Seis anos depois de ter dado um passo no caminho rumo à democracia, o golpe militar, desta segunda-feira, em Myanmar, adia o sonho de um país que se achava livre. Centenas de deputados, incluindo a líder birmanesa Aung San Suu Kyi, estão actualmente em prisão domiciliária.
As detenções e o golpe militar ocorreram no dia em que o Parlamento eleito nas legislativas, que deram maioria absoluta à Liga Nacional para a Democracia, se preparava para iniciar a primeira sessão.
Os militares justificam que as eleições legislativas de Novembro do ano passado foram marcadas por enormes irregularidades. Algo que é negado pela Comissão Eleitoral e que o Supremo Tribunal está a averiguar.
Entretanto foi decretado estado de emergência, nomeados novos ministros, as comunicações e a Internet foram cortadas, fecharam fronteiras e encerraram o espaço aéreo.
À frente do golpe militar na Birmânia está Min Aung Hlaing, um general que assumiu o comando do Exército em 2011 e desde então tem ascendido na política birmanesa. Em 2019, foi alvo de sanções por parte dos Estados Unidos devido à perseguição aos muçulmanos rohingyas, dois anos depois chega ao poder num acto de vigança contra a senhora de Rangoon, escreve a imprensa francesa.
José Manuel Anes, especialista em Terrorismo e Segurança, admite que o golpe militar demonstra o receio dos militares em abrir mão do poder.
“Temendo perder o poder, durante mais algum tempo, os militares resolveram fazer este golpe. É lamentável porque nós tínhamos alguma esperança e víamos com muita simpatia o caminho para a democracia que a antiga Birmana estava a atravessar, e isto agora é um retrocesso”.
Aung San Suu Kyi apelou à população para não aceitar o golpe militar e a sair às ruas. José Manuel Anes reconhece a popularidade da líder birmanesa no interior do país, no entanto mostra-se céptico quanto ao êxito destas manifestações.
“Não sei até que ponto é que manifestações de civis, face ao poder militar, terão algum êxito naquele país”.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou com sanções e a União Europeia garantiu que vai ponderar todas as opções para garantir que a democracia prevaleça em Myanmar, abrindo a porta à adopção de sanções.
O Conselho de Segurança da ONU reúne-se hoje em emergência para analisar a situação em Myanmar. O especialista em Terrorismo e Segurança admite que “as sanções podem vir a exercer pressão sobre os militares”, no entanto lembra que nesta decisão a “China [que ja veio apelar à comunidade internacional para não complicar ainda mais a situação em Myanmar] terá sempre a última palavra”.