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    Angola conta com o apoio do grupo ACP – Georges Chikoti

    Angola tem beneficiado e, à semelhança de todos os países membros, continuará a beneficiar de todos os programas e projectos para os quais é elegível, garantiu o secretário-geral da Organização dos Estados de África, Caribe e Pacífico (OACPS), Georges Chikoti.

    Em entrevista exclusiva à Angop, o secretário-geral do antigo grupo África, Caraíbas e Pacífico (ACP), Georges Chikoti, respondia a questão sobre o que se propõe fazer para que os angolanos possam beneficiar mais da integração do seu país, nomeadamente ao nível da formação, para melhorar a agricultura e o comércio, bem como na admissão de quadros na organização.

    “A OACPS defende os interesses de 79 Estados-membros. Fazêmo-lo de forma imparcial, usando os princípios da complementaridade e da subsidiariedade”, afirmou o diplomata angolano, há cerca de oito meses à frente da organização internacional.

    Conforme disse, “hoje, Angola participa em 18 programas Intra-ACP em áreas tão diversas como cultura, educação, vacinação e assistência médica, redução do risco de desastres naturais, gestão veterinária e apoio ao sector dos transportes”.

    Angop – Senhor Georges Chikoti, desde Março deste ano que é o secretário-geral da Organização dos Estados de África, Caribe e Pacífico (OACPS, na sigla inglesa). Como avalia estes meses de mandato? Já podemos falar de uma Secretaria dinâmica e actuante, como era esperado quando foi eleito para o cargo?

    Georges Chikoti (GC) – Desde que assumi o cargo, os meses subsequentes foram memoráveis. Eu diria que tive algumas experiências únicas. Ao olhar para trás, posso descrever os meus primeiros 100 dias no cargo como um período de duas fases paralelas – uma de avanço das actividades previstas e a outra, de gestão de questões circunstanciais, relacionadas à pandemia da Covid-19.

    Tome nota que duas semanas depois de assumir o cargo, tivemos que fechar a organização, por causa da Covid-19 e os meses seguintes foram desafiadores. Porém, eu diria que nos adaptamos e é uma satisfação ver como estamos a lidar com a situação.

    Apesar dos desafios, temos conseguido cumprir alguns dos nossos objectivos – com a entrada em vigor do Acordo de Georgetown, revisto em 5 de Abril de 2020, mudámos, com sucesso, o nosso nome de Grupo ACP para Organização de África, Caribe e Pacífico (OACPS), promovemos a nossa primeira Cimeira Interessional Extraordinária virtual de Chefes de Estado e de Governo e nomeei uma equipa de administração equilibrada, em termos de gênero, que representa maior equidade nacional entre os nossos 79 Estados membros.

    Actualmente, estamos a trabalhar na reestruturação da Secretaria e esperamos começar a implementá-la no início de 2021.

    No geral, creio que, apesar dos reveses sem precedentes, acredito que estamos no bom caminho para nos tornarmos a OACPS que queremos ser.

    Angop – Na sua primeira declaração à imprensa, a 7 de Dezembro de 2019, após a sua eleição, o senhor disse estar preocupado com o descumprimento de alguns associados no pagamento das quotas. Como se está a resolver a questão da regularização das contribuições financeiras dos associados, situação que afecta negativamente o funcionamento e a afirmação da própria organização?

    GC – Este é um problema contínuo e que se agravou com a actual pandemia. Diz-se que, na sequência da crise sanitária, podemos esperar uma crise financeira devido às medidas por vezes drásticas tomadas por muitos dos nossos Estados-membros para conter a propagação do coronavírus.

    Muitos dos nossos membros dependem do turismo – e essa indústria sofreu grandemente durante a pandemia. Os gafanhotos têm aterrorizado a África Oriental.

    Como resultado das alterações climáticas, muitos países estão a registar eventos relacionados ao clima ainda mais severos do que nunca. No Caribe, aguardamos por dois meses antes do final da temporada de furacões e estes terminaram a lista regular de nomes. Em função disto, os especialistas estão a usar o alfabeto grego para classificar as tempestades tropicais, facto que não acontecia desde 2005.

    A situação em relação aos pagamentos não é boa. Estamos longe de onde deveríamos estar e onde precisamos estar.

    Por esta razão, escrevi a todas as embaixadas e estou a escrever também para os respectivos ministros dos países em atraso.

    Igualmente, estamos à procura de meios alternativos de financiamento e, como tal, estamos a desenvolver um fundo patrimonial e fiduciário.

    Obviamente que, como resultado da nossa mudança para uma organização, estamos abertos e buscaremos parcerias com organizações não tradicionais.

    Angop – Sendo o Grupo ACP heterogêneo, na medida em que congrega países de três regiões geográficas específicas, como vê a questão dessa diversidade e como se sente ao defender os interesses do grupo junto aos países mais desenvolvidos economicamente?

    GC – Enquanto organização tricontinental, é verdade, temos muita diversidade, mas ouso dizer, também, que temos muito em comum. Partilhamos desafios semelhantes e percebemos que a única maneira de avançar é juntos.

    A 3 de Junho de 2020, a OACPS realizou a sua primeira Cimeira Interessional Extraordinária virtual de Chefes de Estado e de Governo, sob o lema “Transcendendo a Pandemia da COVID-19: Construindo Resiliência por Meio da Solidariedade Global”. A mensagem contundente disso foi uma mensagem clara de solidariedade e unidade, não apenas dentro das três regiões, mas também com os nossos parceiros internacionais em desenvolvimento.

    Angop – Qual é a sua estratégia para que os angolanos possam beneficiar mais da integração do seu país no Grupo OACPS, nomeadamente ao nível da formação para melhorar a agricultura e o comércio, bem como na admissão de quadros na organização?

    GC – A OACPS defende os interesses de 79 Estados-membros. Fazêmo-lo de forma imparcial, usando os princípios da complementaridade e da subsidiariedade.

    Angola tem beneficiado e, à semelhança de todos os nossos países membros, continuará a beneficiar de todos os programas e projectos para os quais é elegível.

    Hoje, Angola participa em 18 programas Intra-ACP em áreas tão diversas como cultura, educação, vacinação e assistência médica, redução do risco de desastres naturais, gestão veterinária e apoio ao sector dos transportes.

    Angop – Angola assume a presidência da OACPS em 2022. A este respeito, que agenda gostaria que o país apresentasse para cumprimento durante o seu mandato?

    GC – O mundo pós Covid-19 será diferente. Além disso, a OACPS também está a passar por

    mudanças drásticas como resultado da finalização das negociações pós-Cotonou e da entrada em vigor do Acordo de Georgetown revisto.

    Dito isto, a agenda para Angola continuará com a promoção dos objectivos enunciados na Declaração de Nairobi Nguvu Ya Pamoja e abordará as novas prioridades que surgirem das realidades pós-Cotonou e pós-Covid. Além disso, a OACPS está a ser alvo de um profundo processo de reestruturação, o que pode nos levar a reavaliar algumas de nossas áreas prioritárias.

    Neste momento, ainda estamos a reagir a estas mudanças e, por isso, é ainda difícil identificálas. Todavia, podemos imaginar que elas estarão mais focadas em questões como a digitalização, alterações climáticas e mitigação, e como podemos alcançar melhor os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030, bem como o que podemos fazer para promover os Objetivos para 2063, estabelecidos pela União Africana.

    Angop – Em relação a Angola, que caminhos sugere para que o país alcance maior visibilidade e capacidade de intervenção dentro do grupo?

    GC – Diria que o facto de o cargo de secretário-geral ser ocupado por um cidadão angolano já confere ao país um certo reconhecimento.

    O facto de, também, como mencionado anteriormente, sediar a próxima Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da OACPS e, assim, ocupar a Presidência da Cimeira da OACPS nos próximos três anos, também dará ampla visibilidade a Angola e mesmo a região Sul como um todo.

    Enquanto embaixador, antes da minha nomeação como secretário-geral, participei plenamente de vários comités do então Grupo de Estados da África, Caribe e Pacífico. O meu substituto, sua excelência o Dr. Mário de Azevedo Constantino manifestou a sua vontade de continuar a contribuir para a organização e tenho a certeza de que fará um excelente trabalho neste domínio.

    Angop – Numa escala de zero a 20, que nota daria ao desempenho do Governo de Angola com a OACPS?

    GC – Eu daria uma nota muito alta. Porquê? Angola participa integralmente das actividades da OACPS, paga suas contribuições integralmente, como e quando deve, reconhecendo, assim, o valor e a importância do trabalho da organização e ajudando-a a continuar.

    Tradicionalmente, Angola tem sido um forte apoiante dos valores e ambições da OACPS e continua a fazê-lo.

    Primeiro angolano na ACP

    Georges Rebelo Pinto Chikoti é o primeiro angolano a ocupar um cargo de destaque na ACP e substituiu o guyanês Patrick.

    Natural de Dondi, província do Huambo, nasceu a 6 de Junho de 1955. Georges Chikoti é mestre em Geografia Económica e licenciado em Relações Internacionais pela Universidade de Ottawa, Canadá.

    Georges Chikoti, que fala fluentemente inglês, francês, português, umbundo e bemba, já trabalhou no Banco Imperial do Canadá, em Toronto, e foi consultor da Agência Canadiana de Desenvolvimento Internacional (CIDA).

    Em Angola foi vice-ministro das Relações, em 2010 ascendeu a ministro das Relações Exteriores, cargo que exerceu até 2017.

    Em 2018, foi nomeado embaixador de Angola na União Europeia, no Reino da Bélgica e em Luxemburgo.

    Bom negociador, de 1999 a 2000, chefiou a delegação angolana em diferentes sessões da Comissão Consultiva Bilateral.

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