Quinta-feira, Maio 16, 2024
13.5 C
Lisboa
More

    Covid-19: África a caminho da endemia

    Especialistas dizem que os confinamentos têm os dias contados. A vacinação também não progride como esperado. Por isso, poderá ser preciso aprender a viver com o coronavírus.

    É o primeiro dia de aulas após o encerramento por causa da pandemia, no Uganda.

    “Não posso abraçar as minhas amigas. É mau, mas é assim que nos protegemos”, afirma a pequena Bridget Akankwasa, que estuda na Escola Santa Maria, em Kiwatule, um subúrbio da capital, Kampala.

    Ela é umas das 15 milhões de crianças que podem voltar à escola esta semana, no país. O Uganda é o último a reabrir as salas de aula depois de fechar portas devido à Covid-19, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

    Quase dois anos depois, no entanto, poucas crianças regressaram a esta escola primária privada. O diretor Joseph Mukasa está surpreendido: “Quando tivemos de fechar a escola, tínhamos aqui 300 alunos. Mas hoje nem 20 apareceram. Espero que mais crianças venham durante a semana.”

    Especialistas em educação admitem que grande parte das crianças nos países africanos não voltará à escola: depois de a pandemia ter paralisado a vida pública, muitas tiveram de trabalhar para sustentar as suas famílias e muitas raparigas foram forçadas a casar.

    Nem todos os alunos voltaram à escola depois do confinamento.
    (Foto: ESTHER RUTH MBABAZI / REUTERS)

    Confinamentos são coisa do passado?
    Os confinamentos parecem estar a acabar em África: já não são a melhor forma de conter a Covid-19, segundo o diretor do Centro Africano de Controlo de Doenças (CDC), John Nkengasong.

    O responsável aponta como um bom exemplo a África do Sul, onde o Governo não ordenou restrições drásticas perante a recente onda de infeções desencadeada pela variante Ómicron.

    “Estamos muito encorajados com o que vimos na África do Sul, onde se olhou para os dados em termos de gravidade [das infeções]. Acabou o tempo em que utilizávamos os confinamentos rigorosos como ferramenta. Deveríamos usar as medidas sociais e de saúde pública de uma forma mais prudente e equilibrada, à medida que a vacinação aumenta.”

    Porém, menos de 10% da população de África está totalmente vacinada contra o coronavírus, de acordo com os últimos números do CDC.

    Porém, menos de 10% da população de África está totalmente vacinada contra o coronavírus, de acordo com os últimos números do CDC.
    (DR)

    John Nkengasong diz que a Covid-19 se pode tornar endémica no continente, dado o ritmo lento da vacinação, uma perspetiva partilhada por cientistas em todo o mundo – o vírus estará sempre presente na população a algum nível, à semelhança da gripe ou da varicela.

    “É uma enorme possibilidade. Não acredito que consigamos atingir taxas de vacinação mais elevadas”, diz Angelique Coetzee, presidente da Associação Médica Sul-Africana.

    O problema não é só conseguir as vacinas, mas também a logística e a distribuição, acrescenta Coetzee.

    Há, no entanto, outras soluções além da vacinação: máscaras, distanciamento físico, comprimidos e sprays nasais, sugere a médica que ajudou a descobrir a variante Ómicron na África do Sul.

    Muitos governos suspenderam os voos de países africanos depois da África do Sul descobrir a variante Ómicron.
    (Foto: Alberto Pezzali / AP Photo / picture alliance)

    Restrições a viagens não são necessárias
    Não fazer nada e deixar a pandemia seguir o seu curso está fora de questão, alertam os virologistas: o preço a pagar seria um elevado número de doenças graves, sequelas e mortes.

    Yap Boum, representante regional para África do Epicentre, o braço de investigação dos Médicos Sem Fronteiras, aponta um dos desfechos possíveis, com a prevalência da Ómicron: “Se tivermos estabilidade e não surgir outra variante, esta pode tornar-se predominante, com sintomas muito leves ou mesmo assintomática, o que significa que podemos aprender a viver com ela”, afirma em entrevista à DW.

    Sobretudo idosos e doentes devem vacinar-se, também antes de viajar, diz Boum. Mas o camaronês não acredita que, a longo prazo, sejam necessárias restrições a viagens. “Porque, se a Covid-19 se tornar endémica, as pessoas podem apanhar a doença em qualquer lugar, mesmo que seja um número pequeno de pessoas. Este poderá ser o novo mundo pós-Covid.”

    Publicidade

    spot_img
    FonteDW

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Excesso de capacidade na indústria siderúrgica da China se espalha para os mercados de exportação

    Uma investigação do Ministério do Comércio da Tailândia poderá ampliar as medidas anti-dumping contra bobinas de aço laminadas a...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema