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    A Simbologia do Papel

    Gabriel Baguet Jr (OJE)
    Gabriel Baguet Jr (OJE)

    A Sociedade de Informação como se define em termos globais e a emergência das novas Tecnologias de Informação não anularam, nem anularão o uso, o manuseamento, o fabrico e a importância que o papel tem no quotidiano das nossas vidas. Ocorreu-me debruçar-me um pouco sobre este tema ao comprar numa histórica livraria de Lisboa um pequeno livro intitulado as Invenções que Mudaram o Mundo. Escrito em língua francesa, os temas são tão diversos como a Invenção da Escrita, a Invenção da Roda, a Invenção do Livro, a Invenção do Telefone, passando pela Invenção do Cinema e a Invenção e a História do Papel. Considerando serem temas à escala actual pertinentes de abordagem pela analogia histórica e pela evolução tecnológica, retira-se destes temas os ensinamentos e como chegamos a outras soluções em pleno século XXI, mas no domínio do papel, verificamos e a curiosidade maior e a constatação é que afinal e como alguns pensavam ou previam o papel não acabou, não acabará e a Internet e as Novas Tecnologias coabitarão com o papel por muitos anos. Os jornais não acabarão. Os livros não deixarão de existir porque os suportes fundem-se na modernidade e na História. E achei pertinente debruçar-se sobre o tema pela diversidade, mas também pela analogia que afinal o Papel em cada sociedade do mundo vai tendo no nosso dia-a-dia. Afinal tudo tem uma origem e eu próprio desconhecia onde o papel tinha sido inventado.

    Do ponto de vista histórico a palavra papel vem do latim papyrus e faz referência ao papiro, uma planta que cresce nas margens do rio Nilo no Egipto, da qual se extraia fibras para a fabricação de cordas, barcos e as folhas feitas de papiro para a Escrita. Quando a Escrita surgiu segundo historiadores e estudos há mais de 6 mil anos atrás, as palavras eram inscritas em tabuletas de pedras ou argila. A forma mais original de Escrita era a cuneiforme. Por volta de 3000 a.C., os egípcios inventaram o papel. Depois vieram os pergaminhos feitos de couro curtido de bovinos, bem mais resistentes. Finalmente, o papel seria inventado na China 105 anos depois de Cristo (d.C.), por T’sai Lun. De acordo com pesquisas feitas, o Inventor T´sai Lun fez uma mistura humedecida de casca de amoreira, cânhamo, restos de roupas, e outros produtos que contivesse fonte de fibras de vegetais. Bateu a massa até formar uma pasta, peneirou-a e obteve uma fina camada que foi deixada para secar ao sol. Depois de seca, a folha de papel estava pronta. A técnica, no entanto, foi guardada a sete chaves, pois o comércio de papel era bastante lucrativo. Somente 500 anos depois de o papel ter sido inventado, os japoneses conheceram o papel graças aos monges budistas coreanos que lá estiveram. Mas há uma outra curiosidade. Em 751 d.C, os chineses tentaram conquistar uma cidade sob o domínio árabe e foram derrotados. Nessa ocasião, alguns artesãos foram capturados e a tecnologia da fabricação de papel deixou de ser um monopólio chinês. Mais tarde segundo investigadores, a presença árabe e africana do norte de África que invadiu a Europa, mais precisamente a Espanha lá deixaram uma forte influência cultural e tecnológica. Foi assim, que os espanhóis conheceram também a técnica de dobrar papéis que ficou conhecida como papiroflexia.O processo básico de fabricação de papel criado por T’sai Lun foi sendo sofisticado e que possibilitou uma imensa diversidade de papéis quanto à texturas, cores, maleabilidade, resistência e funcionalidade. A simples folha A4, os diferentes tipos de envelopes, os postais ilustrados, as fotografias, os documentos históricos, os livros que lemos e jornais e revistas que consumimos no nosso quotidiano, afinal não deixaram de ter o papel como suporte e inclusive, o próprio uso por razões ecológicas e não só, do papel reciclado. Talvez por isso se fale hoje tanto em celulose e na sua importância.

    E nesse sentido a fibra vegetal que nos referimos antes é à celulose, um dos principais constituintes das plantas e um polímero formado de pequenas moléculas de carbohidratos, a glicose. A celulose pode também ser usada para a fabricação de tecidos quando extraída do algodão, cânhamo, chita ou do linho. Potencialmente, qualquer planta produtora de celulose é fonte de matéria-prima para a produção de papel.

    Porém, para produzir 1 tonelada de papel são necessários, em média, 24 árvores. Ou seja, a preservação do ambiente também determinará a prazo a produção do papel.A quantidade e a qualidade do papel vão determinar o tipo de madeira e de planta que será utilizada. Actualmente, a produção de papel industrial usa duas espécies de árvores cultivadas em larga escala: o pinheiro (Pinus sp.) e o eucalipto (Eucalyptus sp), ambas originárias, respectivamente da Europa e da Austrália. O papel feito a partir de madeiras de reflorestamento ajuda a amenizar as práticas de desmatamento e ajuda a preservar as florestas naturais. Outra prática que atenua as problemáticas ambientais devido ao consumo de papel é a sua reciclagem, processo que ainda não ocorre de forma plena em muitos lugares do mundo. Coabitamos com os computadores, mas não deixaremos nunca de coabitar com o papel, fonte da História para a História do Livro e da Imprensa em todo o mundo. A simbologia do papel está ligada a vários aspectos da vida, incluindo os documentais porque sem eles e pela perda das fontes orais em alguma regiões e Culturas ao longo da História da Humanidade, foi o papel o suporte para a continuidade do conhecimento ancestral e a fonte para múltiplas aprendizagens. Sem ele, parte da História tinha-se perdido. Porque recordando o Poeta angolano Ayres de Almeida Santos, ainda dá gosto escrever uma carta em “papel perfumado”. As Novas Tecnologias têm o seu mérito. Mas o Papel não deixa de ter o seu e foram milhares e continuam a ser múltiplas as gerações que ao longo da História da Humanidade tiveram e continuam a ter contacto com o Papel como fonte de conhecimento e de saber. Porque também pelo Papel nos entendemos e comunicamos. (opais.co.ao)

    por Gabriel Baguet Jr

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