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    Covid 19: Luandenses dizem sim ao Natal

    Por estes dias, a pergunta que se coloca a milhões de angolanos, de todos os grupos sociais, é como passar a festa da família mais comemorada no Mundo com um corpo estranho (coronavírus) à espreita, de forma saudável?

    Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o mais seguro é não realizar encontros familiares alargados, para impedir a cadeia de disseminação do vírus, optando-se por ceias de Natal restritas ao núcleo da família.

    No caso de Angola, o novo Decreto Presidencial sobre a Situação de Calamidade Pública, com medidas excepcionais para a quadra festiva, impõe um máximo de 15 pessoas nos ajuntamentos domiciliares e a proibição da abertura de salões de festa.

    Se, para uns, a medida vem a calhar, para outros torna-se difícil o seu cumprimento, pelo menos nesta época do ano, tendo em conta hábitos e costumes de longa data.

    As ruas de Luanda durante o dia reflectem o ritmo intenso da luta pela sobrevivência (D.R.)

    De acordo com especialistas em infectologia, o Sars-Cov-19 é um vírus de fácil contágio, que se propaga facilmente, sobretudo em cenários de ajuntamentos. Para evitá-lo, recomenda-se distanciamento de pelo menos de 1,5 m entre as pessoas.

    Estudos apontam que um contacto próximo, ou seja, permanência de 1,5 m de distância, num período de 15 a 30 minutos, é suficiente para haver eventual contaminação.

    Embora a mensagem seja do conhecimento de milhares de cidadãos, muitos angolanos encaram a quadra festiva como a última alternativa para acabar o ano de forma positiva, perto dos seus ente queridos, sem se importarem com os limites impostos pelo Decreto.

    Afastadas ou quase afastadas desde Março, devido às medidas restritivas impostas no quadro do combate e prevenção da pandemia, as famílias angolanas vão viver, nesta época, uma das maiores provações no combate à Covid-19 ao longo do ano.

    Entre riscos e incertezas, a pergunta que se impõe é como será a ceia de Natal?

    A resposta, talvez, só será conhecida no mês de Janeiro, quando as autoridades sanitárias divulgarem o balanço de Dezembro, mostrando ao país se a azáfama da quadra festiva foi contida ou se os angolanos se aventuraram a riscos de contágios.

    Pelas ruas, é notória a preocupação dos cidadãos em tudo fazer para comemorar a festa de Natal, apesar da alta dos preços e das restrições impostas pelas autoridades. Tal como em outros anos, muitos querem celebrar a festa da família e esquecer as amarguras.

    Nem mesmo os elevados preços dos produtos da cesta básica, nos mercados e superfícies comerciais, coloca em causa a vontade de se passar o Natal em família, como testemunha Edna Mesquita, de 35 anos, morada do município de Viana.

    Mãe de três filhos, a cidadã e os demais membros da sua família procuram, por esta altura, as melhores alternativas para celebrar o Natal e a passagem de ano.

    “É bastante complicado ficar sem abraço e sem carinho dos familiares. Até agora aguentamos e já lá vão 9 meses. É complicado”, sublinha Edna Mesquita, que diz estarem a ser cumpridas todas as medidas de prevenção para evitar casos na família.

    Paulo Mayele, 59 anos de idade, funcionário público, já decidiu que passará, pela primeira vez, a época natalícia longe da família: filhos/as, netos, noras e genros.

    “Não posso pôr em perigo a vida dos meus familiares, por causa de um dia. Sei que  este mal está preste a terminar e que melhores dias virão. Vamos acreditar e continuar   a orar”, enfatizou o cidadão, que afirma ser uma decisão difícil, mas necessária.

    Preços causam desconforto

    Mercado de produtos alimentares de Luanda. (Foto: Angop).

    Para além da distância que está a provocar entre as famílias, o coronavírus provocou também enormes dificuldades financeiras, face ao aumento dos preços dos principais produtos da cesta básica nos mercados informais e nas superfícies comerciais.

    Apesar da vontade de celebrar a data, por esta altura muitas são as pessoas que não sabem o que comprar para a ceia do Natal, alegando o aumento de preços dos produtos.

    A funcionária pública Manuela Vidal, por exemplo, diz-se agastada com a subida dos preços dos produtos alimentícios nos supermercados e mercados informais.

    Só para dar ideia, actualmente o quilo de feijão que estava a ser comercializado a mil kwanzas passou para dois mil (no mercado informal está mil e 500), o saco de arroz de 11 mil passou para 13 mil, a caixa de óleo saiu de nove mil para 14 mil.

    Diante desta alta de preços, torna-se quase impossível, para a maior parte dos cidadãos, ter à mesa os produtos tradicionais da ceia de Natal, como bacalhau, grão-de-bico e azeite doce, que serão substituídos, em várias famílias, por produtos alternativos.

    À semelhança do Natal de 2019, também vivido num cenário de crise económica e financeira, adivinha-se que a quadra festiva, este ano, venha a ser de restrições e contenção de gastos em grande parte das famílias, ávidas por ver partir o coronavírus.

    Especialistas pedem cuidados redobrados

    Para que isso se concretize, é fundamental o rigor, a disciplina e a obediências às regras impostas pelas autoridades sanitárias do país e da Organização Mundial da Saúde.

    A OMS afirmara que evitar reuniões familiares é  “a aposta mais segura” durante o Natal, sublinhando que “não existe risco zero nos ajuntamentos familiares”.

    O mesmo ponto de vista é defendido pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, que reforça o apelo às famílias angolanas para respeitarem as medidas de prevenção e evitarem os ajuntamentos durante a quadra festiva.

    A governante apela à celebração do Natal só com os membros que residam na mesma casa, evitando  ajuntamentos desnecessários, de forma a evitar o aumento de casos da Covid-19, que tem implantado a dor e o luto em milhares de famílias.

    Enquanto faltam quatro dias para a celebração da festa natalina e 11 dias para o fim do ano, reforçam-se os apelos de ponderação e contenção, principalmente nas famílias, tendo em conta que os riscos de contágio da Covid-19 em Angola ainda são altos.

    Mas, como não podia deixar de ser, a escolha do bem e do mal estará nas mãos de cada um, de cada chefe de família, sobre quem recai a missão de frenar a azáfama dos ajuntamentos e demonstrar às famílias de que, afinal, mais vale um sacrifício de um dia, do que entrar para 2021 em risco de morte.

    Até lá, o apelo de ponderação se mantém na primeira linha. Mas qual será o desfecho desta quadra festiva, em termos de balanço epidemiológico? Só o tempo dirá.

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