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    Angola: Número de mulheres em cargos públicos de destaque está a diminuir

    Investigador da Universidade Católica de Angola diz que há regressão no que toca à igualdade de oportunidades no país. Socióloga afirma que as mulheres são “mais transparentes na gestão da coisa pública”.

    A desigualdade começa na família. Há zonas em Angola onde os rapazes têm mais oportunidades de frequentar a escola, por exemplo. Esta realidade reflete-se até na vida adulta. Nas ruas de Luanda, há mais zungueiras que zungueiros.

    Longe de pensar no debate sobre a igualdade de género, Domingas Francisco, vendedora ambulante, está mais preocupada com o seu negócio. Atenta à atuação da polícia e dos agentes da fiscalização, a angolana critica o estado atual do país. “O negócio estava selado, não estava no carro de mão à venda, porque é que te vão levar o negócio? Mesmo estando parada te levam, não está bom assim. O país não está a mudar”, afirma.

    Uma mulher entre 20 homens

    A alegada falta de mudança também se regista na constituição do Conselho da República. Nos cerca de vinte conselheiros do presidente João Lourenço, apenas uma é mulher: Rosa Cruz e Silva.

    Licenciada em história, Cruz e Silva foi ministra da Cultura no Governo anterior. Foi também diretora-geral do Arquivo Histórico Nacional e é a fundadora e editora do Jornal Académico Fontes e Estudos. Em fevereiro deste ano, tornou-se a única mulher a integrar o órgão consultivo do chefe de Estado angolano.

    Em entrevista à DW África, Cláudio Fortuna, investigador do Centro de Estudos Africanos da Universidade Católica de Angola, afirma que a igualdade de género está em regressão no país. Segundo o responsável, no que toca “ao número de mulheres em lugares de liderança”, “o cenário angolano regrediu”. Tanto no Executivo, como em departamentos ministeriais, há menos mulheres. E no passado, constata, “já havia mulheres com alguma visibilidade e algum grau de importância”.

    No anterior Governo, Aldina da Lomba e Cândida Narciso desempenhavam os cargos de governadoras de Cabinda e Lunda Sul, respetivamente. Hoje, apenas Mara da Silva Quiosa conduz os destinos do Bengo, região próxima de Luanda. Este cenário, diz Cláudio Fortuna, contrasta com o número de mulheres que frequenta as universidades públicas e privadas do país. “Há mais mulheres nas universidades, há mais mulheres com formação superior e há mais mulheres no ativismo social”, assevera.

    Ainda assim, dos 220 deputados no Parlamento apenas cerca de 60 são mulheres – contra as 80 da legislatura anterior. Já no Governo, dos 30 ministros, 11 são mulheres. Um reforço feminino de apenas três ministras em relação ao Executivo dos últimos cinco anos.

    A socióloga Marlene Messele ressalta que não é por falta de competência que as mulheres não são indicadas para cargos de destaque em Angola. A também docente universitáriaexplica que, para além de competentes, as “mulheres são sensíveis e mais transparentes. O mundo político continua predominantemente masculino, mas quando as mulheres são indicadas normalmente agarram bem as oportunidade”.

    Mulheres que ficaram na História

    O ano de 1992 foi marcado pelo surgimento de Anália de Vitória Pereira à frente do Partido Liberal Democrático (PLD). A chamada “Mamã Coragem” foi a única mulher que dirigiu um projeto político com a introdução do multipartidarismo em Angola.

    Cláudio Fortuna lembra também outras heroínas que lutaram contra a invasão e a descolonização de Angola. “A Ginga Mbandi, por exemplo, encarnava a personalidade de um homem. Ela vestia-se como homem. Nós temos no nosso histórico mulheres guerreiras e batalhadoras”, diz.

    A descolonização da maioria dos Estados da África subsaariana começou em 1960. Mas só em 2006 foi eleita a primeira mulher Presidente em África. Prémio Nobel da Paz em 2011, Ellen Johnson Sirleaf, governou a Libéria até janeiro de 2018.

    Marlene Messele aponta outros nomes que se têm destacado em África. “Joyce Banda foi Presidente do Malaui entre 7 de abril de 2012 e 2014. Dlamine Zuma foi presidente da Comissão da União Africana e Ana Dias Lourenço, primeira dama de Angola, foi do Banco Mundial até 2017”.

    Ainda assim, aponta Cláudio Fortuna, o caminho é longo até que as mulheres voltem a ocupar cargos de chefes de Estado em África: “Temos uma sociedade machista. E este exercício de ter uma mulher presidente da República para nossa realidade ainda vai levar algum tempo”. (DW)

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