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    Regime sírio opera pelo menos 27 centros de tortura no país

    “Estava a regressar de um exame na quinta-feira. O meu tio e eu atravessámos o primeiro posto de segurança e continuámos a andar. Parámos no segundo, perguntaram-nos os nossos nomes e começaram a bater-nos”, contou um rapaz, que nem quinze anos deve ter, à Human Rights Watch (HRW). Segundo um relatório divulgado hoje pela organização não governamental, existem na Síria pelo menos 27 centros de detenção, a cargo dos serviços secretos estatais onde opositores ao regime, dissidentes e até crianças e mulheres são torturados.

    O documento de 81 páginas – intitulado “Arquipélago da Tortura: Detenções Arbitrárias, Tortura e Desaparecimentos Forçados nas Prisões Clandestinas da Síria desde Março de 2011” – mostra o que está a passar no país do presidente Bashar al-Assad e apela ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para levar a situação ao Tribunal Penal Internacional (TPI).

    “As agências dos serviços secretos comandam uma rede de centros de tortura espalhados por todo o país”, garante Ole Solvang, investigador da HRW. “Através da publicação das localizações, da descrição dos métodos de tortura e da identificação dos responsáveis, estamos a colocá-los numa situação em que vão ter de responder por estes crimes horríveis”, acrescentou o investigador.

    “Tinham bastões com eles. Estavam vestidos de preto e ténis. Bateram-nos durante cinco minutos, puseram-nos no porta-bagagens de um carro e vendaram-nos os olhos. Meteram-nos numa sala muito pequena. Cheirava muito mal. Havia ratos e baratas. Depois, de cinco em cinco minutos, abriam a janela de metal na porta, cuspiam-nos para cima e diziam: ‘Porcos, querem liberdade? Querem derrubar o regime?’ Interrogaram-me três vezes”, continua o rapaz, cujo rosto está protegido pela imagem desfocada.

    No vídeo da HRW, antes dele, fala um homem que foi torturado na prisão central de Idlib. “Puseram-nos um aparelho metálico com quatro ganchos entre as pernas, para nos esmagar os genitais. Torcendo e apertando os testículos, um contra o outro”, conta o homem na gravação sem deixar que filmem o seu rosto. “Gritas muito alto e começas a dizer-lhes o que eles querem ouvir contra ti”, acrescentou.

    Segundo a organização, que entrevistou mais de 200 pessoas para elaborar este relatório, é provável que existam muito mais centros de detenção usados pelos serviços secretos. “O alcance e desumanidade desta rede de centros de tortura é verdadeiramente horrível. A Rússia não devia estar a proteger as pessoas responsáveis por isto”, defendeu Solvang. Não tendo Damasco ratificado o estatuto de Roma, criado pelo TPI, o tribunal apenas pode julgar e condenar os responsáveis pela situação na Síria, caso o Conselho de Segurança da ONU adopte uma resolução que o permita fazer, tentativa que já foi várias vezes vetada por Moscovo e Pequim.

    “Na primeira vez que fui interrogado, perguntaram-me o nome do meu pai. Eram sempre as mesmas perguntas. Estava com os olhos vendados, mas deviam ser dois homens. Ouvia duas vozes. Interrogaram-me e levaram-me de volta para a cela. Na segunda vez, começaram a questionar-me e a electrocutar-me. Desmaiei por cerca de cinco minutos. Quando recuperei os sentidos, estava na cela mas o meu tio não estava comigo. Talvez estivesse a ser interrogado. Na terceira e última vez que me interrogaram, arrancaram-me as unhas. Tinham alicates, ou qualquer coisa parecida com um alicate que usaram”, concluiu o rapaz do vídeo.

    FONTE: IONLINE

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