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    Educação e desenvolvimento

    Filipe Zau (Foto: ANGOP)
    Filipe Zau (Foto: ANGOP)

    Há nos países em desenvolvimento milhões de crianças que perecem precocemente antes de completarem cinco anos de idade, milhões de adultos, sobretudo, mulheres e idosos, incapazes de sobreviver aos conflitos armados, à fome, à falta de água potável, de cuidados elementares de saúde, de saneamento básico, à pandemia do HIV-SIDA e às endemias da triponossomiase e da malária. São cidadãos de países do Sul cujas matérias-primas são vendidas aos países do Norte a cerca de metade do valor do preço que se registava há cinquenta anos atrás.
    Acresce o facto de os países em desenvolvimento se encontrarem sobrecarregados por um serviço de dívida muito pesado, o que os impede, na maior parte das vezes, de satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos. A actual crise económica e financeira mundial, para a qual os países em desenvolvimento em nada contribuíram, provocam focos de instabilidade interna e externa.
    Consequentemente, os países em desenvolvimento acabam por ser empurrados para outras despesas elevadas, como são os casos da defesa e da segurança interna e externa. Os quadros mais qualificados e competentes, por sua vez, são seduzidos por uma melhor oferta em salários e regalias, oferecidos pelos países desenvolvidos, que, muitas vezes, são os mesmos que os formam a custo zero, já que os gastos com a sua formação decorrem, maioritariamente, por parte dos países a que pertencem.
    A corrupção (existente nos países em vias de desenvolvimento, mas, também, em países desenvolvidos), não deixando de ser um acto socialmente reprovável e juridicamente condenável, acaba por ter pouca expressão, face aos graves problemas de um mundo cada vez mais assimétrico, quer no que respeita ao alargamento do fosso existente entre os países ricos e os países pobres, quer no seio de cada uma das sociedades. A sua eliminação, sob todos os pontos de vista desejável, não pode ser vista como panaceia para salvar os milhões de pessoas que morrem à fome em todo o mundo ou para eliminar o analfabetismo literal e/ou funcional de cerca de um terço da humanidade.
    Nem sequer nos poderemos deixar iludir por todos os que acreditam que um elevado rendimento “per capita” elimina todos aqueles flagelos. Se assim fosse, os países desenvolvidos não teriam actualmente perto de 50 milhões de crianças pobres.
    Para combater esses flagelos é preciso comunicar eficazmente e isso só se consegue se houver educação/formação ao longo da vida. A escola e todas as outras entidades formadoras devem conhecer, o melhor possível, o contexto sócio-cultural e linguístico em que interagem, de modo a compreendê-los e a fazerem-se compreender. Isto porque na origem da não comunicação ou de uma comunicação deficiente pode estar um menos adequado código linguístico. Não basta dominar a língua materna ou a étnica. É indispensável comunicar eficazmente na língua do contexto.
    A comunicação através do diálogo é tanto mais enriquecedora quanto mais ricas forem as culturas e as línguas das comunidades em interacção.
    Por isso, os formadores, de crianças, jovens ou adultos, têm de criar uma relação empática e motivante com os aprendentes, integrem-se eles em entidades vocacionais para a formação, em empresas ou em organismos públicos. Só assim os aprendentes assimilam os conhecimentos necessários a um desempenho gratificante e eficaz.
    Angola não é excepção na situação descrita, até porque Portugal, durante a administração colonial, disponibilizou mais factores de desenvolvimento em 13 anos de guerra do que em 500 anos de presença. Tanto a guerra colonial como a civil, que se lhe seguiu, apesar dos seus horrores e intenções desagregadoras, contribuíram decisivamente para as populações de Angola se conhecerem melhor, se respeitarem e desenvolverem solidariedades indispensáveis à coesão nacional.
    Para que o desenvolvimento sustentado e endógeno de Angola seja um facto irreversível é indispensável investir na formação de formadores, para todos os níveis, graus e contextos de aprendizagem, para qualificar os formandos, maioritariamente menores de 20 anos, que devem aprender a executar as suas tarefas de forma simples e, se possível, lúdica. A TV, a rádio e os outros “media”, bem como a investigação e o ensino superior, podem e devem contribuir muito activamente para o registo, tratamento e difusão dos riquíssimos acervos culturais e linguísticos de Angola.
    Os meios de comunicação social devem agir de igual modo relativamente à língua oficial e de escolaridade e da língua estrangeira, de preferência o Inglês, tanto no ensino/aprendizagem presencial como a distância. Esta última língua dá acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e ao desenvolvimento científico e tecnológico de ponta.
    A forma determinada, pragmática e paciente como Angola conquistou a paz e está a conduzir o seu processo de democratização já merece o reconhecimento, não só dos países africanos, mas também de toda a comunidade internacional.
    A pujança de recursos humanos maioritariamente jovens e as enormes potencialidades do país permitem alcançar, no médio prazo, um desenvolvimento sustentado e duradouro de Angola e uma significativa melhoria das condições de vida de todos os angolanos, desde que, evidentemente, haja uma séria aposta nos recursos indispensáveis ao processo de educação/formação no nosso país. (jornaldeangola.com)

    Filipe Zau |*

    * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais

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