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    Empregos: 72 milhões

    Os especialistas destacaram quatro grandes tendências. A primeira, é que o continente beneficiará daquilo a que os economistas designam por “bónus demográfico”. Tendo quase 200 milhões de pessoas com idades entre 15 e 24 anos, África possui a população mais jovem do mundo. E esta continua a crescer rapidamente. O número de jovens em África duplicará até 2045. Entre 2000 e 2008, a população em idade activa (dos 15 aos 64 anos) aumentou de 443 milhões para 550 milhões; um acréscimo de 25%. Devido a esse aumento (fruto da entrada dos jovens no mercado de trabalho), a consultora estima que África adicionará mais 122 milhões de pessoas à sua força de trabalho na próxima década.

    Passados 15 anos, em 2035, o volume da força de trabalho africana será superior à de qualquer outro país do mundo, incluindo a China e a Índia. Em paralelo, o número de crianças e de reformados cairá para o nível mais baixo de sempre. Isso significa que o rácio de dependência (medido pelo número de dependentes — crianças e idosos — que um adulto, na idade activa, terá de suportar) poderá igualar o dos Estados Unidos e da Europa em 2035. Este “bónus demográfico” irá elevar o rendimento per capita o que estimulará o consumo e dará origem, por sua vez, a mais negócios e, em consequência, a mais empregos.

    Mais empregos,  poucos são estáveis

    A segunda grande tendência é a redução da precariedade do emprego. Hoje, segundo as estimativas, a taxa oficial de desemprego é de 9%. O número é falacioso dado que, segundo as estimativas da McKinsey, apenas 28% da força de trabalho do continente têm empregos que podem ser considerados estáveis (ou seja, com uma remuneração fixa todos os meses). A consultora apurou que nos últimos dez anos houve 91 milhões que engrossaram a força de trabalho do continente. Só que, entre eles, apenas 37 milhões conquistaram empregos estáveis; 2 milhões ficaram no desemprego e a maioria — 52 milhões de pessoas — dedicou-se a actividades de sobrevivência.

    Dito por outras palavras, a maioria dos adultos africanos ainda depende da agricultura de subsistência ou dos negócios realizados no mercado informal. Fazendo uma análise mais detalhada verifica-se que, em média, 49% dos trabalhadores africanos dedicam-se à agricultura. O comércio e turismo é o segundo maior empregador (16%), seguindo-se o Estado e sector social (que inclui a saúde e a educação) com 11% e a indústria com apenas 7%. Uma segunda dificuldade é que o sistema de protecção social dos trabalhadores é muito menos eficiente do que no resto do mundo, o que é um factor acrescido de insegurança.

    A boa notícia é que se a actual tendência estatística se mantiver, África tem o potencial de criar 54 milhões empregos estáveis até 2020. Isso fará com que a percentagem de pessoas que recebem salário fixo ao fim do mês se eleve dos actuais 28% para 32%. Parte desse crescimento do emprego virá da indústria, agricultura, comércio e turismo (cada qual terá uma contribuição de 15% para essa subida), embora a maior fatia de responsabilidade caiba ao Estado e sector social (30%). Por países, a tendência irá  beneficiar, sobretudo, as economias com maior grau de diversificação caso da África do Sul, Egipto e Marrocos.

    As boas notícias não se ficam por aqui. A equipa da McKinsey — socorrendo-se da experiência de outros países que passaram por estágios de desenvolvimento semelhantes, caso da Tailândia, Coreia do Sul e Brasil — apurou que essa taxa de crescimento do emprego pode ser mais veloz. Segundo as estimativas da consultora, o potencial de criação de novos empregos estáveis, num cenário mais optimista, será de 72 milhões até ao final da década (ou seja, mais 18 milhões do que no cenário anterior). Tal crescimento adicional deve-se, sobretudo, a três sectores.

    A agricultura tem o potencial de criar 6 milhões postos de trabalho adicionais, se África expandir a produção em larga escala e, sobretudo, se ocupar áreas por cultivar (critério onde Angola é o terceiro melhor do continente). Outra mudança desejável será o incremento de culturas hoje mais valorizadas pelo mercado tais como os produtos hortícolas e os biocombustíveis.

    A indústria, por seu lado, tem o potencial de criar 7 milhões de empregos adicionais. Num outro estudo realizado pela McKinsey, no ano passado, junto de 27 países do continente, verificou-se que a contribuição da indústria para o PIB caiu, em média, de 15%, em 2000, para 12%, em 2010. Os peritos acreditam que tendência pode ser revertida, dado que África tem hoje vantagens comparativas importantes, a começar pelos custos de mão-de-obra (que entretanto subiram noutras latitudes caso da Ásia, por exemplo).

    Um exemplo dessa maior capacidade de atracção do investimento estrangeiro, devido à maior produtividade e menos custo da mão-de-obra, são as fábricas de componentes automóveis entretanto abertas em Marrocos. Claro que, mais uma vez, este resultado será mais fácil de atingir em economias diversificadas do que nos países exportadores de petróleo (como Angola, onde a mão-de-obra é mais cara) ou nas economias mais frágeis (que ainda se debatem com escassez de infra-estruturas).

    Mais formação, nem sempre adequada

    O turismo pode igualmente dar um salto qualitativo importante, desde que o esforço de construção de infra-estruturas se acentue (tal como sucedeu com a África do Sul que sofreu um acréscimo significativo de turistas durante o Mundial de Futebol de 2010). Há, porém, problemas estruturais que se mantêm — tais como as elevadas tarifas das companhias aéreas e as dificuldades na obtenção de vistos — e que fazem com que o crescimento não seja ainda maior.

    Outros sectores que gerarão novos empregos são o financeiro (cada vez mais sofisticado), a construção, os transportes e as comunicações. Os postos de trabalho ligados ao Estado continuarão a crescer, não tanto pelo aumento de funcionários públicos, mas sobretudo pela maior oferta de serviços públicos de saúde e de educação. As novas descobertas de petróleo, gás e minérios — que hoje é patente na maioria dos países do continente — também gerarão alguns empregos, mas trarão sobretudo riqueza que, se for distribuída, pode desenvolver a economia como um todo.

    A terceira tendência, muitas vezes subestimada nos estudos internacionais, é que a força de trabalho africana tem hoje níveis de educação mais elevados do que pensa. Há dez anos, apenas 32% dos africanos tinham concluído o ensino secundário ou universitário. Hoje, o valor é de 40% e, em 2020, esse número pode chegar aos 48%, um valor semelhante ao da Índia (embora abaixo do da China).

    A má notícia, que também tem sido negligenciada nos estudos, é que o desemprego jovem é cada vez mais elevado (segundo estimativas da McKinsey, é três vezes superior ao dos adultos). Por exemplo, na África do Sul, que tem uma taxa oficial de desemprego de 25%, metade dos jovens dos 15 aos 24 anos está desempregada. Não canalizar este capital humano para os sectores produtivos da economia é um desperdício. Mas poderá ser igualmente uma ameaça à coesão social e à estabilidade política, segundo dizem os peritos da consultora.

    Pela positiva, apontam o caso do Egipto onde o desemprego entre os jovens tem vindo a diminuir. Uma sondagem da McKinsey apurou a este propósito que a maioria dos empresários acredita que o ensino universitário em África ainda é deficiente e que não prepara os recém-licenciados para o mercado de trabalho. Apontaram igualmente a escassez de técnicos especializados como uma das principais barreiras aos negócios. Os analistas concluem, por isso, que existem boas oportunidades no continente ao nível da formação, sobretudo, a de carácter prático, ligada ao ensino técnico-profissional.

    A quarta tendência é que o crescimento dos empregos estáveis não ocorrerá de um modo homogéneo nos 54 países do continente. A McKinsey dividiu o “mosaico africano” em quatro grandes grupos de economias — as frágeis, em transição, as diversificadas e as exportadoras de petróleo (no qual Angola faz parte). Para se ter uma ideia do contraste entre elas, basta sublinhar que a percentagem de empregos estáveis nas economias mais frágeis (como as da Etiópia, Mali e República Democrática do Congo — RDC) é de apenas 9%, um indicador que ascende a 61% nas economias diversificadas (como as do Egipto, Marrocos, África do Sul e Tunísia).

    Analisando cada um dos grupos, verifica-se que as economias mais frágeis criaram apenas 3,5 milhões de empregos estáveis entre 2002 e 2010, dos quais 50% foram relativos ao Estado e 18% à agricultura. O segundo pior grupo, em termos de volume de emprego, foi o dos países exportadores de petróleo (criaram mais 7,5 milhões de novos postos de trabalho nesse período) destacando-se o facto de a indústria apenas ter contribuído em 2% para esse acréscimo.

    Os países com economias diversificadas criaram 8,4 milhões de empregos, destacando-se o desempenho da construção e dos serviços financeiros. As economias em transição foram as que mais empregaram (9,8 milhões de postos de trabalho) e esse fenómeno ocorreu em quase todos os sectores. O que menos contribuiu para o aumento foi a agricultura (que representa 51% do emprego neste grupo de países em comparação com os 79% nas economias mais frágeis).

    Este padrão de desenvolvimento, recorda a McKinsey, é semelhante aquele porque passou a Tailândia. No século passado, a agricultura e o sector público representavam 60% do emprego no país. À medida que a economia começou a crescer e que as pessoas migraram das áreas rurais para as cidades, a indústria, e depois o comércio, cresceram. Hoje, porém, a construção e, sobretudo, o turismo tornaram-se os maiores empregadores da Tailândia.

    Mais crescimento, poucos empregos

    A quinta e última tendência do estudo incide neste último ponto. Se o crescimento do emprego não será homogéneo entre países, também não o será entre sectores. As discrepâncias serão mais visíveis nos países produtores de petróleo. Nos últimos dois anos, a subida do preço do crude fez com que as exportações aumentassem significativamente.

    Os três maiores produtores — Nigéria, Angola e Argélia, por esta ordem — receberam 1,3 biliões de dólares da venda de petróleo na última década, face aos 300 mil milhões (um quarto das receitas) auferidos na década anterior. Como os outros sectores de actividade não cresceram na mesma proporção, as economias destes países continuam dependentes do ouro negro. Basta observar que, em média, a indústria e os serviços representam um terço do PIB desses três países.

    Os recursos naturais (minérios, gás e petróleo) só empregam, em média, 1% da força de trabalho do continente

    Um segundo problema é que o crescimento do PIB é um requisito fundamental, embora não suficiente, para a criação de emprego. Infelizmente, os sectores que mais contribuem para o PIB criam poucos postos de trabalho. Os recursos naturais (minérios, petróleo e gás), por exemplo, empregam, em média, apenas 1% da força de trabalho. Logo, os governos, em particular os das economias mais frágeis ou mais dependentes dos recursos minerais, deverão impulsionar os sectores com maior capacidade de gerar empregos estáveis.

    Foi o que fez o Mali com a exploração de manga ou o Lesoto com a indústria têxtil, só para citar dois exemplos de sucesso em economias mais frágeis. Se estas iniciativas forem replicadas, o continente poderá continuar a retirar milhões de pessoas da pobreza, aumentando a dimensão e o valor do mercado interno de consumo. Se assim acontecer, África continuará a estar na moda por muito mais tempo.

    O que é África hoje…

    – 382 milhões

    é o valor da força de trabalho em África

    – 42%

    têm empregos fora da agricultura

    – 28%

    têm um salário estável mensal (versus 24% em 2000)

    – 18%

    dos novos empregos provêm dos serviços (versus 11% da indústria)

    …e o que pode ser em 2020

    – 72 milhões

    de novos empregos podem ser criados até 2020

    – 36%

    da força de trabalho africana poderão ter empregos estáveis

    – 128 milhões

    de consumidores (eram 90 milhões em 2011)

    – 48%

    com educação secundária ou superior (hoje são 40%)

    Fonte: Exame Angola

     

     

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