“interesses internacionais aqui, que muitas vezes silenciam as vozes daqueles países que dizem: para o meu país democracia, para lá, para os outros, eles que se desenrasquem, desde que me deem as minas … eu fecho os olhos aos direitos humanos”, afirmou líder da UNITA.
LUANDA —
O presidente da UNITA, principal partido da oposição em Angola, descreveu um quadro de extrema pobreza no país, onde pais se suicidam para não ver o sofrimento dos filhos, de onde quadros, até magistrados, fogem para o exterior, enquanto as riquezas vão para uma minoria e alguns governos fecham os olhos às violações dos direitos humanos “desde que me deem as minas”.
Ao discursar em Viana, Luanda, num comício para assinalar o 57o. aniversário do partido, Adalberto Costa Júnior disse que, ao contrário da realidade, há dinheiro “para evitar a extrema pobreza”.
“Muito pai se suicida e mata os filhos por extrema fome, porque não aguenta o sofrimento, a dor da barriga, ver o sofrimento dos seus filhos e enforca os filhos e suicidam-se, em províncias de extrema riqueza”, revelou o líder da oposição.
Fuga para o exterior
Ao afirmar estar preocupado com o futuro da juventude, Costa Júnior apontou a enorme fuga de jovens, bem formados, e afirmou que, não se pode continuar a aceitar “as desculpas do tempo, que a guerra justifica a pobreza de hoje”.
“Agora os magistrados, estamos a ouvir, uma grande quantidade de magistrados da primeira e da segunda instância, estão a desistir e preferem ir trabalhar nas obras lá fora, isto é aceitável?”, perguntou Adalberto Costa Júnior, quem apontou para a situação da justiça.
“Olhamos para o país e os exemplos que vêm são tristes, são até vergonhosos. Quando você tem a hierarquia das instituições da justiça na lama, não orgulha ninguém, e é um indicador claro das dificuldades e dos problemas que nós temos”, sublinhou o líder da UNITA, para quem a corrupção.
”Alta corrupção” e interesses estrangeiros
O modelo da contratação simplificada, que “virou a norma”, foi também foco das críticas de Costa Júnior que o classificou de “alta corrupção”
”A forma mais activa de fazer corrupção é a inexistência de concursos públicos e das eleições para hoje é a prática de todos os dias”, acusou o líder do partido do galo negro.
A propósito das eleições, Costa Júnior apontou até interesses de terceiros que apenas querem a riqueza de Angola.
“Aquilo que aconteceu em Angola não foi só voto nas urnas, houve manipulação, houve também os interesses internacionais aqui, que muitas vezes silenciam as vozes daqueles países que dizem: para o meu país democracia, para lá, para os outros, eles que se desenrasquem, desde que me deem as minas, que me deem o petróleo, que me deem aquilo que eu quero, eu fecho os olhos aos direitos humanos”, disse Adalberto Costa Júnior, quem aproveitou para pedir à comunidade internacional que “ajude um pouco mais”.
E continuou:“os países, por trás, têm que ter um pouco mais de valores, de ética na política, ou esse mundo cheio de problemas dificilmente será conquistado numa fase melhor”.
O líder da UNITA, no entanto, agradeceu o papel de muitos embaixadores, “que ganharam coragem nos últimos tempos”.
Depois de reconhecer o trabalho do grupo parlamentar da UNITA que tem apresentado várias propostas na Assembleia Nacional, ele concluiu que o país tem “muitos motivos” para se mostrar “desalentado”, mas deixou uma promessa: “Contem connosco”.
