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    Facção republicana paralisa EUA e ameaça economia mundial

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    Um grupo republicano conhecido como “tea party” paralisou o Governo dos Estados Unidos e com isso ameaça a estabilidade da economia mundial

    Em particular dos países em desenvolvimento, se nos próximos dias não permitirem que os republicanos façam um acordo com os democratas e o Presidente Barack Obama.
    O chamado “tea party” não é um partido nem tão pouco um grupo organizado dentro do Partido Republicano. Não tem uma agenda política definida.Trata-se de um grupo não ideológico sem hierarquia que actua de forma independente dentro do partido onde se instalou progressivamente e consolidou posições, sem disciplina partidária, defendendo apenas o corte do défice dos Estados Unidos através da redução da despesa federal, do investimento ao apoio social, e em simultâneo a redução de impostos. Ao contrário do que se poderia esperar não tem um líder nem uma estrutura institucional e estendeu-se por entre os activistas conservadores do Congresso. A sua designação inspirou-se no movimento “Boston Tea Party”, de 1773, contra o pagamento de mais taxas à administração inglesa.
    A sua influência na Câmara dos Representantes é tal que o presidente da câmara baixa, o republicano John Boehner, acabou por adoptar a intransigência do “tea party” para conseguir manter o lugar chegando mesmo ao ponto de romper, em Julho passado, um acordo a que havia chegado com o líder da maioria do Senado, o democrata Harry Reid, sobre a redução do défice federal.
    De então para cá os republicanos têm condicionado qualquer acordo sobre o orçamento que deveria ter entrado em vigor a 1 de Outubro à alteração substantiva – leia-se revogação na prática – do sistema de apoio de saúde (Obamacare) aprovado por ambas as câmaras do Congresso em Março de 2010.
    Ao longo das últimas duas semanas tem estado em negociação legislação que permita a subida do défice federal e a aprovação do orçamento, sem quaisquer condicionantes e a aprovação paralela de um projecto da Administração para a redução sustentada do défice federal a médio prazo, o que conjugado com o crescimento que a economia americana está (estava) a conhecer possibilitaria o regresso do equilíbrio e de um superavite, como Bill Clinton conseguiu legar a George W. Bush, que o tornou rapidamente em défice.
    Os republicanos no Senado, menos permeáveis ao “tea party”, aceitaram a proposta que a Câmara dos Representantes recusaria, lançando a actual confusão. Para os republicanos enquanto partido, a situação está a tornar-se extremamente incómoda com a opinião pública cada vez mais contrária ao GreatOld Party (GOP) (designação tradicional do Partido Republicano). Uma visão negativa que deixa indiferente os grupos do “tea party” determinados em enfraquecer cada vez mais o poder do Governo Federal. Nada que não estejamos acostumados a ver nos filmes americanos onde abundam as teorias da conspiração de Washington contra os Estados e os americanos mas algo verdadeiramente preocupante na vida real.
    Quinta-feira, 17 de Outubro, os Estados Unidos têm dívidas e compromissos financeiros nacionais e internacionais para cumprirem e necessitam do Orçamento e do aumento do défice federal aprovados. Sem isso os EUA não irão pagar aos seus credores. Desde o dia 1 de Outubro quase um milhão de funcionários federais está em casa sem emprego nem salário por não ter sido possível ter um Orçamento para o ano fiscal que então se iniciou.
    O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, alertou para os riscos da situação que os EUA estão a viver. O Departamento do Tesouro americano (Ministério das Finanças) revelou que o dinheiro acaba a 17 de Outubro se, pelo menos, o plafond da dívida não for aumentado. Isto significa que o país não irá pagar aos seus credores o dinheiro que pede emprestado para funcionar. Se isso suceder, sabe-se, e Jim Yong Kim sublinhou-o, os mercados financeiros mundiais serão afectados e em especial os países em desenvolvimento.
    Os juros internacionais irão subir e o dólar acentuará a sua queda atingindo todo o comércio mundial. A quebra de confiança dos investidores cada vez mais nervosos irá provocar uma contracção no investimento a nível global.
    No passado os Estados Unidos atravessaram situações semelhantes sem contudo as repercussões mundiais serem potencialmente tão graves. Em 1995 e em 1996 ocorreram conjunturas análogas e superficialmente a posição dos republicanos poderia parecer idêntica. A diferença é que em 1995 e 1996 Bill Clinton teve de enfrentar uma crise suscitada, conduzida e controlada por Newt Gingrich, então líder da Câmara dos Representantes e da ala conservadora do Partido Republicano.
    Todavia nessa altura o diálogo nunca parou e Gingrich controlava a situação do lado republicano. Preocupava-se com o partido, tinha uma posição ideológica e um comportamento político. Levou a crise até conseguir o máximo de concessões sem se colar a uma posição inabalável nem a temas que sabia seriam tabus para o Presidente.
    Quando sentiu que a opinião pública lhe fugia o líder republicano encontrava um compromisso.
    A diferença de fundo entre Newt Gingrich e John Boehner é que Gingrich controlava os acontecimentos, liderava-os e dominava o partido; não tinha um “tea party”, um grupo sem liderança que se comporta como um partido dentro do partido. Para os mercados, então menos influentes, o diálogo nunca foi suspenso e os acordos surgiam mesmo que a Administração tivesse encerrado por duas vezes.
    O mais curioso é que não se está perante uma anomalia totalmente inesperada. Durante a campanha houve membros do “tea party” que disseram despudoradamente que com o controlo da Câmara dos Representantes, mesmo sem serem Governo, poderiam bloquear a Administração, paralisar o país o obrigar a Casa Branca a ceder.
    Até agora mostraram ser capazes de o fazer à excepção da cedência de Barack Obama, que se mostra inabalável na defesa do seu sistema de saúde. Embora Obama não seja Clinton, a opinião pública acusa os republicanos e isso preocupa os dirigentes do partido. Resta saber se estes terão força e margem de manobra para levar o “tea party” a jogar em equipa. (jornaldeangola.com)

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