A empresa ferroviária, que celebrou 15 anos do fim do contrato de exploração portuguesa, ainda não alimenta o Porto construído para escoar a produção mineral de dois países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. Atentos ao impasse, camionistas de Benguela, falidos por falta de incentivos, podem fazer-se à estrada para cobrir o vazio.
Ao fim de mais um ano, o Porto de Minérios do Lobito continua à espera que o Caminho-de-ferro de Benguela (CFB) comece a movimentar os produtos que determinaram o investimento de 522 milhões de dólares norte-americanos, seis vezes superior a um orçamento da província com o maior corredor económico de Angola.
Um dos cinco empreendimentos portuários inaugurados em Agosto de 2014, o Porto Mineral fica reduzido à insignificância até ser executado o projecto de ligação da via-férrea aos ramais do Congo Democrático e da Zâmbia, os chamados ‘’países encravados’’.
Na cerimónia de inauguração, diante do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, o ministro dos Transportes, Augusto Tomás, alheio aos condicionalismos que estorvam a programação, acenava para a província congolesa de Catanga, detentora de uma produção anual de um milhão de toneladas de cobre.
As autoridades angolanas pretendiam explorar esta oportunidade de negócio já a partir de Dezembro de 2014, quatro meses após o corte da fita, perspectivando para 2015 a movimentação do minério da Zâmbia por via da infra-estrutura portuária.
Com capacidade para absorver três milhões e seiscentas mil toneladas de minerais por ano, mercê dos seus 210 metros de cais e nove hectares reservados ao armazenamento, o Porto de Minérios tem a companhia de um terminal de contentores, a mais cara das obras inauguradas pelo PR – 414 metros de cais -, que custou USD 673 milhões.
O Porto Seco, com nove hectares para parqueamento, o rebocador e a lancha rápida completam o conjunto de benfeitorias que totalizam gastos de 1 bilhão e 250 milhões de dólares, 1% do Produto Interno Bruto (PIB).
Quando se ressalta que os empreendimentos representam o suplemento do projecto de reabilitação do CFB, que custou cerca de dois mil milhões de dólares, vários analistas, sobretudo economistas, referem que é uma fortuna ainda distante do valor acrescentado para a economia angolana.
Não é crível, aliás, que a máquina comece a funcionar em 2017, ano apontado para a entrada de Angola na Zona de Comércio Livre da SADC, para a qual o Governo precisará de infra-estruturas e de uma produção interna suficiente e bastante competitiva.
Enquanto o Governo olha para os resultados do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), o economista Carlos Rosado vem sugerindo, como se viu num recente fórum económico, a adesão à ZCL de forma faseada, com primazia para alguns sectores da actividade produtiva.
Uma alternativa de 2 mil quilómetros – Uma das várias deliberações da 36ª Cimeira de Chefes de Estado da SADC, realizada em Agosto no Reino da Swazilândia, coloca a ligação do CFB aos ramais da República Democratica do Congo e Zâmbia, qualquer coisa como trezentos quilómetros, entre os vários projectos a executar até 2020.
Vê-se, pois, que o Terminal de Minérios do Lobito começa a gerar receitas, se for analisada a perspectiva regional, só daqui a três/quatro anos. Este período pode, todavia, vir a ser encurtado, mesmo que a alternativa para a transportação do ‘‘minério encravado’’ seja economicamente menos viável.
Aproveitando o impasse em relação à ligação ferroviária, camionistas de Benguela e de províncias congolesas estudam uma forma de fazer chegar o produto por estrada.
O empresário Octávio Pinto, membro da Associação dos Industriais de Camionagem da província de Benguela, revela que a ideia está a ser amadurecida, esperando-se que chegue à apreciação a nível dos dois Estados num curto espaço de tempo.
De acordo com a fonte, os dados iniciais indicam que camionistas angolanos chegarão até à fronteira com a RDC, onde receberão dos seus confrades a produção saída de minas. ‘’É uma forma de rentabilizar o investimento do Governo de Angola no Corredor do Lobito’’, reforça Octávio Pinto, que fala de um percurso de dois mil quilómetros, mais quinhentos do que a linha ferroviária. (figuras&negocios)