Domingo, Maio 5, 2024
17.2 C
Lisboa
More

    Tráfego entre Lobito e Benguela está nos carris

    A linha Lobito-Benguela paralisada desde 2002, está desde segunda-feira reaberta. O ministro dos Transportes, Augusto Tomás inaugurou a sua reabertura, um passo que vai permitir uma maior fluidez no transporte de pessoas e mercadorias a preços baixos entre as duas localidades.
    Foi também inaugurada a estação ferroviária do CFB em Benguela, construída de raiz no âmbito do processo de modernização e reabilitação das infra-estruturas ferroviárias. O ministro dos Transportes procedeu à inauguração na presença dos ministros Afonso Kanga e Abrahão Gourgel. A ministra Ana Dias Lourenço e o Secretário de Estado Kiala Gabriel também marcaram presença num acto que serviu de ante câmara para a inauguração da circulação do comboio entre Benguela e o Huambo.
    O arcebispo de Benguela fez a tradicional bênção das carruagens, pintadas com as cores da Bandeira Nacional, num ambiente de clara satisfação dos munícipes.
    O comboio vai ajudar ao desenvolvimento das regiões ao longo da linha, promovendo a coesão, o fortalecimento das trocas comerciais e o escoamento de produtos do campo. A visita de ontem do ministro Augusto Tomás marca o início das viagens de comboio até ao Huambo, após de ter ficado paralisado desde Outubro de 1992, por causa da guerra.
    Para o ministro dos Transportes, o retorno do comboio ao Huambo marca o início de uma nova etapa no desenvolvimento do sector dos transportes ferroviárias. Depois do Huambo, o comboio vai em breve apitar nas províncias do Bié e Moxico e permite a ligação com o Porto do Lobito e o futuro Aeroporto Internacional da Catumbela. “Esta etapa representa claramente um impulso importante na vida dos angolanos e no desenvolvimento”, disse, reconhecendo existirem dificuldades financeiras que conduzem em muitos casos, ao abrandamento dos projectos. “Situações do género fazem com que tenhamos de trabalhar de modo pausado”, referiu Augusto Tomás, numa breve intervenção na nova estação de Benguela.
    “Não há milagres, Temos de continuar a trabalhar, numa altura em que faltam 1.347 quilómetros de linha-férrea por construir do Huambo ao Moxico.
    Relativamente ao desenvolvimento, Augusto Tomás disse que a reabertura da rota ferroviária Lobito-Huambo, passando pelo Bié e posteriormente Moxico, vai facilitar o crescimento económico destas regiões com o transporte de pessoas e mercadorias.

    Recentemente, a província de Benguela recebeu 130 autocarros, no âmbito do reforço dos transportes públicos, e 106 camiões.
    O Caminho-de-Ferro de Benguela foi fundado em 1903.

    Relançamento até ao Huambo

    As mudanças chegaram ao Huambo e os sinais de progresso são cada vez mais evidentes. Com o relançamento da circulação ferroviária na linha Lobito-Huambo, o crescimento económico é impulsionado com a facilidade nas trocas comerciais entre as duas províncias.
    O maquinista Manuel Macedo destaca a importância deste meio de transporte ferroviário: “o comboio é fundamental para o desenvolvimento das províncias do Planalto Central e do seu povo. Há povoados encravados que vão precisar do comboio para conhecer algum crescimento”, disse à nossa reportagem.
    Manuel Macedo, maquinista do CFB há mais de 40 anos acrescentou: “não tenhamos dúvidas, com este passo, o Huambo está na rota do desenvolvimento”.
    A circulação do comboio, disse, é uma necessidade para Angola mas também para os países vizinhos. As regiões que vão do Kwanza até ao Luena vão ser beneficiados em grande medida pelo comboio. Temos também casos de países encravados como o Congo e a Zâmbia, que vão igualmente beneficiar deste meio.
    Na estação de Benguela estava o velho Ernesto, camponês associado numa cooperativa. Perguntámos-lhe o que significava aquele momento. Respondeu que os dias de dificuldades no escoamento de produtos do campo para a cidade têm os dias contados. “Agora poderemos levar a nossa produção para a cidade sem muitas dificuldades e sem gastar tanto dinheiro”, disse. E acrescentou: “a nossa vida, enquanto camponeses e membros de cooperativas, vai mudar com a chegada do comboio”.
    Partimos à meia-noite do Cubal em direcção à província do Huambo. Às 6h15 estávamos no coração da cidade do Huambo, marcando assim o inicio da circulação do comboio do Lobito ao Huambo, há muito interrompida.
    O comboio passava por aldeias e vilas, apitando. Milhares de pessoas acenavam felizes. Sabiam que em breve as suas vidas vão melhorar. Gonçalves Joaquim, residente na província do Huambo, diz que com a chegada do comboio, os produtos do campo e mesmo os importados que chegam à cidade através do Porto do Lobito, vão conhecer uma significativa redução de preços: “O comboio transporta em grandes quantidades e é barato. Se é assim, então não tem como o preço final dos produtos ser alto”, concluiu.
    Irene da Silva sente que com a chegada do comboio à província do Huambo e posterior rumo ao Bié e finalmente ao Moxico é um bom sinal para estas províncias.

    Uma vida de ferroviário

    O maquinist, Manuel Macedo, ainda no activo, tem uma vida dedicada à actividade ferroviária. São 40 anos, entre altos e baixos, momentos memoráveis e amargos. Dos tempos das locomotivas a vapor às máquinas diesel, as actuais, Manuel Macedo está optimista quanto ao futuro. Lembrou que em 1975 frequentou o curso de maquinista de locomotivas diesel. Hoje é chefe do departamento de serviço de tracção e material, que regula o tráfego de comboios entre as diversas localidades. De lá para cá, diversas situações se passaram. Umas boas e outras nem por isso. “Tenho saudades do tempo em que nos encontrávamos nas casas de passagem e reportávamos sobre o comportamento das locomotivas ao longo da linha”.
    Somos, recordou, os sobreviventes desse mau bocado que o país atravessou por força da guerra. De 1973 a 1977 esteve no Luau como maquinista. E mais tarde trabalhou entre Luena e a  fronteira da RDC e depois entre Luena e Munhango. Em 1977 foi para o Lobito e daí para o Huambo. O Luau, antiga Teixeira de Sousa, foi o local mais marcante para Manuel Macedo, que deseja que os comboios comecem a sua circulação normal no mais curto espaço de tempo.
    As oficinas da CFB no Huambo ocupam 16 hectares. São um gigante adormecido e aba ndonado. Manuel Macedo lembrou que já houve tempo em que se fabricavam duas mil peças para o material circulante e locomotivas. Desde finais dos anos 80, altura em que os comboios pararam, a oficina adormeceu. De lá para cá nunca mais acordou.
    Afonso Comandala é outro maquinista que carrega um forte optimismo por causa do relançamento do comboio. Exerceu a profissão durante 45 anos. Neste longo trajecto viveu bons e maus momentos. Hoje tem esperança de que os dias vão ser de progresso para os munícipes da província de Benguela, Huambo e num futuro breve do Bié e Moxico. “Temos razão para o optimismo”, disse.

    Historial

    Além de percorrer uma vasta área do território nacional, o Caminho-de-Ferro de Benguela constitui uma importante via de escoamento de produtos e bens para os países que não beneficiam da costa marítima. Do tráfego drenado para o litoral, consta especialmente minério, cobre, cobalto, manganês e zinco vindos da República Democrática do Congo e da República da Zâmbia.
    Do tráfego fazem também parte produtos agrícolas oriundos do interior do país, combustíveis, material de construção, conservas, sal e peixe. A empresa do Caminho-de-Ferro de Benguela foi fundada em 27 de Novembro de 1902, por Decreto que autorizava a concessão de terras para a construção da uma linha férrea do Lobito à fronteira Leste de Angola com a República Democrática do Congo e da Zâmbia. O contrato de concessão foi outorgado no dia seguinte entre o Governo português e o cidadão britânico Robert Williams, a quem foi concedido o direito de construir e explorar o caminho-de-ferro por um período de 99 anos.
    O CFB atingiu, em 1973, um valor de transporte estimado em 3.279.439 mil toneladas, incluindo o tráfego internacional. Com o início da guerra civil, em 1975, a exploração ferroviária de tráfego internacional foi suspensa.
    Em Novembro de 2001, cessou o contrato de concessão e o Estado angolano ficou na posse do Caminho-de-Ferro de Benguela, com todo o seu material fixo e circulante. O CFB passou a ser gerido por uma comissão de gestão.

    Fonte: Jornal de Angola

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Presidente Joe Biden propõe nova embaixadora para Angola

    O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, anunciou a sua intenção de nomear Abigail L. Dressel...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema