Os guineenses estão este domingo a escolher o próximo Presidente da República. Carlos Gomes Júnior parece estar “na dianteira”. Mas o que importará à população é que o país possa, finalmente, virar a página do ciclo de violência político-militar dos últimos anos.
“Rezo a Deus para que as coisas aqui melhorem. Quero que as próximas eleições tragam mudança face ao passado. Queremos paz e prosperidade na Guiné-Bissau”, disse à Reuters Arman Dinou, um estudante, já no final da campanha para a sucessão de Malam Bacai Sanhá, o Presidente que morreu em Janeiro, num hospital de Paris, a meio do mandato.
A campanha decorreu sem incidentes relevantes, com meios que a AFP considerou surpreendentes para um país pobre, de mais de 1,6 milhões de habitantes, um milhão dos quais vive com menos de dois dólares por dia. A segurança de um país que também se tornou conhecido no mundo por más razões – é uma plataforma na passagem de droga da América Latina para a Europa – está a ser assegurada por 4400 militares e elementos das forças policiais.
O apoio oficial do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), de que é presidente, uma campanha com meios e o prestígio externo como primeiro-ministro jogam a favor de Carlos Gomes Júnior. “Cadogo”, como é conhecido, 62 anos, que chegou a estar detido por militares em Abril de 2010, num dos muitos episódios de agitação militar dos últimos anos, disse que concorre à chefia do Estado para evitar que, na ausência de um candidato forte do partido, outro Presidente derrubasse imediatamente o Governo. Acredita que pode vencer já hoje. Na fase final da campanha afirmou que uma segunda volta aumentará a abstenção e pode trazer prejuízos ao país, por coincidir com a campanha do caju, principal produção agrícola da Guiné.
Na corrida à sucessão de Bacai Sanhá os principais adversários de “Cadogo” estão, a acreditar no histórico eleitoral, bem identificados. São Kumba Ialá, 59 anos, ex-Presidente, que lidera a principal força da oposição, o PRS (Partido da Reinserção Social), e na última eleição disputou a segunda volta; e Henrique Rosa, 66, Presidente interino entre 2003 e 2005, um independente que em 2009 conseguiu quase um quarto dos votos e resultados expressivos em Bissau. Para Xavier Figueiredo, director do boletim África Monitor, ambos são hoje “uma sombra do que já foram” e não representam ameaça séria para o líder do PAIGC.
Divisão no PAIGC
O desafio a Gomes Júnior pode também surgir da sua área partidária: Serifo Nhamadjo, presidente interino da Assembleia Nacional, e Baciro Djá, ministro da Defesa, militantes do partido no Governo, concorrem como independentes e ameaçam causar mossa na candidatura oficial.
Luís Nacassa, Serifo Baldé, Vicente Fernandes e Afonso Té completam o lote de nove candidatos que disputam as preferências dos cerca de 579 mil eleitores. Um décimo concorrente, Ibraima Alfa Djaló, desistiu, alegando não haver condições para uma eleição justa. O resultado das presidenciais será também um barómetro para as legislativas previstas para o final deste ano.
Pedro Seabra, do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança, considera que Carlos Gomes Júnior está “na dianteira” e tem, pelo menos, lugar assegurado numa eventual segunda volta. Além do apoio do principal partido, beneficia da visibilidade que lhe dá ser chefe do Governo, cargo que ocupou em duas ocasiões, e tem importantes contactos nas comunidades guineenses no estrangeiro, “o que pode ser decisivo” no escrutínio.
Fonte: Publico