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O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, ganhou a corrida à liderança do Partido Conservador. O título vale também a sucessão de Theresa May, esta quarta-feira, como primeiro-ministro do Reino Unido e novo líder do processo do “brexit” previsto para 31 de Outubro.
Derrotou o ainda ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, com 66% dos quase 150 mil votos expressos.
Pela primeira vez, os conservadores elegeram também, mas de forma indirecta, o novo primeiro-ministro, o que acaba por ser decidido, curiosamente, por apenas 0,2% da população britânica.
As derradeiras horas de Theresa May
Derrotada após três rejeições parlamentares do acordo celebrado com Bruxelas para o “brexit”, Theresa May anunciou a demissão em lágrimas a 24 de maio, cumpriu a derradeira reunião do executivo esta terça-feira.
A líder demissionária dos tem um último ato enquanto primeira-ministra na manhã de quarta-feira, numa das habituais sessões de perguntas e respostas do chefe do Governo britânico perante o Parlamento. Segue-se à tarde a entrega da demissão à Rainha.
Após a renúncia de May e pouco mais de 24 horas após o anúncio da eleição como novo líder dos Conservadores, Boris Johnson será recebido no Palácio de Buckingham pela Rainha Isabel II para ser instituído como primeiro-ministro e convidado a formar Governo.
O Partido Trabalhador, de Jeremy Corbyn, não demorou a reagir. Num post em que convidam à “partilha da verdade” sobre o futuro primeiro-ministro, dizendo “não pode confiar em Boris Johnson.”
“Brexit”: A longa novela da política britânica
A principal tarefa do novo chefe de Governo será conduzir o processo de saída da União Europeia (UE): o “brexit” foi fixado por mútuo acordo com Bruxelas para ocorrer em 31 de Outubro.
Boris Johnson abalou o Parlamento com a exigência de cumprir o prazo do “brexit”, com ou sem acordo, tentando pressionar Bruxelas a aceitar a renegociação dos termos da saída britânica da UE.
Antigo apoiante do “remain” (termo para os que defendiam a permanência na UE), Jeremy Hunt admitia pedir mais tempo para também ele negociar um novo acordo de saída com melhores possibilidades de ser aceite pelo Parlamento britânico do que o acordado por Theresa May;
A UE já fez saber que o acordo já alcançado é o único possível para uma saída “a bem” do Reino Unido.
O Partido Conservador apenas se tem mantido no poder porque tem o apoio dos 10 deputados eurocépticos do Partido Unionista Democrático, da Irlanda do Norte.
Entre os Conservadores há opositores ao “brexit” e outros contra uma saída sem acordo da UE, e isso revela-se um forte obstáculo ao sucesso da saída prometida por Boris Johnson – há até quem ameace fazer cair o governo para evitar um “no deal”;
Dois sub-secretários de estado já anunciaram a saída do Governo perante a estratégia anunciada por Boris Johnson.
O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Alan Duncan, demitiu-se na segunda-feira e disse ter proposto, sem sucesso, à Câmara dos Comuns uma avaliação à capacidade do novo líder conservador para formar Governo.
O ministro da Justiça Davis Gauke, o ministro das Finanças (“chancellor”) Philip Hammond e o secretário para Desenvolvimento Internacional Rory Stewart ameaçam bater com a porta caso “BoJo”, como também é conhecido Johnson, fosse mesmo o eleito para liderar o partido.
Garantida a vitória na corrida à liderança do Partido Conservador, o futuro político a breve prazo não se afigura fácil para o novo primeiro-ministro do Reino Unido.