AFP
Deputados venezuelanos denunciaram que as forças de segurança bloqueavam nesta terça-feira os acessos ao Parlamento em Caracas, horas antes de uma sessão para discutir o indiciamento de legisladores por uma insurreição militar fracassada contra o presidente Nicolás Maduro.
Tropas da Guarda Nacional – encarregada da segurança do Palácio Legislativo -, policiais e agentes da inteligência (SEBIN) estão no prédio e nos arredores, segundo os parlamentares.
“Funcionários da SEBIN, com a desculpa de que há um artefacto explosivo dentro das instalações, tomaram o Palácio Federal. Estamos cercados por funcionários da inteligência”, disse à AFP a deputada Manuela Bolívar.
Desde cedo, os agentes isolaram as entradas do Parlamento, o único poder nas mãos da oposição. Veículos blindados e um guindaste foram colocados nas proximidades, constataram jornalistas da AFP.
“É algo recorrente, não é a primeira vez que isso acontece”, disse Bolívar, observando que se trata de “uma política para enfraquecer a Assembleia”.
No dia 5 de Janeiro, quando a legislatura começou, a Guarda Nacional também reportou explosivos no edifício.
“Seja em uma praça, nos anexos, debaixo de uma ponte, a Assembleia continuará a realizar sessões e hoje haverá uma sessão”, declarou à imprensa o congressista Luis Stefanelli.
Bolívar denunciou o incidente como “uma intimidação” em meio à disputa entre o presidente do Legislativo, Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, e Maduro.
Em 7 de maio, a Assembleia Constituinte tirou a imunidade de dez parlamentares, depois que a Suprema Corte de Justiça os acusou de apoiar a revolta de um pequeno grupo de militares contra Maduro.
A rebelião foi liderada por Guaidó e Leopoldo López, libertado da prisão domiciliar pelos insurgentes e que mais tarde se refugiou na residência do embaixador da Espanha.
Em uma operação incomum que incluiu o uso de um caminhão de reboque para rebocar seu carro, na quarta-feira passada Egdar Zambrano, vice-presidente do Parlamento, foi preso e levado a Fuerte Tiuna, o principal complexo militar da capital venezuelana.
Três outros parlamentares se refugiaram nas residências dos embaixadores da Itália e da Argentina e um outro fugiu para a Colômbia.
Na prática, a Assembleia Constituinte, que governa o país com poderes absolutos, assumiu as funções parlamentares, depois que a mais alta corte de justiça declarou o Legislativo em “desacato”.
– À espera da polícia –
Já na embaixada da Venezuela em Washington, os últimos quatro activistas americanos que seguem na sede diplomática aguardam a entrada da polícia no recinto, depois de se recusarem a deixar o local no dia anterior.
As autoridades ofereceram na segunda-feira aos activistas a oportunidade para que deixassem voluntariamente a embaixada sem a apresentação de acusações, mas estes negaram.
Há 34 dias, um grupo de americanos do Colectivo para a Protecção da Embaixada (Embassy Protection Collective) vive na sede, com o consentimento do governo de Nicolás Maduro.
O objectivo dos activistas, que denunciam a existência de um projecto de golpe contra Maduro, é impedir a entrada dos representantes de Guaidó após a partida dos últimos diplomatas venezuelanos em 24 de Abril.
“Ainda estamos aqui. Hoje é mais um dia que Guaidó não é presidente e Maduro sim. Não me importo se me prenderem”, disse Kevin Zeese, co-diretor da organização Resistência Popular.
Rafael Alfonso, chefe de operações da delegação de Carlos Vecchio, representante de Guaidó em Washington, afirmou a repórteres na segunda-feira que as autoridades notificaram os ativistas para que deixassem o prédio,
Há semanas, o governo de Maduro, reconhecido pela ONU e apoiado por Rússia e China, enfrenta Guaidó, apoiado pelos Estados Unidos e mais de 50 países. O embate chegou, inclusive, à embaixada em Washington.
Dentro do prédio estão, além de Zeese, a outra co-directora da Resistência Popular, Margaret Flowers, e dois outros activistas.
Do lado de fora, 10 venezuelanos passaram a noite em cadeiras de praia, revezando-se em seus carros para não perder o momento em que a polícia entrará no recinto.
“Estou há 13 dias aqui e sinto que é um dever patriótico recuperar nossa embaixada”, disse à AFP Oneida Caldera, de 59 anos.