Jornal de Angola | Victor Carvalho
O novo líder do Conselho Militar de Transição no Sudão, tenente-general Abdel Fattah Abdelrahman Burhan, anunciou sábado à noite através da televisão a reestruturação das instituições do Estado, o fim do recolher obrigatório e a libertação de todos os presos políticos, uma forma de responder a algumas das exigências dos manifestantes que teimam em permanecer nas ruas.
Abdel Burhan, que há dois dias assumiu a liderança do Conselho Militar de Transição, reafirmou o compromisso com a paz e com as instituições democráticas e apelou à oposição para que o ajude a restaurar a tranquilidade no país.
Abdel Fattah Abdelrahman Burhan, prometeu que os militares vão promover um “firme combate à corrupção” e pediu que os manifestantes retomem a vida normal de modo a que o país possa funcionar na plenitude.
Tratou-se da primeira intervenção pública de Abdel Fattah Abdelrahman Burhan, na qualidade de novo líder do Conselho Nacional de Transição, na qual ignorou o facto de horas antes ter sido anunciado que dezenas de pessoas tinham morrido durante as manifestações para exigir a demissão de Omar al-Bashir devido a uma carga policial numa cidade do interior do país.
Pouco depois de terminar a intervenção, Abdel Fattah Abdelrahman Burhan foi confrontado com a exigência apresentada pela Associação dos Profissionais do Sudão, organização conotada com a oposição, de ser feita uma “imediata transferência do poder militar para as instâncias civis”.
Omar el-Digeir, líder do Partido do Congresso Sudanês, na oposição, exigiu aos militares que abram mão da “custódia exclusiva do poder”, chamando a sociedade civil para governar o país.
Negociação com a oposição
Na sequência da conferência de imprensa de Abdel Fattah Abdelrahman Burhan, o Conselho Militar de Transição anunciou o fim do recolher obrigatório, a libertação de todos os presos políticos e a demissão do chefe dos serviços de informações sudaneses, (NISS) Salah Gosh, principal agente de repressão à contestação popular no país e que contribuiu para a queda de Omar al-Bashir.
Na sexta-feira, o Conselho Militar, responsável pela transição, já tinha substituído o próprio chefe por suposta responsabilidade nos confrontos de Darfur, uma decisão recebida com satisfação pelos milhares de manifestantes que continuam até hoje mobilizados em frente ao Quartel-general do Exército de Cartum.
Gosh, que ocupou o cargo durante dez anos, até 2009, e voltou a chefiar os serviços secretos em 2018, supervisionou nos últimos quatro meses a repressão do movimento de contestação que levou à detenção de milhares de manifestantes, dirigentes da oposição e jornalistas.
No sábado à noite, os movimentos políticos que estão por trás dos protestos que levaram à queda de Omar al-Bashir reuniram-se pela primeira vez com os militares desde a saída do governante do poder.
O movimento político constituiu uma delegação de dez elementos para apresentar o que disse serem “as exigências do povo” ao Conselho Militar, reiterando a rejeição do exercício do poder pelo Exército.
O secretário-geral do Partido Baath Socialista Árabe no Sudão, Ali al-Sanhouri, disse, em conferência de imprensa, que está a ser feito um apelo à criação de vários órgãos de soberania civil para que governem o país durante a transição. Também no sábado, o Conselho Militar de Transição anunciou os dez membros que vão compor a delegação para prosseguir as negociações com a oposição e que será chefiada pelo líder das Forças de Apoio Rápido, Mohamed Hamdan Daqlo, actual vice-presidente daquele órgão.