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    Um ano depois da queda de Mugabe no Zimbabué: A perspectiva alemã

    Um ano depois da queda de Robert Mugabe o Governo da Alemanha parece ter perdido a esperança de que a saída do ex-Presidente possa colocar o Zimbabué no rumo da democratização, depois de décadas de regime autoritário.

    Aos olhos dos observadores ocidentais, o Governo de Emmerson Mnangagwa não conseguiu reformar o sistema judicial ou as forças de segurança do país, pilares fundamentais do regime Mugabe. “Críticos dizem ainda que a opressão aos políticos da oposição, jornalistas e organizações da sociedade civil continua”, explica David Mbae, diretor da fundação alemã Konrad-Adenauer no Zimbabué.

    David Mbae adianta: “Estamos a falar de questões como as liberdades de imprensa, de expressão e de reunião, ou o respeito pelos direitos fundamentais, que são pontos sobre os quais o Governo deu sinais bastante positivos e até deixou claro, simbolicamente, que queria iniciar reformas, mas na prática não aconteceu muita coisa e é provavelmente isso que os parceiros internacionais esperavam”.

    Polémicas eleições pós-Mugabe

    As eleições presidenciais controversas, no final de julho, prejudicadas por acusações de fraude e protestos violentos, também não contribuíram para aumentar a confiança alemã. No início de agosto, as forças de segurança mataram seis pessoas em protestos contra atrasos na divulgação dos resultados das presidenciais. O Governo do Zimbabué, por outro lado, tem repetidamente tentado atrair investidores privados e nações ocidentais e prometido publicamente restaurar as relações com países ocidentais como a Alemanha ou a Grã-Bretanha.

    Retoricamente, pelo menos, é um desvio notável da política de “olhar para o leste” de Mugabe, que procurou laços mais estreitos com a China nos últimos anos, depois que as relações com os partidos ocidentais azedaram no início dos anos 2000. A Alemanha suspendeu toda a assistência bilateral ao desenvolvimento em 2002, após um aperto autoritário por parte de Mugabe, que incluiu a apreensão de fazendas pertencentes a brancos e ataques crescentes contra políticos da oposição e da sociedade civil e órgãos de imprensa independentes.

    Governo alemão cortou apoio financeiro ao Zimbabué

    Berlim, desde então, reduziu o apoio à ajuda humanitária e a assistência a várias organizações da sociedade civil e fundos multinacionais. Esse é um capítulo que o novo Governo do Zimbábue gostaria de fechar: “Concordamos que devemos intensificar o reengajamento”, disse o ministro das Finanças, Patrick Chinamasa, a repórteres, após uma visita do ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, a Harare, no final de agosto.

    Entretanto Chinamasa foi substituído, no cargo de ministro das Finanças, por Mthuli Ncube, em setembro de 2018. “Também discutimos a necessidade de criar empregos no Zimbabué. Em outras palavras, queremos expandir e incorporar unidades de formação profissional. Também discutimos linhas de crédito”, disse ainda Chinamasa.

    O país precisa desesperadamente de assistência financeira, afirma David Mbae, em entrevista à DW África: “A situação da economia continua precária. A inflação aumentou drasticamente, os preços dos alimentos subiram muito e os salários estão estagnados. A sobrevivência da população comum está muito mais difícil. Faltou pão, óleo de cozinha, gasolina e às vezes era preciso ficar em filas por horas para conseguir gasolina.”

    Mas fontes diplomáticas em Berlim dizem que as condições para as linhas de crédito ainda não foram cumpridas. A Alemanha insiste na implementação de reformas políticas e económicas pelo Governo de Mnangagwa. Atualmente a dívida do Zimbabué soma mais de 11 mil milhões de dólares. Uma delegação liderada por representantes do Ministério da Cooperação Económica e do Desenvolvimento da Alemanha é esperada em Harare para negociações, no final deste mês. Mas um porta-voz disse à DW que o ministério não planeia assumir nenhum compromisso neste ano ou no próximo.

    Oposição na Alemanha defende retomada da ajuda à sociedade civil

    A oposição política da Alemanha quer mais pressão internacional sobre o Governo do Zimbabué. O porta-voz parlamentar para Cooperação e Desenvolvimento do Partido “Os Verdes”, Uwe Kekeritz, defende a retomada da ajuda, mas em cooperação com a sociedade civil e não com o Governo do Zimbabué”: “Eu realmente não vejo nenhuma mudança política, muito menos em termos de desenvolvimento de estruturas democráticas. A questão dos direitos humanos permanece problemática, a situação económica está também a degradar-se, as pessoas estão a passar fome. Por isso, é importante que a comunidade internacional intervenha aqui e forneça ajuda humanitária”. (DW África)

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