da Reconciliação da UA mostra que tem um papel importante na assistência a África, no tratamento da prevenção, gestão e resolução de conflitos. Estamos também a concentrar-nos na forma de levar estas questões à ONU para que possamos enfrentar os desafios em conjunto”, reforçou o embaixador.

    Segundo Francisco José da Cruz, o Roteiro de Luanda é um quadro para trazer paz e estabilidade à RDC. “Angola envolveu as autoridades da RDC no envio de uma força militar de cerca de 450 soldados para ajudar a criar condições para o acantonamento das forças M23. O processo tem sido um pouco lento, mas vemos a implementação do processo de Luanda como uma forma de alcançar a estabilidade necessária na RDC, especialmente com eleições marcadas para o final deste ano”, disse.

    Conforme o diplomata, Angola está a coordenar com outras iniciativas, como o Processo de Nairobi, promovendo uma abordagem comum e mais sincronizada para enfrentar os desafios da paz e da segurança na RDC.

    “O Presidente João Lourenço tem estado muito envolvido. Devido à nossa própria experiência, acreditamos que a paz e a estabilidade são possíveis se as partes interessadas estiverem empenhadas em encontrar um terreno comum. Sem paz e estabilidade não haverá desenvolvimento. Esperamos que — com o apoio das organizações regionais, da UA e da ONU — a RDC possa alcançar o nível de estabilidade e inclusão política de que necessita para avançar e desenvolver-se”, assevera.

    Já no domínio ambiental, Francisco José da Cruz dá também conta da preocupação de Angola para com as alterações climáticas, particularizando o facto de o país, em concreto a parte sul, atravessar a pior seca dos últimos 40 anos, afectando milhões de pessoas.

    “Estamos também activamente envolvidos em questões de desenvolvimento enquanto trabalhamos para alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2063 da União Africana. Por último, estamos a concentrar os nossos esforços nos direitos humanos, nas questões de género, na juventude e noutras questões críticas ligadas à paz, à estabilidade e ao desenvolvimento”, disse.

    Francisco José da Cruz aponta, igualmente, o impacto da Covid-19, das alterações climáticas e da guerra na Ucrânia na concretização dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em Angola.

    Adiantou que a Covid-19 teve um impacto amplo, desviando recursos do desenvolvimento económico para enfrentar a ameaça. “Os desafios económicos globais, a inflação e a forte dependência da nossa economia dos preços do petróleo também afectaram a nossa agenda de desenvolvimento nacional. Para resolver estes problemas, o governo implementou programas sociais para fornecer subsídios mensais às famílias vulneráveis”, disse.

    Em relação a necessidade do perdão da dívida dos países mais pobres e mais apoio das instituições financeiras multilaterais para o alcance os ODS até 2030, considerou ser desafio significativo para muitos países africanos, dando conta que o financiamento internacional com taxas de juro elevadas prejudica os esforços para mobilizar recursos para o desenvolvimento económico.

    Por esta razão, disse, Angola defende a revisão das instituições financeiras internacionais para as alinhar melhor com o mundo de hoje, com o intuito de não deixar ninguém para trás.

    O embaixador destacou ainda o facto de as mulheres desempenharem um papel crucial no desenvolvimento de Angola, contribuindo, desde a luta pela independência.

    Em Angola, as mulheres ocupam 40 por cento dos cargos de topo do governo, ocupando pastas chaves nas áreas das finanças, saúde, juventude e desporto, ambiente, trabalho e segurança social e educação, bem como a vice-presidência da República e a presidência da Assembleia Nacional. VM

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    FonteAngop

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