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    “Quem vem hoje aos Dembos pensa que ainda há guerra, devido à miséria” – Adjunto do príncipe dos Dembos

    Chegar aos Dembos, passando pela comuna Úcua, não é tarefa fácil para nenhum condutor devido aos constrangimentos que a via oferece e pela quantidade de curvas e contra-curvas que é preciso enfrentar. A via de acesso é estreita e esburacada e não há qualquer sinalização. Apesar de existir ligação por estrada com a cidade de Caxito e a vizinha província do Uíge, o município não se desenvolveu do ponto de vista económico e social. Os habitantes lamentam a falta de sinais de crescimento, e, de promessas, dizem, estão cansados.

    O Novo Jornal esteve esta semana nos Dembos, um município que existe há 101 anos e está localizado a 180 quilómetros a norte da cidade de Caxito, província do Bengo. Falou com Félix João fula, o adjunto do príncipe dos Dembos, Don Afonso Salvador, que contou que viver nos Dembos não é fácil e a pouca atracção social e turística não ajuda o município, onde parece que a guerra não terminou.

    “Quem vem hoje aos Dembos pensa que ainda há guerra, devido à miséria. Enquanto os outros municípios se desenvolveram, aqui, o Governo só olha, infelizmente”, lamenta.

    O único asfalto, prossegue, “é o da vila sede de Kibaxe (na foto) o resto é terra batida e muito esburacada, onde as viaturas circulam com dificuldade”.

    Segundo Félix João fula, há nos Dembos projectos lançados e que nunca arrancaram, o que entristece a população que se sente esquecida.

    Com uma superfície de 1.170 quilómetros quadrados, o munícipio é constituído pelas comunas de Kibaxe, Coxe, Paredes e Piri, e divide fronteira com a província do Uíge.

    A vila sede é na comuna do Kibaxe e o município é limitado a norte por Nambuangongo e Quitexe, a este por Bula Atumba, a sul por Pangu Aluquém e a oeste pelo Dande, mas isso não ajuda os Dembos, onde o hospital está “há vários meses paralisado”.

    “Fazemos as consultas e tratamentos num local impróprio para tal e sem medicamentos”, contou ao Novo Jornal o adjunto do príncipe dos Dembos.

    Há falta de água potável, de energia eléctrica e infra-estruturas de apoio aos serviços administrativos, bem como a carência de médicos e enfermeiros. O único gerador que fornece energia ao município trabalha apenas cinco horas ao dia, ao seja, das 18 a 23.

    Fernandes João Afonso, morador do Piri, em conversa com o Novo Jornal, contou que assistir aos canais públicos da de televisão (TPA e TV Zimbo) e ouvir o canal principal da Rádio Nacional de Angola (RNA), bem como aceder à internet, é um bicho-de-sete-cabeças, face às dificuldades que encontram.

    Esta situação, segundo Fernandes João Afonso, faz com que a juventude fique muitas vezes desinformada.

    Ana Maria Cachiungo, também moradora dos Dembos, lamenta o facto de o município não ter uma instituição bancária nem serviços de identificação.

    “Nós aqui sobrevivemos. Para levantar dinheiro no banco temos que viajar até Caxito e fazer tudo lá. Aqui é somente para morar e nada mais, não há nada”, relatou.

    No entanto, o Novo Jornal constatou nos Dembos que a comuna do Coxe é a mais crítica por “praticamente” não existir ligação com a vila sede.

    A única via existente encontra-se inoperante e a população clama pela construção de uma ponte junto ao “Rio Tanda” que ligue a vila de Kibaxi à comuna do Coxe.

    A travessia é feita por cima de pedras improvisadas, e somente quando o caudal do rio estiver com baixo nível de água.

    Quando chove com muita intensidade, os habitantes da comuna do Coxe ficam mais de três dias isolados, à espera que o caudal baixe, uma situação que, segundo os moradores, já dura há largos anos.

    Quanto às escolas, existem nos Dembos poucas instituições, por isso, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), estão previstas seis novas escolas para alterar o quadro, apurou a reportagem do Novo Jornal.

    Administração reconhece dificuldades

    O administrador, Fonseca Miguel Canga, reconhece todas as dificuldades apontadas pelos moradores e lamenta não possuir capacidade financeira para inverter este “quadro difícil”. Conta que a administração municipal dos Dembos arrecadou de Janeiro a Março deste ano apenas 45 mil kwanzas, valor proveniente das receitas locais. O município, diz, depende única e exclusivamente do Orçamento Geral do Estado (OGE) e “não produz absolutamente nada”.

    “Neste momento não produzimos. De Janeiro a Março a administração municipal do Dembos arrecadou apenas 45 mil kz, esse valor é zero. Mensalmente gastamos milhões de kwanzas em diversos serviços”, avançou.

    Fonseca Miguel Canga lamentou o facto de alguns projectos e programas dos municípios serem ainda padronizadas pelo Governo central, o que, no seu entender, não deveria acontecer.

    O responsável salientou que o município dos Dembos está há mais de 20 dias sem receber, da parte da PRODEL, combustível para abastecer o gerador que fornece luz eléctrica ao município, uma situação que tira o sono à administração local, que teme por dias ainda piores.

    A falta de luz eléctrica e de água potável, segundo o administrador, é o principal problema que a população enfrenta nos Dembos.

    “Esses sãos os nossos principais problemas, não descanso porque a população não tem água”, lamentou, acrescentando que “o abastecimento de água às populações é feito por motorizadas”.

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