As situações de stress agudo, como a de assistir um filme de terror, levam o cérebro a lembrar-se de más experiências e a reorganizar o seu modo de funcionamento, revelou ontem um grupo de pesquisadores da revista “Science”.
De acordo com o director do estudo, Erno Hermans, da Universidade de Nova Iorque, “o stress agudo altera a forma como o nosso cérebro funciona”. “A mudança de estado cerebral pode ser entendida como uma redistribuição estratégica dos recursos que são vitais quando a sobrevivência está em jogo”, explicou o investigador.
Quando o cérebro se altera, disse, os sentidos aguçam-se e o medo cria um estado de alerta que fortalece as lembranças das experiências stressantes, além de prejudicar a capacidade de análise da vítima. Este tipo de estudo, realizado anteriormente com diversos animais expostos a stress agudo, marcou um avanço sobre as reacções neuroquímicas, por libertarem hormonas e neurotransmissores capazes de alterar algumas propriedades celulares e de grande escala em neurónios no cérebro.
“A activação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que resulta no aumento da liberação sistémica dos corticosteróides, é o selo distintivo da resposta à tensão”, frisou a equipa de Erno Hermans, além de esclarecer que o bloqueio do cortisol não influencia a reorganização da rede cerebral. “Mostramos que a actividade neuromoduladora noradrenérgica na primeira fase de resposta à tensão provoca uma reorganização de recursos neuronais. Estes estabelecem uma rede que contém áreas envolvidas na reorientação da atenção, no aumento do alerta perceptivo e no controlo automático neuroendócrino”, acrescentou.
Os cientistas expuseram os participantes a materiais cinematográficos agressivos e de outros tipos para comparar as reacções cerebrais e analisar os compostos salivares em cada uma das situações.
Outra das conclusões do estudo é que as situações de stress agudo tornam difícil deliberar lentamente, enquanto se activam no cérebro as regiões implicadas na atenção e no alerta, assim como no sistema neuroendócrino. A pesquisa foi realizada com 80 voluntários.
Fonte: JA