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    Em Berlim, analistas avaliam futuro de Angola com João Lourenço

    Para politólogos europeus, Presidente angolano deve adotar medidas políticas e económicas que beneficiem o cidadão comum. Conferência sobre Angola na capital alemã terminou esta sexta-feira (08.12).

    O novo Presidente angolano, João Lourenço, dirige o país à sombra de José Eduardo dos Santos? Essa é a pergunta central da palestra apresentada esta quinta-feira (07.12) por Peter Meyns, professor de Ciência Política da Universidade Duisburg-Essen, da Alemanha, perante o público da conferência com foco em Angola, em Berlim.

    Meyns salientou que o Presidente angolano não terá total liberdade para agir, enquanto não assumir também a presidência de seu partido, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

    “Ele só terá as mãos livres, se conseguir também, em breve, assumir a liderança do partido. Mas não há perspetivas disso em vista. José Eduardo dos Santos permanece presidente do MPLA e tem, assim, grande influência. Tem-se a impressão de que Lourenço e Dos Santos agem um ao lado do outro, mas pode-se absolutamente duvidar sobre se isso permanecerá assim,” avalia o politólogo alemão.

    Para o estudioso, as exonerações e nomeações feitas pelo Presidente angolano não trazem algo de extraordinário, mas trata-se daquilo que todo novo chefe de Governo faz. No entanto, a exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol mostra uma clara postura do Presidente.

    “Ele sinaliza que quer exercer com segurança seu poder como Presidente. Porque antes de deixar o poder, o antigo Presidente Dos Santos mudou a estrutura da Sonangol para favorecer o poder de sua filha, Isabel dos Santos. Não se contava, com certeza, que João Lourenço tomaria uma decisão tão rápida a respeito. E isso mostra que ele quer ser senhor de si mesmo,” considera o analista.

    Expetativas da população

    Peter Meyns reconhece que os menos de três meses na presidência não foram suficientes para mudanças sociais e económicas, mas destaca serem exatamente essas as maiores expetativas da população angolana, perante João Lourenço.

    “O fosso entre ricos e pobres, em Angola, é profundo. O Governo anterior de Dos Santos ocupou-se pouco das preocupações e necessidades da maioria da população. De João Lourenço, é esperado que ele dê passos para superar essa lacuna. Significa que ele tem que tomar iniciativas que possibilitem uma vida melhor para a maioria da população,” finaliza o cientista político alemão.

    Também o consultor independente em política económica com foco em África, David Sogge, acredita ser tempo do governo do MPLA cumprir as promessas feitas há mais de 40 anos e atacar as necessidades básicas dos angolanos.

    “Mesmo com a paz relativa, o Governo do país tem sido inapto a responder decentemente e adequadamente às necessidades das pessoas e, ao invés disso, respondeu a uma classe privilegiada em Angola e a interesses fora do país – indo de banqueiros a vendedores de tecnologia e, epecialmente, as companhias mundiais de petróleo,” relata o estudioso holandês.

    Internamente, a ideia de diversificação da economia angolana deveria ser implementada com uma mudança do foco de atuação do Governo, no sentido de beneficiar o cidadão comum.

    “Encorajando, e, em alguns casos, forçando parte da classe política a deixar as amarras sobre aspetos da economia e a permitir uma classe de empresários a emergir, permitir aos fundos governamentais apoiarem o desenvolvimento da infraestrutura no meio rural – o que poderia permitir a Angola, por exemplo, ser novamente não mais dependente da importação da maioria dos alimentos, mas um país, em grande parte, autosuficiente,” sugere o especialista.

    Petróleo e diamantes

    David Sogge acredita que o dinheiro do petróleo e dos diamantes angolanos poderia estar na base desta mudança que promoveria fortemente o aspeto social, ao ser usado “para melhorar a base na qual Angola poderia diversificar, ou re-diversificar, sua economia”.

    O consultor em política económica sugere ao Presidente João Lourenço “usar o dinheiro para a agricultura, pesca, mas também para serviços turísticos”.

    “Mas a parte importante não é servir ao mundo externo com serviços, mas sim aos angolanos. E, o uso do dinheiro do petróleo para tal requer mudanças maiores e teremos que esperar e ver como esse dinheiro será reaplicado no futuro,” conclui.

    A conferência de dois dias sobre Angola foi organizada pela Associação Alemã de Informação sobre África Austral, na Afrika-Haus (ou Casa África, na tradução literal para o português, um local para a realização de eventos) em Berlim. (DW)

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