Economista, o futuro presidente da Câmara de Lisboa é um ferrenho benfiquista desde cedo ligado à política, mas não aos partidos
Vai ser o próximo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, só ainda não se sabe quando. Aos 41 anos, Fernando Medina prepara-se para suceder a António Costa no cargo. À sua frente terá praticamente todo um mandato. E há quem admita que, mais do que isso, pode ter pela frente, ainda que num futuro mais ou menos distante, uma nova hipótese de sucessão de Costa.
A política acompanha Fernando Medina desde o berço. É filho de Edgar Correia (já falecido) e Helena Medina, dois dirigentes históricos do PCP – o pai vivia na clandestinidade quando o filho nasceu, a 10 de Março de 1973. Foi o próprio Fernando Medina quem, em 2007, contou à revista “Visão”: “Aos 18 anos, o meu pai contou-me que soube do meu nascimento na clandestinidade, através de um anúncio de jornal”, colocado pela mãe (que era também funcionária do PCP). “Dizia: ‘Perdeu-se uma mala de senhora no comboio Lisboa-Porto’. O sentido da viagem determinava se eu tinha nascido rapaz ou rapariga”. Edgar Correia e Helena Medina acabariam por deixar o PCP no início do século. O filho nunca por lá passou.
Medina envolve-se desde cedo na intervenção política, mas sem filiação partidária – não passará pelas jotas. Dirigente associativo na Federação Académica do Porto trava aquele que é o grande combate estudantil dos anos 90 – a luta contra as propinas.
No PS pela mão de Guterres A educação será, precisamente, a porta de entrada de Medina no mercado de trabalho – foi assessor de António Guterres para a educação, ciência e tecnologia. É ao ex-primeiro-ministro (de quem é ainda próximo) que se deve a entrada do economista nas hostes socialistas: em Dezembro de 2001 Guterres anuncia a demissão do governo, Fernando Medina inscreve-se no PS.
Mas é em 2005, com o primeiro executivo de José Sócrates, que ganha protagonismo. Eleito deputado, é chamado para o cargo de secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional. Vieira da Silva é o ministro com a pasta do Trabalho e Medina tornar-se-á no seu braço-direito, uma ligação que se vai prolongar anos a fio e que aproximará Medina de José Sócrates. Vieira da Silva é um dos membros do núcleo duro do primeiro-ministro, ao qual Medina acabará também por aceder. A par de Pedro Marques e João Tiago Silveira, o jovem economista surge então como um dos novos valores socialistas. Mesmo que o seu mandato na secretaria de Estado do Emprego tenha ficado marcado por uma subida assinalável da taxa de desemprego.
Em 2009, com o PS a renovar a vitória nas legislativas, mas sem maioria absoluta, Medina mantém-se no executivo, então como secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento. E novamente como número dois de Vieira da Silva, que então assume a pasta da Economia. A partir de 2010 passará a ser porta-voz do PS, sucedendo a João Tiago Silveira. Nas legislativas de Junho de 2011 foi o cabeça-de-lista do partido pelo distrito de Viana do Castelo.
sucessor E candidato à sucessão? Discreto, com um discurso consistente, manteve uma postura de alguma reserva nas disputas internas socialistas que se sucederam à saída de José Sócrates. É apontado como um nome próximo da ala esquerda do partido, ao mesmo tempo que é tido como um moderado. Nesta legislatura foi-se destacando em algumas intervenções na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, acabando por trocar o parlamento pela Praça do Município.
A subida de Fernando Medina à presidência da câmara da capital está pré-anunciada desde que, em 2013, foi apresentado como o número dois da lista de António Costa à autarquia. Há muito quem garanta no PS que a escolha já foi feita precisamente a pensar na sucessão, como uma solução de continuidade. Com o ainda vice-presidente (que tem também o pelouro das Finanças) a subir à liderança da autarquia, há pelo menos uma coisa que não vai mudar na cúpula da câmara – como já sucedia com Costa, continuará a ser ocupada por um ferrenho benfiquista. Que gosta de jogar ténis pela manhã, a que junta um outro hobby bem mais difícil de praticar na capital – o mergulho. Medina é casado e tem um filho.
No desempenho do ex-deputado à frente dos destinos da capital até 2018 (ano das próximas eleições autárquicas) poderá ainda estar a resposta a uma pergunta sobre o futuro socialista. Nome de topo entre a nova geração de socialistas, Fernando Medina é visto no partido como um muito provável futuro candidato à liderança do PS, quando a disputa do poder passar para a próxima geração. (ionline.pt)
por Susete Francisco