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    Todos para Portugal…

    Reginaldo Silva (DR)
    Reginaldo Silva (DR)

    Em matéria de notícias locais e internacionais, para mim a semana que transcorreu foi particularmente muito “bem educada”, enquanto aguardo pelos resultados do Congresso da FESA, que discutiu até esta sexta-feira o relacionamento da juventude com a reforma do sistema educativo.

    Agora pelos vistos, é tudo com e para a juventude, e anda bem que finalmente assim o é, sendo de admitir que por este andar tão jovial do executivo, ainda venhamos a ter um jovem ministro especialmente encarregado de controlar os gastos desnecessários dos mais velhos, com algumas cenas que não fazem muito sentido, tendo em conta as prioridades na hora da afectação dos sempre escassos recursos, senão forem bem empregues.

    A ideia deste imaginário pelouro não é assim tão despicienda e muito menos nasceu do nada, estando a mesma ancorada numa muito recente promessa do próprio Presidente, quando abriu o concurso público para participação do CNJ como o próximo fiscal da execução do OGE.

    No meio das já referidas notícias, houve pelo menos duas que vieram mais directamente ao encontro das minhas expectativas, numa perspectiva que pode ser considerada animadora, para quem como eu parece ter sido picado por uma prima da tsé-tsé, que deve ser a tri-tri, ou seja, a mosca da tristeza.

    Eu ainda não “deprimo” como canta o Damásio, mas de facto ando, por força das circunstâncias, muito mais pelas ruas da amargura do que pelas avenidas da exaltação ou da euforia, por mais pastilhas que me façam chegar aos olhos e aos ouvidos através dos meios tradicionais a que já me habituei tanto, que não consigo deixar de ver e ouvir, mesmo por vezes sabendo que estou a ser enganado com a própria verdade de alguns números.

    Esta semana soube-se de fonte oficial que uma das instituições do Grupo do Banco Mundial aprovou um “crédito de US$75 milhões para ajudar Angola a formar 24000 professores ensinando meio milhão de alunos em quase mil escolas primárias”.

    Fiquei a saber, e eu a pensar que já sabia muita coisa, que existe um projecto denominado “Angola Aprendizagem para Todos”, financiado pelo referido grupo ao abrigo do qual toda aquela “massaroca” será gasta para melhorar nos próximos cinco anos o desempenho profissional dos nossos “teatchers”.

    Mais do que isso e ainda com o mesmo kumbú, vai ser feito um investimento na criação de um sistema de avaliação regular dos alunos com uma atenção especial para as disciplinas de Português e Matemática.

    Embora sabendo das perdulárias curvas e contracurvas que o dinheiro destes financiamentos conhece, quando sai dos bancos, tenho de considerar esta informação como sendo uma boa notícia para a educação em Angola. Curiosamente e antes de ter tido acesso a esta “bomba”, tinha partilhado com alguns dos meus amigos virtuais a minha tristeza sobre aquilo que de forma algo exagerada, considerei ser o ostracismo a que em Angola está votado o ensino não universitário por quem de direito, com todas as consequências deploráveis que se conhecem e se reconhecem facilmente no fraco nível da generalidade dos alunos.

    A segunda notícia que deu ainda mais substancia e cor ao carácter “bem educado” desta transcorrida semana, foi saber que em Portugal há cada vez menos novos candidatos para os cursos de engenharia que se ministram nos diferentes institutos politécnicos da antiga metrópole, ao ponto de vários deles terem registado zero inscrições o ano passado e este também, suponho.

    De imediato a luzinha que o Professor Pardal me emprestou quando era miúdo, começou a acender e a apagar.

    Para um país como o nosso que tem tanta falta de engenheiros, com a agravante das instituições de formação existentes valerem o que (não) valem, a “oferta” portuguesa não podia vir em melhor altura.

    Em vez de andarmos a gastar dinheiro público em Portugal com investimentos de rentabilidade muito duvidosa a salvar projectos ameaçados, aí está, nos tais institutos vazios, um sector de futuro que o país vai precisar sempre.

    Como é evidente, a ideia não é irmos todos para Portugal, nem pouco mais ou menos, mas sim pegarmos nos nossos jovens que têm capacidade e vontade para tal e enviarmos todos para lá, para os politécnicos com algumas certezas de futuro que hoje ainda não conseguimos ter cá, diante da recorrente falta de qualidade que o ensino da engenharia continua a apresentar.

    Com uma tal “estratégia” não estaríamos fazer filhos nas mulheres dos outros e a deixar a nossas ao abandono? É bem possível que sim. É sempre um risco, mas de facto esta semana fui iluminado com esta imagem portuguesa dos institutos superiores técnicos vazios a espera dos candidatos que não aparecem e nós lá em Portugal a gastar dinheiro aqui e acolá, onde até já consta o patrocínio a uma equipa de futebol.

    Se a mim me fosse dada a escolher entre financiar uma equipa de futebol e um instituto superior politécnico, não teria qualquer dúvida em mandar a bola para o outro lado. (opais.net)

    Por Reginaldo Silva

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