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    Vitória de Lula com sabor a derrota. “É uma questão de tempo”, mas Bolsonaro acredita

    Os resultados das eleições de domingo deram a vitória a Lula da Silva e uma nova oportunidade a Jair Bolsonaro. A um mês da segunda volta, o antigo chefe de Estado acredita que a vitória é uma questão de tempo, enquanto o atual diz que vai usar a pandemia como trunfo.

    Lula obteve pouco mais de 48% dos votos e Bolsonaro menos 4,5%. De acordo com a The Economist, foi uma “vitória com gosto de derrota”, com a revista a destacar que Bolsonaro se saiu melhor do que o esperado e que muitos dos seus aliados foram eleitos para o Congresso.

    Num discurso em São Paulo, horas depois das resultados terem sido divulgados, Lula afirmou: “sempre achei que a gente ia ganhar estas eleições e quero dizer a toda a agente que vamos ganhar estas eleições. Isto para nos é apenas uma prorrogação”.

    A vitória de Lula na segunda volta não é só afirmada pelo próprio. Desde que a democracia foi novamente introduzida no país, em 1989, quem ganhou na primeira volta, ganhou também na segunda. E Lula, tanto nas vitórias de 2002 como de 2006, foi ao segundo turno.

    “Eu disse que a gente retornaria e retornaria com mais força. Vocês sabem que o nosso país está pior, que a nossa economia não está boa, que a qualidade de vida não está boa, que a habitação não está boa, que o emprego não está bom, que a saúde não está boa e que precisamos de recuperar este país também do ponto de vista das relações internacionais”, continuou Lula.

    Na sua opinião, a debate que terá em breve com Bolsonaro servirá para perceber se este continuará a “dizer mentiras para o povo” e será uma “a primeira oportunidade de fazer um debate ‘tête-à-tête’ com o Presidente da República”.

    “É uma segunda ‘chance’, aquele debate não valeu muito. É uma ‘chance’ de poder debater só com ele. De poder comparar o Brasil que ele construiu e que nos construímos”, apontou ainda, sublinhando que, “para desgraça de alguns”, ainda tem “30 dias para ir para a rua”.

    “Adoro fazer campanha, adoro fazer comício. São Paulo será um grande palco de um confronto nacional e estadual”, frisou, referindo que, no período em que esteve preso, “era tido como um ser humano que estava fora da política”.

    Mas para garantir a vitória na segunda volta, Lula terá que garantir apoios. Com o PDT de Ciro Gomes – que alcançou 3% dos votos – e com o MDB de Simone Tebet – que reuniu 4%. Pode também ir buscar o apoio do centro-direita que se recusa a apoiar Bolsonaro, como é o caso do PSDB.

    De acordo com o Folha de S. Paulo, para que tal aconteça terá que garantir o apoio de figuras de proa do PSDB, como o senador Tasso Jereissati e Eduardo Leite. O outro passo é namorar Simone, oferecendo-lhe um ministério em troca de apoio, avançou o Estado de S. Paulo.

    Antes das eleições, as sondagens indicavam que, em caso de segunda volta, os eleitores de Ciro e Simone apoiariam Lula – 38% dos eleitores do primeiro e 34% dos da segunda tinham o antigo chefe de Estado como segunda opção.

    Outro dos pontos-chave passará por encostar o seu programa eleitoral o mais ao centro possível. Na noite de domingo, o Globo referiu que a campanha de Lula terá agora de “fazer mais definições programáticas e de equipa” e que o candidato a vice e antiga figura histórica do PSDB, Geraldo Alckmin, “ganha peso” na campanha.

    No Senado, as maiores bancadas estão agora à direita (PL de Bolsonaro e União Brasil). Além disso, vários ex-ministros bolsonaristas venceram eleições para o Senado e para a Câmara dos Deputados, como Damares Alves, Ricardo Salles, Sérgio Moro e o vice-presidente Hamilton Mourão.

    Brasil “é o melhor” na construção da economia
    Para recuperar terreno, Bolsonaro indicou no seu discurso que, na segunda volta, terá de lembrar as políticas aplicadas durante a pandemia. “Levando-se em conta os grandes países do mundo, é o que melhor se está saindo na construção da economia. O Brasil comprou 15 milhões de dólares de vacinas para quem se sentiu no dever de se vacinar”, notou.

    Em São Paulo, depois de conhecidos os resultados, assumiu que vê no povo brasileiro a “vontade de mudança”, mas que “há mudanças que podem vir para pior”.

    “Vencemos a mentira no dia de hoje”, anunciou, em referência às sondagens que devam Lula acima dos 50% dos votos.

    E continuou: “temos uma segunda volta pela frente onde tudo passa a ser igual, o tempo para cada lado passa a ser igual e nós vamos mostrar melhor para a população brasileira, em especial a classe mais afetada, que a consequência da política do ‘fique em casa’ [medidas anticovid-19], da economia, a gente vê depois, é consequência de uma guerra lá de fora e de uma crise ideológica também”.

    “Nós só temos dados positivos. Existe um sentimento na população que a vida ficou igual ao que estava antes da pandemia, ficou um pouco pior. E a tendência é sempre procurar um responsável, neste caso o chefe de Executivo. Neste segundo turno, vamos mostrar que a mudança que eles estão buscando vai ser pior”, reforçou.

    Bolsonaro acredita nas alianças que o partido é capaz de fazer para ganhar as eleições, indicando que terá “muita coisa boa para apresentar” e citando a deflação, a descida do preço da gasolina e a diminuição da violência.

    Lula vence em Portugal
    Em território português, Lula venceu nos três círculos eleitorais. Com 96,55% dos votos em Lisboa apurados no momento em que estes resultados foram avançados, o partido dos trabalhadores (PT) contabilizava 61,55% dos votos (11.816), Bolsonaro 30,61% (5876), Ciro Gomes 3,82% (733) e Simone Tebet 2,72% (523).

    No Porto, quando o apuramento dos votos estava nos 94,87%, Lula detinha 60,48% dos votos (8471), Bolsonaro 30,03% (4206), Ciro 4,93% (690) e Simone 2,85% (399).

    Já em Faro, com 100% dos votos apurados, Lula venceu com 49,13% dos votos (873), enquanto Bolsonaro conquistou 41,08% (730) e Ciro 2,23% (93).

    Sónia Guajajara – a primeira indígena eleita
    Sónia Guajajara tornou-se no domingo a primeira mulher indígena eleita como deputada federal pelo estado de São Paulo. “Vamos aldear mentes e corações, e construir um novo Brasil”, escreveu no Twitter.

    Na última semana, a ativista foi nomeada finalista do Prémio Sakharov, ao lado do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy.

    São Paulo, nós conseguimos!

    A primeira mulher indígena eleita como deputada federal por SP vai aldear o Congresso Nacional.

    Muito, muito obrigada pela confiança!

    Vamos aldear mentes e corações, e construir um novo Brasil.

    Seguimos juntes! pic.twitter.com/vHSmfcICyY

    — Sonia Guajajara 5088 (@GuajajaraSonia) October 2, 2022

    Em 2021, liderou uma iniciativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) que acusou o Governo de Bolsonaro de genocídio da população nativa no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, nos Países Baixos.

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