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    Familiares de vítimas ansiosos em concluir processo de luto

    Coincidência ou não, a abertura do processo de recepção em massa de pedidos de certificados e certidões de óbito de pessoas que morreram nos conflitos políticos ocorridos em Angola, de 11 de Novembro de 1975 a 4 de Abril de 2002, começou na manhã de segunda-feira, 31 de Maio, dia em que foi assinado, há 30 anos, o Acordo de Bicesse, que está na origem da realização das primeiras eleições gerais da História de Angola.

    O processo começou no posto de atendimento do Pavilhão Multiusos Arena do Kilamba, o primeiro de vários postos de atendimento que vão estar abertos em municípios e distritos da província de Luanda.

    Aberto às oito horas, o posto recebeu, trinta minutos depois, a visita do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos e coordenador da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), Francisco Queiroz, que disse ter gostado das condições de trabalho.

    O atendimento ao público começou às 09h00 e, até às 12h00, foram atendidas 17 pessoas, número simbólico de atendimento previsto para o primeiro dia, para que se tenha uma ideia do ritmo de trabalho que se espera para os próximos dias.

    Todos, como não podia deixar de ser, apresentaram um semblante de tristeza, até o próprio ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, que se deslocou ao Pavilhão Multiusos Arena do Kilamba trajado de um casaco preto, cor que simboliza luto.

    Pedido de certidão em nome do pai

    Ana Maria da Silva Velasco foi uma das 17 pessoas atendidas no Pavilhão Multiusos Arena do Kilamba, onde requereu uma certidão de óbito em nome do pai, João António Velasco, que foi funcionário público na província do Cuando Cubango. “A minha mãe morreu de desgosto quando soube que o marido foi morto depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977”, contou Ana Maria da Silva Velasco, que, quando desapareceu o progenitor, tinha apenas quatro anos de idade.

    A órfã, actualmente com 44 anos, disse aceitar o pedido de desculpas e perdão, apresentado, há dias, pelo Presidente João Lourenço, numa mensagem dirigida à Nação.

    O pedido de desculpas e perdão já devia ter sido feito há muito tempo, defendeu Ana Maria da Silva Velasco, que disse nunca ter havido interesse da sua família em exigir uma indemnização ao Estado angolano pelo desaparecimento e morte de João António Velasco, pai de cinco filhos.

    “O que queremos apenas são as ossadas do nosso pai”, salientou Ana Maria da Silva Velasco, que elogiou o Presidente João Lourenço pela abertura do processo de entrega de certidões de óbito e de ossadas de pessoas que perderam a vida em conflitos políticos.

    “Assim já podemos concluir o tão prolongado processo de luto”, acentuou Ana Velasco.

    O jovem Morais Guêns foi também abordado pelo Jornal de Angola antes de ter sido atendido no posto do Pavilhão Multiusos Arena do Kilamba, em cujo local requereu uma certidão de óbito em nome do avô, que, tal como o pai de Ana Velasco, desapareceu depois do fracassado golpe de Estado, em 27 de Maio de 1977, de acordo com os discursos oficiais, protagonizado por um grupo de responsáveis do MPLA, liderado por Alves Bernardo Baptista “Nito Alves”, depois de ter sido expulso do Comité Central, uma semana antes, sob acusação de ter criado um movimento fraccionista.

    O jovem Morais Guêns exibiu ao Jornal de Angola os documentos necessários para o pedido de emissão de uma certidão de óbito, para depois dizer que “acredito que sairei daqui com uma certidão de óbito”.

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    FonteJA

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