Olhos cobertos de lágrimas, semblantes carregados de tristeza e sentimentos de revolta: esta é a expressão angustiada das pelo menos 10 mulheres que diariamente afluem à sede da principal rede de associações de luta contra o VIH/Sida em Angola, para denunciar o drama da contaminação dolosa de que foram vítimas, agravado pelas incertezas jurídicas e pelo peso do estigma e da discriminação, ante o olhar impávido e sereno das instituições.
O número de denúncias de pessoas contaminadas dolosamente aumentou para cerca de 10 por dia, contra três, que, em 2002, chegavam à Rede das Organizações de Serviços do Sida (ANASO), instituição que congrega várias associações de luta contra esta pandemia.
O presidente da ANASO, António Coelho, diz que esse aumento deve-se, maioritariamente, à crise social que se agudizou no país, que fez as pessoas exporem-se de forma insegura, criando terreno fértil para os cidadãos com condições financeiras se aproveitarem e atacarem as presas.
Apontou como uma das grandes preocupações o facto de as denunciantes desistirem já na altura de se apresentarem ao tribunal, para dar o seu testemunho. O estigma e a discriminação social também criam entraves. Nalguns casos, porque o acusado apercebe-se do problema e envolve dinheiro, que, por vezes, chega a ser valor avultado, a fim de manter a vítima calada. (Jornal de Angola)