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    A posição dominante do dólar está em risco devido às tensões internas e externas nos Estados Unidos

    A posição dominante do dólar está em risco devido às tensões interna e externas nos Estados Unidos

    Desde as sanções dos EUA à Rússia, às tarifas sobre as importações chinesas e ao aumento da dívida dos EUA, as decisões do Departamento do Tesouro dos EUA são cada vez mais políticas. Tudo isto representa riscos para o maior activo nacional que o Tesouro americano deve proteger a todo custo: o dólar americano.

    O aumento desenfreado da dívida pública, a disfuncionalidade das instituições do Estado Federal em Washington e a transformação do dólar numa arma nos actuais conflitos geopolíticos e geoeconómicos contribuíram para a perceção de que o domínio do dólar americano pode estar ameaçado.

    Ainda é muito cedo para enterrar o dólar como moeda dominante no mundo, mas os sinais são cada vez mais fortes de que a posição privilegiada da América no centro do sistema financeiro global está a ser desafiada tanto por amigos como por inimigos dos EUA.

    No ano passado, os BRICS – organização inicialmente composta por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – não esconderam o desejo de ver as suas moedas suplantarem o dólar em algumas transações internacionais. Alguns destes países já utilizam as suas moedas em transações comerciais internacionais. As nações do Golfo estão a começar a liquidar o comércio de petróleo no yuan chinês e outros produtores de matérias-primas estão a considerar mudanças semelhantes.

    A posição dominante do dólar também preocupa alguns países que Washington considera aliados e que querem fazer um seguro contra a possibilidade de um dia também eles se verem alvo de sanções ou represálias económicas dos EUA. Desde o presidente Valéry Giscard d’Estaing em 1974, a França nunca escondeu a sua irritação por ver o dólar como a moeda dominante.

    De acordo com os dados do FMI, participação do dólar nas reservas cambiais globais detidas pelos bancos centrais caiu de 73% para 59% desde 2001.
    Os Estados Unidos geriram mal a sua posição hegemónica no mundo unipolar que se seguiu à queda da União Soviética. Hoje o mundo está cada vez mais multipolar marcado por tensões políticas e económicas que se autoalimentam, pondo em perigo o fiel da balança global, o dólar.

    As questões em torno da continuação do reinado do dólar surgiram mais uma vez na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Como punição, Yellen desencadeou o que foi considerado “a opção nuclear” ao trabalhar em conjunto com os seus homólogos europeus para congelar cerca de 640 mil milhões de dólares de reservas do banco central da Rússia no exterior. A medida marcou um ponto histórico na transformação do dólar em armas pelo EUA. Autoridades governamentais em todo o mundo começaram a fazer planos abertamente para reduzir a dependência do seu país em relação ao dólar.

    A posição dominante do dólar confere direitos de senhoriagem – o lucro que um governo obtém ao emitir uma moeda – mundiais aos Estados Unidos como país emissor da moeda. Isso ajudou a economia dos Estados Unidos a prosperar. O secretário do Tesouro , Robert Rubin , que serviu na administração Clinton, foi quem melhor exprimiu essa ideia ao declarar que um dólar forte era bom para a América. O seu argumento, em poucas palavras, era que os benefícios – incluindo um influxo de investimento estrangeiro que reduziu os custos de financiamento interno e um aumento no poder de compra das famílias e das empresas – superavam os impactos negativos, incluindo nas exportações. Nas décadas seguintes, os secretários do Tesouro das administrações republicana e democrata mantiveram a doutrina de Rubin.

    Mas a ascensão da China, ao ameaçar a hegemonia económica americana, mudou a posição tradicional dos Estados Unidos em relação ao dólar. Donald Trump iniciou esta mudança, sob o seu mantra “Make America Great Again”, virando a política económica para dentro, desencadeando uma guerra de tarifas não só com a China, mas também com os seus aliados, nomeadamente a UE, renegociando pactos comerciais, e atacando instituições multilaterais como a OMC.

    Trump repetidamente insistiu com o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell , para que reduzisse as taxas de juro para estimular o crescimento, mas também para enfraquecer o dólar. E a certa altura ele apresentou a ideia de fazer com que o Tesouro interviesse nos mercados cambiais para forçar a descida do seu valor.

    A esse respeito Joe Biden não mudou muito a política económica de Trump. Biden não só manteve as tarifas de Trump em vigor como lançou políticas como a Lei de Redução da Inflação e a lei dos Chips para reforçar o “Made in America”.

    Neste contexto, o risco de manter o dólar como moeda dominante é grande para os outros países e investidores estrangeiros. A pressão para se afastar do dólar vai desde Pequim a Brasília.

    É cero que o fim do dólar como moeda dominante já foi anunciado várias vezes no passado. Quando o Japão representava uma ameaça para a economia americana, falou-se no fim do dólar e a emergência do iene. Quando a União Europeia criou o EURO voltou-se a falar no fim dólar.

    Mas hoje, a grande ameaça ao dólar é interna e tem a ver com a disfuncionalidade das instituições americanas. O dólar ainda representa 90% das transações monetárias em todo o mundo e dois terços da dívida internacional é denominada em dólares. Os mercados globais de matérias-primas, como o petróleo, são governados pelo dólar. O risco é enorme em confiar tudo isto a instituições que lutam entre si em Washington.

    Por: Editor Económico
    Portal de Angola

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