A reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Ucrânia terminou sem um acordo para um “cessar-fogo”. Enquanto a Ucrânia acusa a Rússia de não querer negociar, a Rússia defende-se e alega que “nunca atacou a Ucrânia” e que a ofensiva militar aconteceu porque estava a ser ameaçada.
A reunião entre o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, e o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, terminou sem avanços no que diz respeito a um cessar-fogo na Ucrânia.
Em conferência de imprensa após a reunião, que decorreu na cidade turca de Antália, o ministro ucraniano avançou que a Rússia não se quis “comprometer” com um corredor humanitário de 24 horas em Mariupol – cidade que tem sido alvo de bombardeamentos, inclusive em maternidades e hospitais pediátricos – e que fez os possíveis para, “pelo menos, encontrar uma solução diplomática para a tragédia humanitária”.
Kuleba mostrou-se “disponível” para continuar a dialogar com a Rússia mas admite ser difícil “parar a guerra se o lado agressor não o deseja fazer”. “A minha impressão é que a Rússia, a este ponto, não está numa posição de estabelecer um cessar-fogo”, acrescentou.
No entanto, os ministros “concordaram” em “continuar os esforços para procurar uma solução para os problemas humanitários no terreno”. “Acredito que os ministros dos Negócios Estrangeiros têm por definição a responsabilidade de negociar assuntos de paz, segurança, que lhes são confiados pelos seus líderes e pelos seus parlamentos. Estou determinado a continuar este diálogo com o objectivo de acabar com a guerra na Ucrânia, acabar com o sofrimento dos civis ucranianos e libertar o nosso território da ocupação russa”, frisou.
Por outro lado, o ministro russo Sergey Lavrov seguiu a retórica de que a Rússia “não atacou a Ucrânia” e que o seu país estava a ser ameaçado e precisava de defender as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia. Lavrov acusou ainda o Ocidente de se “comportar perigosamente” ao “fornecer armas letais” à Ucrânia e de fomentar o “perigo há muitos anos”.
Sobre os bombardeamentos num hospital em Mariupol, o ministro segue a posição já adoptada pelo embaixador russo na Organização das Nações Unidas (OMU) e até pela Embaixada da Rússia em Portugal: a instituição de saúde já estaria a ser ocupada por “radicais” ucranianos e não havia pacientes internados. “Tentámos a via diplomática antes de atacar a maternidade”, frisou.
Lavrov confirmou que foram discutidos “assuntos humanitários” e os “passos que os militares estão a dar no terreno de modo a tornar a situação mais fácil para os civis”, que diz estarem a “ser usados como escudos humanos e como reféns pelos batalhões nacionalistas”.
“Falámos sobre questões humanitárias. Os civis têm-se sentido raptados para defesa do território ucraniano e têm sido usados como escudo. As rotas e os horários dos corredores humanitários, que vamos abrir diariamente, são determinados por quem está no terreno. Na última ronda de negociações, a Rússia propôs um acordo concreto e a Ucrânia não aceitou”, acrescentou.
Agora, para a Rússia, as conversações na Bielorrússia são o único formato viável para dialogar com a Ucrânia. “A conversa de hoje confirmou que este caminho não tem alternativa”, disse.
Abordando a questão das sanções do Ocidente à Rússia, Lavrov afirma que a Rússia “nunca usou o petróleo e o gás como armas” e que o Ocidente decidiu “amaldiçoar” o país. Mas frisa: “Não vamos obrigar ninguém a comprar o nosso gás e o nosso petróleo. Encontraremos outros mercados”.
Questionado sobre a disponibilidade do presidente russo, Vladimir Putin, em se reunir com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, Lavrov explica que Putin “não se recusa”, mas terá de ser para discutir “assuntos específicos”. rematou.