O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, rendeu ontem, em Luanda, homenagem a André Mingas, falecido terça-feira passada, em São Paulo, Brasil, vítima de doença prolongada.
Acompanhado da esposa, Ana Paula dos Santos, o Chefe de Estado angolano, no átrio principal da Liga de Amizade e Solidariedade para com os Povos, posicionou-se diante da urna, enquanto se ouvia o Hino Nacional.
De seguida apresentou cumprimentos aos membros da família, para depois escrever, no Livro de Condolências, que o malogrado foi “um homem do bem, inovador, situado no seu tempo e espaço”.
André Mingas, segundo ainda o Presidente José Eduardo dos Santos, era possuidor de um grande espírito patriótico e génio indomináveis. Também evocou os seus feitos, na música, na arquitectura, na política e em outras áreas.
“O seu legado deve ser preservado e desenvolvido”, escreveu o Presidente José Eduardo dos Santos, que aproveitou o momento para exprimir “dor, tristeza e consternação” pelo infausto acontecimento.
O vice-presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, os presidentes da Assembleia Nacional, Paulo Kassoma, e do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira, bem como outras individualidades, prestaram igualmente tributo.
As homenagens prosseguiram durante todo o dia de ontem, no mesmo local. O funeral está marcado para esta manhã, no Cemitério de Sant’ Ana. Antes vai ser rezada uma missa de corpo presente, na Igreja da Sagrada Família.
Emoção à chegada
A urna com o corpo do arquitecto e músico André Mingas chegou às 4h30 de ontem ao Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, proveniente de São Paulo, Brasil, onde morreu de cancro, aos 61 anos.Num ambiente de prantos e profunda consternação, familiares, colegas de trabalho, amigos e várias individualidades estiveram presentes para a primeira homenagem ao autor de “Mufete” e “Tchipalepa” e outras brilhantes canções.
No panorama musical angolano, André Mingas foi tido como um dos poucos artistas que misturou a urbanidade e o subúrbio e transformou um programa televisivo de jazz num projecto comum de música pura e que conseguiu juntar o Semba ao jazz numa única canção. “Coisas da Vida”, gravado há 30 anos, foi o seu primeiro álbum. Já naquela altura misturava ritmos angolanos, como o Semba, com sonoridades do jazz e do rock. Juntamente com Filipe Mukenga e Waldemar Bastos fez parte de uma geração de ouro de músico, que emergiu e teve êxito nos anos 1970 e 1980.
O ministro da Saúde, José Van-Dúnem, o director regional para África da OMS, Luís Gomes Sambo, e a Comandante Provincial de Luanda da Polícia, comissária Elizabeth Rank Frank, estiveram no Aeroporto para receber André Mingas no seu regresso ao país.
Várias mensagens continuam a chegar à Redacção do Jornal de Angola. O ministro do Interior, Sebastião Martins, manifesta, em nota, a sua consternação pelo falecimento de André Mingas, referindo que o “triste acontecimento abalou a sociedade em geral”, por este ter sido “uma ilustre figura que em vida emprestou todo o seu saber e empenho nas distintas áreas em que esteve engajado”.
“O país perde, assim, um homem cujo desempenho contribuiu, de forma indelével, para o desenvolvimento e afirmação da cultura angolana. Estamos convictos que o seu auxílio à cultura e política se transforma em obra de inigualável tributo, um exemplo que certamente vai ser seguido pelas novas gerações”, lê-se na nota assinada por Sebastião Martins.
O ministro Sebastião Martins, em nome dos oficiais comissários, superiores, oficiais subalternos, sargentos, agentes e trabalhadores civis, endereça à família enlutada as mais sentidas e profundas condolências por este doloroso acontecimento.
O ministro dos Transportes também lamenta a morte do arquitecto e músico André Mingas. Na mensagem de condolências endereçada à família, Augusto Tomás refere que “a morte inesperada de André Mingas deixa mais pobre o universo intelectual angolano, a julgar pelas suas qualidades de mestre em arquitectura e urbanismo, político, cantor e compositor de reconhecida competência”.
“André Mingas faz parte da geração de intelectuais ousados da nossa sociedade que soube emprestar maturidade e sabedoria à Nação angolana, para tornar o país cada vez mais próspero para se viver”, escreve o ministro Augusto Tomás.
Como músico, André Mingas deixa um legado onde se destacam os temas “Esperança”, “Mufete” e “Tchipalepa”. “Coisas da Vida”, gravado há 30 anos, foi o seu primeiro álbum. Exerceu o cargo de vice-ministro da Cultura, tendo sido criada durante o seu mandato a Sociedade de Autores Angolanos, a SADIA. André Mingas foi assessor do Presidente da República para os assuntos locais e regionais.
O arquitecto André Mingas estudou na Universidade Agostinho Neto e posteriormente na Universidade Técnica de Lisboa. Mestre em Arquitectura e Urbanismo, foi formador de quadros em Portugal, onde também leccionou na Universidade Lusófona de Lisboa.
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: Rogério Tuti