O Presidente João Lourenço terminou, terça-feira, a sua presença na Cimeira Empresarial EUA-África, com uma intensa agenda, marcada pela participação em dois diálogos de Alto Nível e por encontros com homólogos africanos e homens de negócios.
O Chefe de Estado angolano foi uma das entidades de destaque no primeiro dia de trabalhos da cúpula, que decorre em Dallas, estado do Texas, onde interveio em três momentos distintos, para falar sobre a realidade africana e acerca dos pilares da parceria estratégica que se pretende com os EUA, em diferentes domínios.
Ao abrir o evento, na qualidade de primeiro Vice-Presidente da Assembleia de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, João Lourenço disse que os EUA e África são parceiros incontornáveis para enfrentarem, juntos, os desafios da segurança alimentar, energética, defesa, do ambiente, comércio internacional e da economia global.
De acordo com o estadista, o investimento privado é importante para a economia dos países africanos, que precisam de aumentar e diversificar a produção de bens de consumo e serviços, transformar as matérias-primas e diversificar os produtos de exportação.
Reconheceu a importância do investimento público e das parcerias público-privadas em infra-estruturas, para o salto que África pretende dar e que já chega com atraso se comparado com outras regiões do planeta.
Na sua primeira intervenção do dia, João Lourenço disse que África espera muito da nova parceria com os EUA para o financiamento e construção das infra-estruturas necessárias para o seu desenvolvimento.
Considerou necessário que se faça um forte investimento na construção de vias rodoviárias, estradas e autoestradas transnacionais, de mais caminhos-de-ferro, barragens hidro-eléctricas e respectivas linhas de transmissão, quilómetros de cabos submarinos e de fibra óptica, para viabilizar a implementação do Acordo de Livre Comércio Continental.
Segundo o Presidente angolano, o continente africano conta com os investidores norte-americanos para aumentar a sua capacidade de produção de energia hidro-eléctrica a partir dos seus abundantes recursos hídricos, a construção de parques fotovoltaicos de produção de energia solar num continente com abundância de sol que se desperdiça.
Disse ainda que as infra-estruturas de comunicação e informação através de satélites, cabos submarinos, redes de fibra óptica e torres repetidoras para a telefonia móvel e expansão do sinal de internet são de importância vital para o mais rápido desenvolvimento de África.
Sobre a segurança alimentar, afirmou que o mundo deve contar e olhar em primeiro lugar para África pela abundância de terras aráveis, de recursos hídricos, de sol e de mão de obra jovem que fácil e rapidamente pode dominar o manejo da maquinaria agrícola moderna e absorver os conhecimentos das mais modernas técnicas de cultivo.
Para tal, apelou ao investimento privado e ao know how americano para se fazer do continente um grande produtor e exportador de bens alimentares de qualidade para o mundo, tendo sublinhado que o continente africano pode jogar um papel crucial na superação quer da crise energética como da crise alimentar vigente no mundo.
Noutro domínio, disse que o investimento privado ou em parcerias público-privadas na construção e gestão de unidades hospitalares de referência, na produção local de medicamentos e de vacinas, será muito bem-vindo e acarinhado pelos governos africanos.
Em relação ao comércio, o Presidente angolano destacou o processo de renovação do Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA), por se tratar de um mecanismo importante para o enquadramento das trocas comerciais, que se pretende seja cada vez mais inclusivo e flexível, para permitir benefícios recíprocos tangíveis.
Manifestou, a esse respeito, a preocupação comum de maior parte dos países africanos, que se prende com o desafio da dívida pública, tendo solicitado que seja estabelecido algum equilíbrio entre as obrigações perante o credor e os imperativos de execução dos programas de desenvolvimento dos países africanos.
Diálogos de Alto Nível
Mais tarde, o Chefe de Estado angolano participou de dois Diálogos de Alto Nível, sendo que no primeiro, relacionado com o painel “Estratégia de Investimento em Infra-estruturas em África”, sublinhou o modo como os Estados Unidos da América estão a ajudar Angola na construção e financiamento de infra-estruturas cruciais para o seu desenvolvimento.
Destacou, a esse respeito, a importância dos três acordos assinados em Dallas, que vão assegurar a construção de quase 200 pontes metálicas em todo o país e centrais fotovoltaicas, com financiamento americano à produção e construção de linhas de transporte.
Trata-se dos acordos de financiamento para a construção de duas centrais de energia solar, de 186 pontes metálicas e para a expansão do sinal da Rádio Nacional de Angola, todos rubricados com o Exibank, para dinamizar os sectores das energias renováveis, das obras públicas e das telecomunicações e comunicação social em Angola.
No mesmo painel, João Lourenço referiu-se à consolidação e expansão do Corredor do Lobito, enquanto infra-estrutura estratégica, tendo dito que a sua existência serve para inserir Angola no desenvolvimento da região continental.
No segundo painel, sobre o tema “Navegando no futuro das energias em África”, o Presidente angolano disse que os “as economias dos países vão continuar ainda muito dependentes da combinação da energia obtida de recursos fósseis com fontes amigas do Ambiente”.
Referiu-se aos investimentos feitos em Angola para a melhoria do processo de produção e consumo de energia, tendo afirmado que o país tem, actualmente, capacidade remanescente e já está a considerar a possibilidade de exportar, depois de se atender a demanda interna.
João Lourenço afirmou que o desafio de Angola hoje passa por transportar a electricidade dos centros de produção até às casas dos cidadãos, às indústrias e a todos os que dela necessitam.
Em relação à forma como a energia pode apoiar a indústria africana, o Chefe de Estado frisou que o continente, embora tenha recursos hídricos abundantes, não dispõe, no entanto, de fontes de produção de energia em quantidade suficiente actualmente.
Do seu ponto de vista, para reverter isso, os estados e os governos precisarão de construir essas infra-estruturas, que são caras, fazendo-o com fundos próprios ou mobilizando recursos por via de empréstimos.
Encontros bilaterais
Antes de encerrar a jornada, o Presidente João Lourenço manteve, à margem da cimeira, um encontro com o homólogo da Libéria, Joseph Nyuma Boukai, com quem discutiu as relações bilaterais.
No mesmo sentido, recebeu a presidente do Conselho Empresarial Norte-Americano para África, Florizelle Liser, e o coordenador presidencial especial para infra-estrutura americana, Amos Hochstein, com quem abordou assuntos de interesse bilateral.
Na segunda-feira, o Presidente da República recebeu nove executivos de diferentes multinacionais e representantes do Governo norte-americano, com os quais conversou sobre as possibilidades de incrementar a parceria estratégica e os investimentos em Angola.
A Cimeira Empresarial EUA-África, que conta com a participação de mais de mil e 500 convidados, encerra-se oficialmente na quinta-feira. ELJ/ART