Domingo, Maio 19, 2024
15.1 C
Lisboa
More

    Entrevista “Lobito já não é só o Porto e o Caminho-de-ferro”

    (OPAIS)
    (OPAIS)

    Como está o Lobito hoje?

    É uma honra termo-los cá a acompanhar as celebrações dos 100 anos da cidade. O Lobito não foge da regra nacional, é um município que tem as mesmas virtudes e os mesmos problemas que quase todos os municípios do país. Em todo o caso é um município que tem uma cidade centenária e isso, naturalmente, trouxe uma energia extra para aquilo que nós fazemos regularmente.

    É um município que está com uma energia nova, por causa do centro da cidade, mas também a própria revitalização do Corredor do Lobito, que é uma recomendação e estratégia do Governo de Angola, em particular do senhor Presidente José Eduardo dos Santos.

    Há também todo o investimento que está a ocorrer no Porto, CaminhodeFerro e, agora, na Refinaria do Lobito. Tudo isso trouxe uma dinâmica absolutamente nova. Hoje nota-se que os passos com que estamos a andar começam a ter alguma diferença do o passo do resto do país, tirando o que Luanda está a tomar.
    O que pretende dizer com os mesmos problemas e virtudes de outros municípios do país?

    Que vivemos num país uno e indivisível, temos os mesmos problemas, que são muito comuns, como as questões ligadas a energia, água, acesso às instituições sociais como centros de Saúde, hospitais, escolas, centros de acolhimento.

    Temos as mesmas virtudes quando me refiro que temos acesso às mesmas fontes de financiamento dos projectos de investimentos públicos.

    E a grande diferença é aquela que se diz sobre um município do centro de Angola, mas também do litoral, que tem um porto de águas profundas e um caminho-de-ferro transnacional e que lhe dá alguma diferença no capítulo da dinâmica económica.
    Quais são os principais desafios da administração municipal?

    São como em todo o país ir mitigando os grandes problemas que ainda temos na saúde, educação, acessibilidade. Os nossos eixos rodoviários, em termos da cidade, são ainda na maior parte dos casos muito deficientes. A mitigação dos problemas da habitação que no fundo aflige e corta transversalmente toda a sociedade, particularmente a juventude.

    E depois temos outras características que outros não têm, que é o facto de termos uma cidade que tem duas zonas muito distintas, que é a zona baixa do Lobito, que vai desde a linha da costa do mar até ao sopé dos morros da Kileva, uma zona que está abaixo do nível médio das águas do mar e o lençol freático é muito alto.

    E uma zona muito alta em que todas as águas vêm parar na zona baixa e que ela deve ser servida, porque sempre foi assim, por um conjunto de canais de escoamento de águas pluviais, o chamado canal de macrodrenagem das águas do Lobito. Na maior parte dos casos não estão em boas condições e isso faz com que a zona baixa do Lobito seja alagada. E sendo alagada é uma zona endémica onde ainda temos altos índices de paludismo e não só.
    Como é que estão os sectores da educação e da saúde?

    Como dizia, temos mais problemas na saúde do que na educação, pelo facto de termos um hospital geral que está subdimensionado, tendo com conta a população do município que hoje andará perto do milhão de habitantes. Também temos o mesmo problema com a pediatria do Lobito, que também está completamente subdimensionada, e a maternidade.

    Mas no caso da maternidade já está lançada a solução para o Programa de Investimentos Públicos do ano 2014, em que se vai construir uma nova. Em relação à educação, temos escolas com alguma dimensão e também temos umas por concluir com 20 e 24 salas de aulas. Em todo o caso, falta muitas salas de aulas,principalmente na zona periférica da cidade.

    Quer para a educação, como para a saúde, no âmbito dos programas de médio prazo, até 2017, estão lançadas algumas acções que vão mitigar os problemas destes dois sectores.
    Quem vê a cidade como está, iluminada, pode deduzir que não existem muitos problemas no sector da energia?

    Temos problemas muito sérios em relação a energia eléctrica em toda a cidade do Lobito e município no geral. O problema da água é o que melhor está encaminhado no âmbito do Programa Águas de Benguela, criado pelo Governo de Angola.

    Hoje, boa parte da cidade está bem servida, ainda que se verifiquem em zonas, particularmente na parte alta, que ainda têm alguma carência. Em todo o caso, há a chamada fase 4 do projecto de Águas de Benguela que prevê mitigar a falta de água sobretudo na periferia da cidade.
    E como é que está a periferia do Lobito?

    É uma periferia com bastantes problemas. Como sabe, o Lobito cresceu de uma maneira bastante desordenada e muito acelerada. E isso se compreende, porque o Lobito é um município litorâneo, que sempre teve uma estabilidade político-militar e por isso cidadãos de todo o país, e não só, fizeram a sua morada na sua periferia.

    E um município destes com porto, sempre ofereceu algumas oportunidades económicas diferentes de outros municípios do país. Por isso, a periferia do Lobito cresceu de uma maneira muito rápida. Por outro lado, as guerras do Huambo e do Bié também, de uma maneira muito significativa, potenciaram o crescimento muito rápido da periferia do Lobito.

    Só para lhe dar um exemplo, o Governo Provincial do Huambo já chegou a funcionar aqui no nosso edifício da Administração Municipal do Lobito. Só por aí já se começa a ter uma ideia do que efectivamente aconteceu aqui. Nos anos 94 e 95, com as guerras do Bié, este foi um dos municípios que acolheu condignamentee diria eu de uma maneira revolucionária e solidáriaos nossos cidadãos destas duas províncias.
    Quantas pessoas vivem hoje no Lobito?

    Estamos a falar de 900 ou 800 e tal mil habitantes. Não há nenhum censo populacional, podemos estar a errar por defeito ou por excesso, mas, efectivamente, hoje andamos nesta casa.
    Sempre que se fala do Lobito associa-se ao Porto e ao Caminho-de-ferro. Há outra vida para além destas duas empresas?

    Com certeza. O Lobito é uma cidade logística que tem o seu pilar no Porto e no Caminho-de-ferro. Em todo o caso, hoje o Lobito já não é só o Porto e o Caminho-deferro. O que se passa é que o Porto e o Caminho-de-ferro potenciaram o surgimento de outros investimentos. Por exemplo, não se escolheria construir uma refinaria no Lobito se não tivesse um Porto de águas profundas e não tivesse uma linha de caminho-de-ferro.

    Temos, além da refinaria, que é um dos maiores investimentos no país nos últimos anos, outras estruturas metalo-mecânicas, como a Sonamet, que é uma empresa do grupo Sonangol, que produz plataformas para exploração de petróleo em águas profundas e que tem uma tecnologia quase única em toda a África. A Angoflex também é uma empresa do grupo Sonangol que produz umbilicais para a exploração petrolífera em águas ultra-profundas, que é a única em África. Ou seja, como disse e bem, Lobito hoje não se circunscreve ao Porto e Caminho-de-Ferro.

    Posso dizer-lhe que o Lobito hoje está a ganhar uma veia financeira, temos a maior estrutura financeira do Banco Nacional de Angola, boa parte das operações do BNA em todo o país já ocorre aqui. Podemos ir também um pouco para o interior, onde temos vários agricultores com bastante qualidade, no vale agrícola da Hanha, da Canjala, Kulango e do Egipto Praia, que dão outra dimensão, por exemplo, na produção de feijão, óleo de palma, e hoje já se pensa instalar uma indústria de biocombustível na Canjala.
    Como é a vida daqueles que vivem fora da sede municipal do Lobito?

    É muito incipiente ainda, um bocado como acontece em todo o país. A agricultura está num nível muito baixo, não houve aproveitamento em grande escala dos vales agrícolas que referi. Atenção que o Lobito é cortado também por dois rios, o Cubal que é de caudal permanente e o balombo, na Canjala, também de caudal permanente e valas de irrigação.

    A vala do Cuvelo, na Canjala, tem cerca de 25 quilómetros e hoje tem um aproveitamento muito baixo. Então o sector da agricultura e mesmo o da agropecuária, porque temos algumas fazendas com alguma produção de gado caprino e bovino, ainda está num nível que se podia ter um aproveitamento muito maior.

    Hoje as comunas começam a ter alguma vida, nomeadamente no Egipto Praia, Canjala e o Culango, com os programas que têm ocorrido, como o Água para Todos, construção de edifícios administrativos. Começaram a dar alguma dignidade às comunas, que hoje começam a ter alguma vida, mas ainda estamos num estado bastante inicial.
    A saída da Catumbela representou algum desaire para os lobitangas ou foi um mal necessário?

    Tenho tido um discurso muito responsável em relação a esta matéria. O entendimento que tenho do processo, e mais ao alto nível, é o do senhor governador Isaac Maria dos Anjos. Acaba também por ser de facto o coração da estratégia de longo prazo da província de Benguela, que é ser uma segunda metrópole do país depois da megametrópole de Luanda.

    Se nós pensarmos assim, então é indiferente separar o Lobito da Catumbela ou Catumbela do Lobito. Como estamos a pensar numa visão integral que é existir em Angola uma cidade litorânea que tenha as mesmas condições económicas e geográficas que Luanda, as mesmas infraestruturas, como é o nosso caso, e que esta zona terá de ser a ligação entre o Lobito, a Catumbela, Benguela e a Baía Farta.

    Por isso, o senhor governador tem dito, ainda o disse aqui há dias no Lobito, que quando olha para o Lobito-CatumbelaBenguela e Baía Farta chama os administradores como ‘administradores de bairro’. Temos umas cidades muito grandes, mas que seríamos apenas gestores de bairros. Ele tem razão.

    No fundo é uma metáfora para sublinhar o facto de que neste momento estamos a pensar mais numa cidade integrada LobitoCatumbelaBenguela e Baía Farta do que em cidades separadas. Por isso, acaba por ser indiferente pensar que a separação entre o Lobito e Catumbela seja um problema ou para o Lobito ou para a Catumbela.
    O que é que mais o preocupa aqui no Lobito?

    A qualidade de vida dos nossos cidadãos. Apesar de sermos um município que tem andado em algum sentido bem, temos uma zona muito nobre, caminhado muito na direcção da limpeza urbana, sermos um município quase que exemplar nesta matéria, temos em atenção que há um mar de problemas por resolver, nomeadamente na periferia da cidade.

    Eu gostava muito que tivessemos mais um bocado de qualidade de vida na periferia, desde os acessos, fornecimento de água, energia eléctrica e escolas. Mas o município já tem 100 anos. É uma cidade centenária, das poucas em Angola. Repare que devem existir poucas cidades que estão há 100 anos, muitas vezes confundimos as cidades com as vilas, a idade das cidades com a época do descobrimento, ou fundação, que são coisas completamente diferentes.

    O que estamos a comemorar é um território que foi elevado a categoria de cidade há 100 anos. Efectivamente, somos uma cidade centenária como poucas há em Angola. Deverá ser o Huambo, Luanda que não sei quantos anos de cidade deverá ter efectivamente. São 100 anos para uma cidade que viveu vicissitudes que outras cidades no país viveram. Fomos assolados pelas consequências da guerra, o país todo, mas que desde 2002 começamos a renascer, quando se instalou a paz como tal.
    Como é que estão ao nível do turismo?

    O turismo, e a própria geografia do Lobito emprestalhe um valor, que no fundo há-de ser, como disse o governador, a capital do corredor do Lobito. Que começa aqui no Lobito, vai até aos Congos e já se está a pensar em ir até ao Índico, mas também terminará aqui. Uma das vias aqui é exactamente o turismo, repare que já se está a fazer um cais novo dentro do Porto para a atracagem de navios de cruzeiro.

    Já há um movimento de cruzeiros bastante elevado. Em 2011 tivemos dois navios, em 2012 quatro, e agora já estão previstos 10 para 2014. Temos um mar muito rico, quer para a navegação como para a pesca desportiva. Não é por acaso que ocorrem aqui no Lobito os torneios internacionais de pesca de peixe de bico, veleiros e os marlins. Não é por acaso que somos candidatos à realização do Campeonato do Mundo de Pesca Desportiva em 2015. Temos tido regatas de barcos a vela, um deles ainda estava aqui a andar hoje.

    Podemos ter muito desporto de praia como o volley e o futebol. Temos condições boas para passar a ser um município com uma veia logística como já é mundialmente conhecido, mas também temos uma veia turística e temos condições naturais para isso.
    Se tivesse de fazer algo para o Lobito 100 anos depois, o que seria?

    Além daquelas que já referi, que têm a ver com a vida dos cidadãos, como água, energia, escola, etc, como sou um indivíduo um bocado sonhador, tenho outros sonhos que são os de transformar o Lobito numa cidade verdadeiramente exemplar.

    Ser uma cidade bastante limpa e organizada. E estamos a investir muito nisso; onde haja regras de urbanidade, se controle as externalidades negativas, como músicas altas. Temos tido um bocado de cuidado e estamos a começar a caminhar nesta direcção. Neste momento estamos a pensar dar um salto para frente, que é começar a controlar a cidade noutro sentido. Já temos agarrada e controlada a limpeza urbana, situação de trânsito e organização.

    Agora faltanos outros passos como controlar melhor o cidadão, onde pode fazer barulho e ter música alta. A questão dos transportes públicos é uma das grandes necessidades das cidades. Luanda é uma coisa a parte, mas cidades como a nossa, que começam a ter alguma vida, é preciso imediatamente ter novas soluções de transporte público. Costumo a sonhar ter aqui no Lobito um transporte público ferroviário como o metro de superfície.

    É um sonho que no curto espaço de tempo se pode realizar porque temos uma linha antiga de cintura, que sai daqui onde estamos (Restinga) para o outro lado da baía e corta vários bairros. Podíamos ter transportes, mas com comboios curtos. Muita gente diz, às vezes, que sou um indivíduo sonhador, mas não sou.

    Sou um individuo que tem uma visão de floresta muito grande e depois pretende ser mais ousado. Termos ligações com o exterior, tentar controlar na base o engarrafamento que começa a existir no Lobito. Enfim, temos muitas coisas para fazer aqui e tornar a nossa cidade mais exemplar.

    a vanguarda

    Posso lhe dizer que o Lobito hoje está a ganhar uma veia financeira, temos a maior estrutura financeira do Banco Nacional de Angola, boa parte das operações do BNA em todo o país já ocorre aqui. Podemos ir também um pouco para o interior, onde temos vários agricultores com bastante qualidade. (opais.net)

    Por Dani Costa e Eugénio Mateus

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    TSE suspende julgamento de ações que pedem cassação de Moro por atos na pré-campanha em 2022; caso será retomado na 3ª

    O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu nesta quinta-feira o julgamento das ações que pedem a cassação do senador Sergio...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema