O Ministério Público pediu hoje a condenação de todos os arguidos arrolados no processo do Conselho Nacional de Carregadores, em julgamento no Tribunal Supremo, em que está a ser julgado o ex-ministro dos Transportes, Augusto Tomás, e mais quatro ex-funcionários do CNC, acusados de desvio de avultadas somas de valores daquela empresa pública, afecta ao sector dos transportes.
Nas alegações finais, os magistrados do Ministério Público defenderam ainda que a pena a aplicar ao antigo director adjunto para área de Finanças do Conselho Nacional de Carregadores, Eurico Alexandre Pereira da Silva, o último dos cincos réus a ser interrogado pelo TS, seja mais leve, por este ter colaborado, “de forma voluntária”, ajudando ao “apuramento dos factos”.
O réu, avança o Novo Jornal Online, confessou em tribunal que os seus antigos superiores, Agostinho Itembo e Isabel Bragança, ambos responsáveis do CNC, à datas dos factos, o autorizaram a receber comissões de 15 por cento a empresas privadas e a fazer as distribuições desses pagamentos nas contas de outros réus, com a excepção do ex-ministro dos transportes.
Eurico Alexandre Pereira da Silva começou por dizer ao Tribunal Supremo, no dia do seu interrogatório, que queria de forma voluntária “falar a verdade dos factos”.
O réu começou por explicar que enquanto técnico superior de segunda no CNC, o então director-geral Agostinho Intembo, foragido da justiça, orientou-o a receber nas suas contas bancárias comissões provenientes das empresas Real Imobiliária e Afroeng.
E que em 2017, contou o réu, recebeu um telefonema da ré Isabel Bragança a propor que ele contratasse outra vez a empresa Afroeng no sentido de receber uma comissão de 15 por cento.
” A doutora Isabel Bragança disse-me para receber o dinheiro nas minhas contas, como me estava a fazer confusão, eu neguei-me a receber o dinheiro e ela pediu-me para ver uma empresa que fizesse contrato com a Afroeng para poder receber os valores”, confessou.
Eurico Alexandre Pereira da Silva explicou que foi a ré Isabel Bragança quem deu os números das contas bancárias para as quais ele podia transferir o dinheiro, sempre que as comissões eram pagas e tão logo o réu tivesse a informação de que o dinheiro “já caiu” pela ré Isabel Bragança.
O réu, que se encontra em liberdade, contou ainda que era a ré Isabel Bragança quem determinava os valores que seriam depositados em cada conta bancária, através de recados escritos em bilhetinhos.
Eurico Alexandre Pereira da Silva disse ainda que enquanto trabalhou com a ré Isabel Bragança, entre os anos de 2015 a 2017, beneficiou de 195 mil dólares.
O “caso CNC” começou a ser julgado pelo Tribunal Supremo a 31 de Maio deste ano.