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    Os novos líderes chineses

    Desde que na passada quinta-feira teve início em Pequim o 18º congresso do Partido Comunista chinês, que deverá consagrar a transição de poder de Hu Jintao para Xi Jinping, várias manifestações de presença militar têm-se multiplicado quer no Mar da China quer junto de territórios disputados.
    Ao contrário do que tradicionalmente ocorria Hu Jintao deixou saber que abandonaria também as suas funções junto dos militares, que equivale à de comandante em chefe, ao contrário do que sucedeu no 17º congresso, quando ascendeu ao poder e teve de coexistir durante dois anos com a autoridade do seu predecessor à frente da poderosa Comissão Militar. A confirmar-se esta disposição de Hu Jintao, de 70 anos, rompe uma prática iniciada após a sucessão a MaoTseTung.
    Xi Jinping, com apenas 59 anos, iniciará deste modo um mandato dispondo de plena autoridade (tanto quanto é possível dentro do quase imutável funcionamento do PCC, da tradição e das forças que se movimentam) sobre todos os sectores de poder na China.
    Nos meses que precederam o congresso, que termina esta semana, a China fez várias demonstrações do seu poderio militar em zonas de soberania disputada, do Japão às Filipinas, sem esquecer claro a “província dissidente” de Taiwan. Mas não só; dirigentes chineses, entre os quais o putativo líder Xi Jinping, passaram a considerar a projecção de forças, com outro nome, chegando mesmo a sustentar uma partilha de influência dos Estados Unidos, o fim da hegemonia americana nos mares.
    Para os aliados de Washington na região, do Japão à Austrália, a situação financeira nos EUA levanta sérias questões sobre a capacidade americana de continuar a garantir as alianças militares e de defesa que existem desde o final da Segunda Guerra Mundial e se multiplicaram e consolidaram durante a Guerra Fria. O envolvimento dos EUA em várias frentes no Médio Oriente, iniciado ou acentuado por George W. Bush (filho), a crise financeira decorrente do neoliberalismo desenfreado do anterior presidente apenas agravaram a economia “voodoo” (o início da ditadura dos mercados) herdada de Reagan mergulhando o país num défice avassalador que consumiu o superavite deixado por Bill Clinton.
    (A expressão “economia voodoo” não foi inventada por um qualquer keynesiano ou político liberal mas por George H. Bush (pai) quando disputava a nomeação republicana com Reagan, de quem foi vice-presidente.)
    Enquanto os EUA exportavam a crise do Lehaman Brothers e dos subprimes para uma Europa dominada por Berlim e a zona euro mergulhava e mergulha em profunda crise à escala europeia, a China abria caminho assegurando no Terceiro Mundo, rico em matérias-primas, o seu abastecimento. Fê-lo e continua através da abertura de linhas de crédito que propiciam o escoamento dos seus produtos, a consolidação da internacionalização das suas empresas.
    A China despertava e, ao contrário de muitas teses, despertava para em breve assumir uma vocação expansionista, procurando não só ocupar o espaço deixado vago pela defunta União Soviética como disputando as tradicionais áreas de influência dos Estados Unidos e mesmo da Europa.
    O investimento chinês na Defesa cresceu e cresce em paralelo com o seu PIB, mesmo que este tenha crescimentos acelerados por investimentos internos de duvidosa rentabilidade, mas o que se passa na China fica na China. Este aumento de investimento na Defesa tem sido acompanhado de uma quase política de canhoneira com o desenvolvimento da Marinha e sua visibilidade e por vezes mesmo pequenas escaramuças nas zonas que Pequim considera não só do seu interesse estratégico como aquelas sobre as quais tem reivindicações de soberania. Casos que ocorrem no Mar das Filipinas ou no Leste do Mar da China junto de um conjunto de ilhas desabitadas que o Japão comprou e considera suas.
    Esta pressão é também um teste à reacção dos Estados Unidos e seus aliados no arco Ásia-Pacífico, estratégico do ponto de vista económico e de segurança para Washington e seus aliados de Singapura à Austrália, Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Ao longo deste ano, e com especial destaque para o período da campanha e eleições nos EUA a pressão acentuou a tensão com o Japão, em especial a semana passada na abertura do 18º congresso do Partido Comunista.
    Alguns mais optimistas procuram ver no putativo dirigente Xi Jinping um reformista, apenas porque inaugura a transição geracional na China. Todavia, Xi Jinping, que nos últimos anos visitou mais países estrangeiros que os seus antecessores em décadas ligados ao topo da hierarquia, está preparado para as questões internacionais e dela consideravelmente bem inteirado, dizendo-se dele que tem excelentes relações no Exército Popular de Libertação. Não escondendo o seu interesse em Taiwan e na “partilha” de influência dos Estados Unidos.
    Do novo dirigente chinês poder-se-á esperar mais do mesmo e não necessariamente com um ar mais simpático ou uma face que de um lado sorri e do outro mostra um semblante sério.
    A sucessão não surpreende nem as intenções objectivas deverão sofrer alteração. O complexo militar industrial chinês avança a passos largos embora ainda esteja a alguns anos de distância do potencial das alianças militares lideradas pelos EUA.

    Horizontes
    Benjamim Formigo

    Fonte: JA

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