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    27 de Maio de 1977: “Temos localizadas algumas valas comuns”, Silva Mateus

    Estas declarações pertencem ao presidente da Fundação 27 de Maio, Silva Mateus, proferidas nesta sexta-feira, 27, mostrando-se confiante pela forma como está a decorrer o processo.

    De acordo com o responsável associativo que reúne os sobreviventes e os familiares das vítimas da repressão, o executivo e o Estado angolano reconhecem o erro e têm sido tratados como pessoas inclusas na sociedade. “Já não como os golpistas ou fraccionistas, epítetos de que éramos alcunhados”, reforçou Silva Mateus, em entrevista a RFI.

    Questionado sobre a fase em que está o processo de esclarecimento que ceifou a vida dos artistas David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes, Silva Mateus referiu que houve avanços e as coisas estão a ser resolvidas de acordo com as propostas que foram apresentadas à comissão, a CIVICOP (Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos), da qual nós fazemos parte.

    “Nós temos já localizadas as áreas onde se encontram algumas valas comuns. Já estamos a proceder à remoção das ossadas nalgumas valas e está-se a preparar a questão da entrega das ossadas e o possível enterro”, sustentou o líder associativo, acrescentando não haver qualquer queixa registada do processo e poderão aguardar pelos próximos passos.

    Um dos aspectos em falta, adiantou Silva Mateus, é a identificação completa dos comandantes – alguns já estão identificados – para agendar-se o dia da entrega dos restos mortais aos familiares, também o enterro oficial destes e dos generais a título póstumo.

    “Esta é uma questão que está a ser trabalhada pela Presidência da República, o Senhor Presidente João Lourenço, que também faz questão de honrar esses comandantes fazendo um velório em sua memória”, rematou.

    OS ACONTECIMENTOS

    Assinalaram-se nesta sexta-feira, 27, os 45 anos do considerado “massacres do 27 de Maio de 1977”, um período de dois anos durante o qual milhares de pessoas foram raptadas, torturadas e eliminadas sob a acusação de serem “fraccionistas”, ou seja pertencerem à ala do MPLA liderada pelo antigo ministro da Administração Interna Nito Alves.

    Os relatos de sobreviventes e dos livros divulgados mostram que Nito Alves se opunha à linha política do Presidente da época, Agostinho Neto, e que supostamente teria fomentado uma tentativa de golpe de Estado.

    Na altura dos acontecimentos, Nito Alves e seus seguidores teriam acabado de ser expulsos do MPLA no dia 21 de Maio de 1977 após entrarem em linha de colisão com o poder de Agostinho Neto. Dias depois, foi organizada uma manifestação de apoio a Nito Alves em Luanda, uma iniciativa que foi considerada como uma tentativa de golpe de Estado e que acabou por ser reprimida pela força.

    Nos dois anos que se seguiram, milhares de pessoas foram presas de forma arbitrária, torturadas, condenadas sem julgamento e executadas, nomeadamente Nito Alves e outros responsáveis considerados na altura como “traidores”.

    PERDÃO ÀS VÍTIMAS

    Mais de quarenta anos volvidos sobre este período sombrio, no ano passado, o actual Presidente angolano, João Lourenço, pediu desculpas pelos crimes cometidos durante aquela época e encetou-se um trabalho de reabilitação e memória em torno das vítimas do que se chamou de “purga”. O executivo mandou efectuar buscas dos restos mortais das vítimas e começou a entregar certidões de óbito aos familiares dos entes desaparecidos, numa iniciativa que se apresentou como sendo de reconciliação.

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