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    Um Fofaná encarnado em Pepe

    Se a memória é o melhor filme, a infância é sem sombra de dúvidas a melhor parte deste filme. E a infância do miúdo Pepe, mesmo numa época marcada pelo “cada um por si, Deus por todos”, não deixou de ser alegre.

    Perambulou com os outros meninos da sua idade os muitos becos do Prenda, sempre na inocência própria da idade e sempre com um sorriso nos lábios, em meio a dificuldades, ao que se lhe juntava a habilidade com a bola – sua inseparável companheira, por isso também sua confidente.

    No Prenda, era o ‘menino-maravilha’. Mesmo ainda em tenra idade, encantava com os seus dribles estonteantes e, mais ainda, com a sua incrível velocidade. Não poucas vezes, era como uma bala, pela forma algo supersónica como atravessava os seus adversários.

    O miúdo irmão do Aurélio – este sim foi mais do meu tempo e amigo pessoal – começou a despontar para a bola muito cedo, bem ali atrás da então célebre Escola do II Nível Augusto Ngangula, actual Instituto Médio Simione Mucune.

    No Sassamba, equipa criada e treinada pelo ‘tufão’ Joãozinho, o Dom França, um barulhento do caraças e conhecido por ser neto da velha Sabrita (esta é outra história), Pepe já despontava e era a principal referência da equipa de miúdos nos muitos trumunus da banda.

    Tinha sentido de baliza e revelava-se uma verdadeira dor de cabeça para os seus defensores, muito por conta dos seus desconcertantes dribles de partir as ossadas e trocar os olhos aos seus adversários.

    E foi por essas qualidades inatas que o Rolf, o Guerra, conseguiu “roubá-lo” e pô-lo a desfilar a sua magia no seu Mini Craques.

    Não demorou muito, viu-se-lhe o futuro bastante. Chancelou-se, por isso, a sua ida para equipas oficiais. Era proibido perder no areal um talento em bruto, que tinha muito pouco para lapidar, porque nasceu praticamente refinado para a bola. Tinha tudo e estava talhado para brilhar e, se possível, atingir a estratosfera da bola.

    Para quem não sabe, o Pepe de que falo é o miúdo Fofaná que todos conheceram no Provincial, Girabola e na selecção nacional de futebol de Angola. É o mesmo Fofaná que integrou a ‘geração de ouro’ do futebol que, formada por Vesko e, posteriormente, orientada por Oliveira Gonçalves, venceu em 2001 o Campeonato Africano de Futebol de sub-20, na Etiópia, e que, por via disso, esteve no Mundial da Argentina da categoria.

    Pepe, o Fofaná, tinha bola! Daí que do Prenda, do Sassamba, dos Mini Craques para a ribalta foi quase só um sopro, de tanto que se abriram facilmente as portas na Rangol, Benfica de Luanda, ASA e 1º de Agosto, onde passeou classe e dignificou o nome de um dos bairros de referência do mapa de Luanda e que o viu nascer.

    O génio de Pepe Fofaná era puro. Era capaz de driblar meia equipa, até o próprio guarda-redes, e marcar golos, com a mesma facilidade de uma faca quente em manteiga, o que encantava a assistência que acorria em bom número aos jogos.

    O nosso Fofaná nunca foi um patinho feio. Já nasceu cisne. Conseguiu, por isso, superar e contrariar todas as adversidades que se lhe cruzaram o caminho. O que parecia uma criança sem rumo no futebol, de bola jogada apenas no bairro, revelou-se um atleta que se tornou um dos expoentes mais vibrantes e fazer deslumbrar todo um país futebolístico com a sua arte.

    José Dos Santos | In Facebook

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