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    Portugal: Professores protestam na Internet, para já não confiam em manifestações

    À semelhança do que aconteceu há quatro anos, quando Maria de Lurdes Rodrigues era ministra da Educação, os protestos de professores nas redes sociais e na blogosfera voltam agora a estar em alta. Só que hoje, e ao contrário do que então sucedeu, os docentes estão cansados, desiludidos, assustados, segundo resumem ao PÚBLICO cinco profissionais com papel activo na blogosfera. Esta forma de estar tem consequências imediatas: com o emprego em causa, na última manifestação convocada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), no passado dia 12 de Julho, compareceram apenas alguns milhares, quando em 2008/2009, para defender a carreira, foram mais de 100 mil os que saíram à rua por duas vezes.

    “É natural que os professores estejam alheados, pois tem aumentado a falta de confiança nos representantes políticos e sindicais. Há uma descrença muito grande nos nossos representantes e as pessoas estão cansadas de sucessivas desilusões”, justifica Nuno Domingues, professor contratado e autor do blogue Educar a Educação. André Pestana, também contratado e dirigente do movimento independente de docentes 3 R”s, corrobora: “Muitos colegas sentem que se não conseguimos ganhar em 2008 com 120 mil professores nas ruas, será impossível agora”. A solução, defende, passará também por encontrar uma “alternativa aos actuais dirigentes sindicais, que estão nestes cargos há mais de 20 anos”.

    Arlindo Ferreira, autor do blogue DeArLindo e dirigente da Federação Nacional de Educação, admite que os professores “deixaram de acreditar nas acções de rua”. Aponta, contudo, outra razão para a desmobilização: “As medidas que estão a ser adoptadas pelo ministério não se dirigem a todos os docentes de idêntica forma”. O exemplo mais evidente, sustenta, é o dos professores contratados, que estão em risco de não ter lugar nas escolas no próximo ano lectivo. “Sendo os que mais razões têm para lutar, quase desistiram de o fazer e, em muitos casos, já se encontram de “malas feitas” para abandonar o país ou a profissão docente”, indica.

    Apesar de ser dirigente do Sindicato dos Professores do Norte, afecto à Fenprof, João Paulo Silva, um dos autores do blogue Aventar, partilha algumas das críticas feitas à actuação dos sindicatos, mas acrescenta outra pista: “A maioria dos professores votou neste Governo, o que agora funciona como uma condicionante. Sentem que, de alguma forma, têm responsabilidades na situação”. A propósito, o professor lembra que o actual ministro Nuno Crato “foi muito bem recebido” pelos profissionais.

    Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, aponta também “os poucos resultados” alcançados com as manifestações de 2008/09 como uma das razões para a desmobilização docente. E junta-lhe outros factores. “O medo, que voltou a estar presente, passando por questões de pura sobrevivência profissional que potencia atitudes ultradefensivas e a espera que alguém resolva o problema com um passe de mágica”. Foi o que constatou, por exemplo, com muitas das reacções à recente reunião de autores e colaboradores dos principais seis blogues de docentes, realizada a convite de Nuno Domingues.

    Reforçar papel dos blogues
    Os autores também ajudaram, ao anunciar nos respectivos blogues que nada iria ser como antes na educação. Houve quem interpretasse que iriam fazer a “revolução” ou, mais prosaicamente, encontrar uma solução com Nuno Crato, quando afinal, sustentam, o objectivo deste encontro foi apenas o de se “conhecerem pessoalmente e falarem sobre educação”. Objectivo a prazo, segundo Guinote: “reforçar o papel dos blogues no esclarecimento e apoio a colegas”. Para este docente é a opção certa, uma vez que considera “mais eficaz a demonstração clara de argumentos à palavra de ordem rimada ou gritada nas ruas”.

    Mas, por outro lado, acrescenta, não acredita que a movimentação nas redes sociais e na blogosfera venha a produzir “a capacidade de mobilização de outrora”. O que justifica, em parte, por na sua origem estarem “movimentos que forçam uma identidade mais “divisiva” e com acusações a quem não adere aos seus princípios”.

    Já André Pestana parece mais confiante. “Tudo é possível quando teremos em Setembro o maior despedimento colectivo da história”, afirma, referindo-se ao provável afastamento de milhares de professores contratados, ditado pela redução dos horários disponíveis e pelo aumento brutal do número de professores do quadro que, por não terem componente lectiva nas suas escolas, são obrigados a concorrer a outras, tendo prioridade na colocação.

    Ausência de acção?
    Na semana passada soube-se que eram 13.360. Arlindo Ferreira, que é um deles, sustenta que é preciso esperar pelo próximo ano lectivo, quando se verificar in loco o que vai suceder, para se assistir a “níveis de insatisfação mais elevados”. Nuno Domingues duvida, contudo, que “as grandes manifestações só de professores voltem a existir”. O que não significa ausência de acção. “O que mais temo é que a revolta se acerque das pessoas e as manifestações deixem de ser organizadas. O desespero pode levar a isso”, alerta.No próximo dia 9, será lançada uma nova plataforma pela Educação, que juntará docentes a título individual, como João Paulo Silva, com movimentos como os 3 R”s, entre outros. Prometem uma iniciativa por semana, muitas vezes na Internet, em prol de três objectivos, também já eleitos pela Fenprof como prioritários: a suspensão da revisão curricular e dos mega-agrupamentos e a vinculação dos professores contratados. João Paulo Silva garante que não pretendem vir a ser uma alternativa aos sindicatos. “Estamos aqui para acrescentar e não para dividir”.

    O professor está quase sempre on-line. A Internet permite que a informação chegue muito mais longe e ele não se coíbe de a utilizar, mas diz que a sua experiência recente mostrou-lhe que nada é mais eficaz na mobilização para a acção do que o contacto pessoal, face a face, nas escolas. Por ele vai continuar. Porque, segundo diz, a contestação pode assumir muitas formas e estar em muitos lados, mas “há um momento em que temos de ir para a rua”.

    FONTE: Público

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