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    Viaturas devolvidas pelo Estado geram inquietação

    Viaturas distribuídas em substituição daquelas que perderam durante a guerra

    Um grupo de camionistas de Benguela que teve acesso às viaturas distribuídas em substituição daquelas que perderam durante a guerra está descontente com o facto de terem de suportar 50 por cento das despesas dos veículos.

    Em Julho último, cerca de 80 antigos proprietários receberam do ministro dos Transportes, Augusto Tomás, viaturas ligeiras e pesadas para compensar as perdas que tiveram durante os períodos mais conturbados do conflito armado.

    Muitos dos carros e camiões que transportavam as mercadorias para as Forças Armadas Angolanas (FAA) acabaram por ser queimadas pelas antigas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), braço armado da UNITA.

    Há quatro mêses, Crispim (nome fictício) recebeu uma viatura JMC de 3, 5 toneladas em substituição da Ford que utilizou durante a guerra para distribuir os mantimentos para a tropa estacionada nos arredores da Canjala, que era considerado um dos pontos mais críticos em Benguela.

    Os camionistas dizem que iam a outras partes da província de Benguela porque as Forças Armadas não possuíam meios para o efeito, razão pela qual o anterior director dos Transportes desta província, Vieira Lopes, persuadia-os a aceitarem tal empreitada em detrimento dos fretes particulares que faziam.

    “Não recebíamos nenhum dinheiro pelo trabalho que fazíamos, porque colocávamos em primeiro lugar a defesa da pátria”, contou um dos camionistas, acrescentando que “se estivéssemos carregados, tínhamos de retirar as mercadorias para darmos primazia aos mantivemos para a tropa que se encontrava nas matas.

    Por causa da intensidade dos tiroteios, uma vez tive de passar a noite em cima de uma pedra porque era arriscado nos deslocarmos a altas horas da noite”.

    Mas agora, segundo contou Crispim, terá de devolver ao Estado 50 por cento do valor total da viatura JMC que recebeu em troca da sua Ford destruída durante a guerra. A sua comparticipação, de acordo com cálculos que o próprio fez, será perto de 18 mil dólares.

    Além destes valores, a nossa fonte e outros cidadãos que haviam perdido os seus carros na guerra, por terem apoiado a distribuição de comida e outros bens para as forças governamentais e para as populações, devem ainda suportar os custos de importação dos veículos efectuados inicialmente pela ABAMAT. Para o efeito, os camionistas têm de efectuar um pagamento de dois mil dólares norteamericanos à empresa onde receberam os documentos dias depois de terem recebido os meios rolantes.

    Sem capacidade para entregar os dois mil dólares iniciais, o camionista que avançou estas informações a O PAÍS informou que teve de entregar os documentos aos filhos para ver se juntam o referido montante.

    O director provincial dos Transportes e Comunicações de Benguela, António Valango, explicou a este jornal, recentemente, que a operação está a ser coordenada a partir da ABAMAT em Luanda, província de onde saem os carros. É também na capital do país onde se faz a triagem e a listagem final dos possíveis favorecidos.

    “Não se está a pagar os carros, mas apenas as despesas alfandegárias efectuadas. É esse valor que está a causar alguma inquietação aos beneficiários, porque os referidos carros foram importados pelo Estado angolano”, realçou António Valongo.

    ABAMAT REAGE

    O Presidente do Conselho de Administração da ABAMAT, Francisco Seixas, explicou que as despesas com os veículos distribuídos em substituição dos que foram destruídos durante a guerra, serão suportados por duas partes, cabendo a cada uma delas uma quota de 50 por cento.

    Neste caso, uma metade cabe ao próprio Estado e a outra aos camionistas que já tiveram acesso aos camiões ou carrinhas.

    “Foi sempre assim e essa é a instrução que temos até hoje”, elucidou o responsável da empresa estatal durante um contacto telefónico nesta Quarta-feira.

    Francisco Seixas revelou ainda que os proprietários dos carros celebram um contrato com a entidade governamental, que estipulou 36 meses para a amortização das parcelas referentes aos ligeiros e 60 para os pesados. O PCA da ABAMAT acredita que as reclamações dos camionistas em Benguela são infundadas e que é a única província onde se registam tais inquietações. “Ainda ontem (terçafeira) falei com o dr Valongo sobre isso”, comentou Francisco Seixas, que sugeriu mais pormenores a partir do Ministério dos Transportes ou da sua Direcção Nacional dos Transportes Rodoviários, cujo responsável Freitas Neto encontra-se ausente do país.

     

    Dívidas de norte a sulO ministro dos Transportes esteve recentemente em Cabinda onde procedeu a entrega de 51 viaturas, cujos custos serão repartidos pelo Estado e os seus proprietários, tendo em conta os planos traçados pelo seu pelouro.

    Cabinda foi a 17ª província percorrida pelo governante angolano com o mesmo objectivo. No final de Agosto esteve no Cunene, entregou 30 viaturas, cinco delas com 480 cavalos.

    Ainda em Agosto, Augusto Tomás ‘devolveu’ 90 carros aos antigos proprietários no Kwanza Norte.

    Nesta província existem cerca de 180 cidadãos que pretendiam que Estado restituísse os seus automóveis queimados durante o conflito armado, numa fase em que prestavam serviço ao Estado.

    Em Junho, 26 camionistas em Menongue, no Kubando -Kubango tiveram de volta os seus carros. No mesmo mês 70 cidadãos no Huambo tiveram esse privilégio, num leque de 171 processos legalizados. O número de reclamantes atingira os 223, de acordo com dados da Direcção Provincial dos Transportes desta província.

    Três dias antes de ter chegado ao Planalto Central, o ministro dos Transportes esteve no Lobito onde também devolveu 77 carros, entre ligeiros e pesados, numa zona onde mais de 300 reclamantes exigiam os seus meios destruídos antes do alcance da paz.

    Augusto Tomás esteve em Abril no Kuanza-Sul e entregou cerca de 90 carros, num grupo de 300 reclamantes. Mas foi no Bengo onde o governante, que distribuiu perto de 60 carros, segundo a Angop, anunciou aos beneficiários que as condições de pagamento seriam negociadas com os beneficiários.

    “O Estado paga 50 por cento do custo real do veículo e o favorecido paga os outros 50, de forma faseada, num período de 24 a 36 meses, tempo considerado suficiente para a amortização”, disse, na altura, o ministro.

     

    Dani Costa
    Fonte: O País
    Foto: O País

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