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    Um passo de grande alcance histórico

    Jornal de Angola|Guilhermino Alberto

    Num mundo dilacerado por acções extremistas, que levaram a excessos e à construção de muros intransponíveis nas relações entre povos e famílias, Angola, depois de largos anos de um silêncio tumular sobre o seu passado de violência, decidiu, de moto próprio, construir pontes para o grande reencontro das suas gentes, dentro e fora de portas.

    O primeiro grande passo foi dado pelo partido que sustenta o Governo, o MPLA, ao reconhecer, em documento público, que já era tempo de falar com toda a frontalidade, olhando olhos nos olhos, sobre as nossas tragédias e buscar minimizar essas páginas sombrias do passado, usando a carta da unidade e reconciliação nacional, trazendo à tona as milhares de vítimas sem nome e sem rosto desses anos aziagos.

    Depois de anos de esquecimento, no meio de um ambiente de indiferença quase total, finalmente, o trabalho de memória histórica está a ser feito. Poucos dias depois das recomendações da direcção do MPLA, o Presidente da República e do partido que sustenta o Governo ordenou, a 26 de Abril, a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975, data da independência, e 4 de Abril de 2002, dia da Paz e Reconciliação Nacional.

    As autoridades angolanas- com o Presidente João Lourenço à frente – incluem entre os conflitos a reter, nesta homenagem histórica, os trágicos acontecimentos que se seguiram ao 27 de Maio de 1977 ou eventuais crimes cometidos por movimentos ou partidos políticos no quadro do conflito armado.

    Esta decisão, de grande alcance histórico, é, para o Governo liderado por João Lourenço, um imperativo político e cívico do Estado angolano para prestar condigna homenagem à memória de todos os cidadãos que tenham sido vítimas de actos de violência, resultantes dos conflitos políticos.

    O que se pretende, nesta construção de pontes de concórdia, é uma homenagem sincera a todos aqueles que se desvaneceram como se nunca tivessem existido. Repor os seus nomes, datas de nascimento e de óbito nos arquivos históricos nacionais, e que se preste uma última homenagem a esses homens e mulheres que perderam a vida ou foram caluniados durante essa época de terror.

    Ao instituir um mecanismo para a promoção da auscultação e de um diálogo convergente, as autoridades políticas do país reconhecem que pretendem assegurar a paz espiritual da sociedade, face a episódios do passado na convivência nacional que possam perturbar a unidade e o sentimento de fraternidade entre os angolanos.

    A Comissão para a Elaboração de um Plano de Acção para Homenagear as Vítimas dos Conflitos Políticos, coordenada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, e integrada por vários outros departamentos ministeriais e o Serviço de Informações e Segurança do Estado (SINSE), deve apresentar, nos próximos dias, o cronograma de implementação das decisões saídas do despacho presidencial de 26 de Abril. A Comissão tem até 31 de Julho de 2021 de concluir os trabalhos.

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