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    Escassez de água ameaça produção

    Produção mundial de alimentos e de biocombustíveis deve crescer mais para dar conta do aumento da população nos próximos anos

    A necessidade de aumentar a produção agrícola para alimentar a crescente população mundial vai fazer com que se aumente a exploração de recursos naturais, principalmente a água, afirmou o brasileiro José Graziano, que em 2012 assume a direcção-geral da agência da ONU para Agricultura e Segurança Alimentar (FAO).
    “A falta de água tornou-se o maior entrave à expansão da produção (de comida), especialmente em algumas áreas como a região andina, na América do Sul, e os países da África Subsaariana”, disse, sexta-feira, à imprensa, o actual director da FAO para a América Latina e ex-ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome no Governo de Lula da Silva, altura em que foi o responsável pela aplicação do Programa Fome Zero.
    Segundo previsão da FAO, até ao ano 2050, a produção mundial de alimentos tem de crescer 70 por cento para dar conta do aumento populacional.
    Graziano disse que, apesar da pressão sobre os recursos naturais, é possível acabar com a fome no mundo através de quatro acções principais: a aplicação de tecnologias modernas na lavoura (muitas já disponíveis), a criação de uma rede de protecção social para populações mais vulneráveis, a recuperação de produtos locais e mudanças nos padrões de consumo em países ricos.
    “Se pudéssemos mudar o padrão de consumo em países desenvolvidos, havia comida para todos”, disse ele. “Nós desperdiçamos hoje muita comida, não só na produção, mas também no transporte e no consumo”.
    Segundo José Graziano, enquanto a comida é mal aproveitada nas nações ricas, cerca de mil milhões de pessoas passam fome em países emergentes.
    “Precisamos de assegurar que esses mil milhões de pessoas são alimentados, que têm bons empregos, bons salários e, se não pudermos dar-lhes empregos, encontrar-lhes uma forma de protecção social”. A diversificação da produção agrícola, também pode ajudar a combater outro problema global relacionado com a alimentação: os crescentes índices de obesidade, inclusive em países emergentes.

    O brasileiro afirma que o número de pessoas com problemas de má alimentação ou obesidade já atinge os dois mil milhões, duas vezes mais que o total de pessoas afectadas pela fome.
    Na sua opinião, esse índice deve-se à “comodidade da vida moderna”, que amplia o acesso aos produtos industrializados, com alta concentração de açúcares, ao mesmo tempo em que desestimula actividades físicas.
    Para Graziano, o combate a esse mal também deve incluir acções educativas. “Consideramos que as nossas mães sabem o que devemos comer. Isso era válido para as ­nossas avós, que colhiam produtos na horta, mas hoje as nossas mães procuram comida pronta, fast food, porque também trabalham e têm longas jornadas fora de casa”.
    Graziano pede também que as grandes empresas de fast food se sensibilizem quanto ao problema e ampliem a oferta de comidas frescas nos seus cardápios.


    Biocombustíveis

    Na conversa com os jornalistas, Graziano aborda também outros dois temas que têm originado discussões recentes sobre a produção de alimentos: a suposta competição entre a produção de comida e a de bicombustíveis e os riscos que o aumento da produção agrícola impõem à preservação ambiental.
    José Graziano afirma que, em duas das três maiores regiões produtoras de biocombustíveis do ­globo (Estados Unidos da América e Europa), houve um incrementoconsiderável em alguns preços de alimentos devido à concorrência com os biocombustíveis.
    No Brasil, porém, Graziano garante que a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar não teve qualquer impacto nos alimentos, uma vez que a produção cresceu principalmente em terras improdutivas e por meio da modernização de técnicas agrícolas.
    Graziano disse também não ver conflitos em conciliar a preservação ambiental e a necessidade de ampliar a produção agrícola.
    “A intensificação da produção com modernas tecnologias, menor uso de fertilizantes e defensivos pode beneficiar muito o meio ambiente”, afirmou.“O avanço da tecnologia nessa direcção vai permitir terminar com a falsa dicotomia entre ecologistas e agricultores”.

     

    Fonte: Jornal de Angola

    Foto: AFP

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