Levanta-se o véu sobre o assunto que permaneceu tabu após a independência de Angola. Um pedido de perdão que não reponha a verdade será pouco
“Amarrem-nos onde forem encontrados: Nito Alves, José Van Dunem, Bakalof, Pedro Fortunato, Betinho”.
“Todos os fracionistas pagarão pelos seus crimes”. Estes eram os títulos, a duas páginas, da edição do “Jornal de Angola” de 31 de maio de 1977, abrindo a “caça” aos responsáveis pelo levantamento contra Agostinho Neto. As represálias durariam pelo menos dois anos.
Ilustravam os artigos fotos a preto e branco de cada nomeado. E lia-se: “Um pouco apressado e talvez não muito à vontade ao dar-nos a sua opinião, Cesário José do Nascimento disse-nos: ‘Eu só tenho a dizer que estes últimos acontecimentos foram muito graves e toda a gente sabe bem porquê: eles queriam tomar o poder. Mas ninguém pode fazer melhor do que o Camarada Presidente [Neto, no poder de 1975 a 1979] e o nosso Governo’”.
Dezenas de milhares de angolanos foram torturados, deportados para campos de concentração e fuzilados sem julgamento durante este período, ao qual William Tonet — advogado e jornalista angolano que trabalhava no gabinete de Nito Alves em 2017 — chamou, na cadeia Deutsche Welle em 2012, “uma das maiores chacinas seletivas do ponto de vista ideológico”, cometida para “acabar com a liberdade de pensamento e de expressão”.