Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia reúnem-se no Luxemburgo,segunda-feira, para analisar as consequências da tentativa de golpe militar na Rússia.
A ameaça de sublveação do grupo de mercenários do Grupo Wagner na Rússia encima a agenda da reunião que deveria centrar-se na assistência militar à Ucrânia, nas tensões entre o Kosovo e a Sérvia, nas sanções contra o Irão e nas relações com a América Latina.
Os ministros ainda estão a tentar compreender a saga de 36 horas, na qual Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, se rebelarem-se contra a liderança da Rússia, representando a maior ameaça ao poder de Vladimir Putin desde a sua chegada ao Kremlin, há mais de 20 anos.
“A guerra contra a Ucrânia, lançada por Putin, e o monstro que Putin criou com Wagner (…) estão a mordê-lo agora. O monstro está a agir contra o seu criador”, afirmou Josep Borrell, responsável pela política externa da UE, à chegada à reunião.
“O sistema político está a mostrar as suas fragilidades e o poder militar está a ceder. Esta é uma consequência importante da guerra na Ucrânia”, acrescentou.
Borrell evitou especular sobre o paradeiro de Prigozhin ou sobre o possível impacto do golpe falhado na evolução da guerra.
“Certamente, não é bom ver uma potência nuclear como a Rússia a entrar numa fase de instabilidade política”, disse Borrell aos jornalistas.
Alemanha e França cauetelosas
Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, manteve-se cautelosa na sua avaliação, descrevendo a rebelião como uma “luta interna pelo poder” na qual a UE não vai interferir.
“Com esta guerra brutal de agressão, a Rússia está a destruir, Putin está a destruir o seu próprio país”, disse Baerbock.
A sua homóloga francesa, Catherine Colonna, foi igualmente cautelosa e disse que a comunidade internacional ainda não viu as “consequências totais” da insurreição.
“No entanto, estes acontecimentos levantam muitas questões, e talvez mais questões do que respostas”, disse Colonna. “Neste momento, é claro que (os acontecimentos) sublinharam o facto de que tem havido tensões internas e que existem mesmo fissuras, fracturas e falhas no sistema”, referiu Catherine Colonna.
Países bálticos atentos
Gabrielius Landsbergis, da Lituânia, exortou os aliados ocidentais a reforçarem o flanco oriental da Europa, em reação à crescente “imprevisibilidade” da Rússia.
“Estamos a ver a rapidez com que as coisas podem acontecer”, disse Landsbergis. “Foi preciso meio dia para que um destacamento militar se deslocasse 200 quilómetros para longe de Moscovo. Imaginem a rapidez com que conseguem atravessar a Bielorrússia e aparecer na fronteira da Lituânia”, referiu.
Landsbergis levantou questões sobre o acordo alegadamente mediado por Aleksander Lukashenko, o Presidente bielorrusso, que levou Prigozhin a cancelar abruptamente o motim e a retirar as suas tropas.
Os pormenores do acordo não foram tornados públicos, mas pensa-se que Prigozhin deverá viver no exílio algures na Bielorrússia, enquanto os soldados Wagner serão perdoados e terão a oportunidade de ser incorporados nas Forças Armadas russas.
De acordo com o ministro lituano, Lukashenko, que detém o poder ininterruptamente desde 1994, entrou na luta por interesse próprio para preservar a sua carreira política.
Lukashenko está “muito dependente do Kremlin e, se o Kremlin deixar de o apoiar, isso significa que ele poderá terminar a sua carreira prematuramente”, disse Landsbergis.
O acordo está envolto em grande mistério, tornando impossível determinar o futuro da Wagner como organização mercenária ou a autoridade de Prigozhin. Para já, o Kremlin não anunciou qualquer mudança na liderança militar da Rússia, uma das principais exigências de Prigozhin.
“Não precisamos de pensar em mudar o regime na Rússia, nem de o planear. Os russos são completamente capazes de o fazer por si próprios. Os russos resolverão o problema da Rússia”, disse Landsbergis.
Por Jorge Liboreiro & Isabel Marques da Silva (Trad.)