Ao longo dos 45 anos de Independência Nacional, a participação das mulheres nas artes cénicas, com particular destaque para o teatro, tem crescido de forma exponencial, o que mostra o grande contributo por elas prestado para o crescimento desta disciplina artística no país.
Em declarações, ontem, ao Jornal de Angola, por ocasião do contributo da mulher angolana, em prol da afirmação do teatro no país, a actriz do grupo de teatro Julu, Conceição Diamante, referiu que durante décadas as mu-lheres foram remetidas para segundo plano.
“Poucas foram as actrizes que conseguiram ocupar um papel de destaque no teatro, cinema e televisão”, disse Conceição Diamante. Embora a afirmação da mulher artista angolana tenha sido feita num processo natural e gradual, ainda assim a actriz espera mais oportunidades nos mais variados sectores sociais, por reconhecer capacidades físicas e intelectuais para se imporem em qualquer lugar de governação.
O empirismo, realçou, foi ao longo dos anos a principal “escola da vida” dos fazedores de cultura no país, por inexistência de instituições especializadas para o ensino das artes, quadro que se tem vindo a alterar progressivamente nas últimas duas décadas.
“Catarina”, da telenovela de produção nacional “Revira Volta”, papel de maior relevância da sua carreira, valorizou os esforços e a dedicação das actrizes que têm dado um “valioso contributo” para a afirmação e igualdade do género.
“As políticas sobre a gestão da carreira artística no país precisam de ser mais proteccionistas e darem garantia de que no futuro os artistas possam tirar melhores vantagens da matéria”.
O teatro, disse, sempre se reinventou, mesmo depois do desaparecimento das poucas salas convencionais, com destaque para o Teatro Avenida. “Isso prova que as artes cénicas sempre tiveram pessoas dedicadas e, com todas as dificuldades, nunca desistimos e vamos continuar a caminhar até atingirmos os objectivos, que passam por uma maior dignidade para a classe artística”
Crescimento
A actriz referiu que nos últimos anos tem-se registado um crescimento exponencial das artes cénicas, com o surgimento de vários festivais nacionais e internacionais, promovidos por grupos e companhias de teatro angolanos.
Com maior visibilidade, destacou a realização do Circuito Internacional de Teatro (CIT), do projecto “Cultura para Todos”, da companhia de teatro Pitabel, e do Festival Internacional de Teatro do Cazenga (Festeca), promovido pela Associação Globo Dikulu – Acção para o Desenvolvimento Juvenil.
Figura incontornável das artes cénicas no país, com particular destaque para o teatro, Conceição Diamante manifestou-se congratulada pelo contributo prestado pelas mulheres na massificação das artes.
O grupo Julu, adiantou, tem desenvolvido um importante trabalho na promoção, sensibilização e formação da sociedade com o projecto de teatro comunitário que tem desenvolvido desde 1992, ano da realização das primeiras eleições gerais, realizadas no país.
A força de vontade e superação, na visão da actriz, torna os fazedores de teatro “verdadeiros heróis”, por tudo que passaram e ainda passam para tentar manter o teatro funcional: “Quando começámos a fazer teatro, era apenas por gosto e paixão pelas artes e nunca por dinheiro.
Na época, com apoios inexistentes, os próprios integrantes dos grupos eram ainda os que depositavam os parcos recursos que tinham para poder manter a estrutura funcional”, recordou.