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    Entre Cuba e a Ucrânia

    Vendo a disposição da Europa e dos Estados Unidos de saudar a derrubada por massas revolucionárias de um governo legalmente eleito na Ucrânia, surge a questão de saber por que razão, depois dos ucranianos, não se rebelam outros povos que vivem sob o jugo de governantes de que o Ocidente não gosta? Por exemplo, os cubanos?

    (Foto: Flickr.com)
    (Foto: Flickr.com)

    Apesar do colapso do bloco socialista e do isolamento das autoridades cubanas na arena internacional, dos enormes fundos norte-americanos destinados a financiar a oposição cubana (apenas durante a presidência de Barack Obama a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) recebeu mais de 100 milhões de dólares) e do apoio que os rebeldes teriam recebido dos EUA e da Europa, não se ouve nada sobre uma tal revolução.

    Obviamente, os “arautos da liberdade” norte-americanos e seus seguidores polacos atribuem a ausência de uma revolução “anti-Castro” ao terror do regime totalitário, mas em relação aos cubanos, que ninguém ousaria acusar de covardia, isto é quase um insulto. Evidentemente, organizar uma revolta através do Facebook num país onde a internet ainda é um luxo é impossível. Mas foi assim também em 1959, quando a revolução cubana derrubou o regime sanguinário e corrupto de Baptista. Em comparação com ele, a perseguição da oposição pelos irmãos Castro parece bem moderada. O pecado mais grave de que os defensores dos direitos humanos acusam a liderança de Cuba são frequentes detenções curtas de oposicionistas.

    Apenas um crime em Cuba incorre numa punição bastante severa: a pena por receber dos Estados Unidos financiamento para actividades contra o estado pode chegar até 20 anos de prisão. Isso, de certa forma, é compreensível: os EUA são um estado inimigo que está propositadamente destruindo a economia cubana através do mais longo na história da humanidade embargo económico, continuamente em vigor desde 1960, destinado a ser uma vingança dos EUA pela nacionalização de bens de mafiosos norte-americanos.

    Uma vez que as repressões da oposição cubana não podem ser chamadas de terror, o governo não democrático é fraco e está em isolamento internacional, e as pessoas vivem em miséria, então inevitavelmente surge a questão de porquê eles não saem às ruas para exigir o capitalismo?

    Talvez a resposta seja que as pessoas não querem o capitalismo?

    Pelo menos, enquanto estão vivos aqueles que se lembram dos dias de Baptista, quando 90% dos recursos minerais, 80% da indústria e 40% das plantações de açúcar eram propriedade de norte-americanos. Gangsters norte-americanos compravam o presidente local com presentes como um telefone de ouro, que ainda hoje pode ser visto no Museu da Revolução, em Havana. Hoje, independentemente do baixo nível geral de prosperidade, em Cuba funciona o melhor sistema de cuidados de saúde e educação gratuitos em todos os níveis de toda a América do Norte e América Latina.

    A experiência de países como a Ucrânia, que se tornou democrática para criar um regime oligárquico suportado por uma corrupção total, que não teme nem sequer a actual revolução, explica a relutância dos cubanos de sair às ruas.

    Há que traçar um outro paralelo entre a Ucrânia e Cuba. Em território de Cuba encontram-se bases militares de outro estado, como nos últimos vinte anos em território da Ucrânia. Embora com uma diferença significativa.

    A base militar de Guantánamo são 129 quilómetros quadrados de território da República de Cuba, ocupados pelos Estados Unidos no início do século passado. No acordo de 1903, Cuba concordou em “alugar” a Baía de Guantánamo por 2.000 dólares – a alternativa ao aluguel seria a subsequente ocupação de todo o território da ilha. Em 1934, o preço do aluguel totalizou 4.085 dólares. Após a revolução cubana de 1959, Cuba recusou o dinheiro do aluguel e exigiu que os EUA saíssem da ilha. Desde 2002, de acordo com uma decisão do presidente dos Estados Unidos George W. Bush, em Guantánamo está operando uma prisão onde as agências de inteligência norte-americanas, em violação de todas as normas do direito internacional, detêm, interrogam e torturam cidadãos estrangeiros sequestrados em diferentes partes do mundo.

    A Rússia pagava à Ucrânia pela presença da Frota do Mar Negro uma taxa anual de 98 milhões de dólares. Agora, quando a Crimeia tornou-se parte da Federação Russa, a Rússia deixará de transferir esse dinheiro. Outra perda que, juntamente com a perda da Crimeia, a abolição dos descontos para gás e o colapso da exportações, a União Europeia não compensará à Ucrânia. Um sinal não muito reconfortante para os países que quererão fazer uma escolha entre o “Ocidente” e “Oriente”. (ruvr.ru)

    por Agnieszka Wolk-Laniewska

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